REFLEXÕES - 1
" Que cada um pense o que quiser e diga sempre o que pensa", foi o que Espinosa proclamou no séc.XVI e que causou problemas à sua própria sobrevivência.
Ainda hoje dizer o que se pensa continua a ser um exercício de coragem e há muita gente, mesmo aqui entre nós, que não o pode fazer.
A cidadania exerce-se pela liberdade de expressão, através da qual cada um de nós pode e deve participar para a formação da opinião publica, a "vontade geral" de que falava Rousseau. Não quero entrar numa prosa de "intelectualite" citando filósofos uns atrás dos outros, mas parece-me que apoiar as ideias em quem, muito tempo atrás e com autoridade, já o fez, ajuda a cimentar as nossas convicções.
E é inevitável ir buscar aos clássicos as origens do desenvolvimento de ideias que parece que as descobrimos agora, procurando também descodificar a linguagem rebuscada, porque tem de ser rigorosa, dos eruditos.
Entre nós, é este o meu sentimento, existe muita informação mas pouca formação; a escola é parca a ministrar conhecimentos das humanidades e da cultura geral, em todos os níveis de ensino, e por isso a grande maioria da opinião publica, mesmo entre os mais informados, é pouco formada; e esta falta de formação é, penso eu, uma das grande falhas dos novos tempos de democracia. Quarenta anos depois de implantado o regime democrático seria de esperar que tivéssemos uma população com um nível de cultura geral capaz de ombrear com a maioria dos países europeus mais avançados.
Mas não temos.
As gerações que em 74 estavam nos escalões etários activos tinham sido vítimas da mediocridade cultural e política do regime anterior, e só uma minoria estava em condições de praticar uma democracia consciente e eticamente válida. Isto é particularmente chocante porque os portugueses revelaram sempre ao longo dos séculos, excepcionais capacidades de captar conhecimentos e de os difundir pelo mundo - faltaram nas décadas anteriores as elites dirigentes e culturais capazes de enquadrar e dinamizar a sociedade.
Para uma opinião pública culturalmente formada significaria, em meu entender, que desde a escola primária se começassem a "formar" as personalidades na diversidade de cada um mas no confronto com as grandes questões da cultura geral : ter acesso ás noções de civismo. de ética, de compreensão da complexidade ambiental, do sentido da liberdade responsável.
A cidadania responsável que eu tenho como objectivo de vida deve ser praticada no quotidiano, reflectindo sobre a origem e a evolução das virtudes do Homem : o amor pela liberdade, o exercício´ da democracia , a interiorização do conhecimento. Como dizia Gandhi, viver cada dia como se fosse o último, mas estudar e aprender como se fosse o primeiro.
A democracia que eu gostava de viver está ainda muito longe de ser alcançada.
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