quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

 A Rússia e o mundo

Continuo convencido que a Rússia não entrará em guerra através de uma invasão da Ucrânia. Já escrevi e volto a repetir: já vimos ditadores arrastarem os seus países para o descalabro com guerras que os arruinaram e Putin não é outra coisa senão um ditador em estilo moderno, como de resto tanto gostam as ideologias agora chamadas de nacionalistas, populistas e outros adjectivos- isto é que se servem da democracia liberal para elegerem os seus títeres e estes, mal chegam ao Poder, alteram todas as leis que permitiriam eleger outros; prolongam  ad eternum a sua presença no poder, enfim, musculatura, censura  e outras manigâncias da ditadura.

Mas este cavalheiro, formado na mentalidade da União Soviética, tendo sido um dos chefes dentro do KGB, não mudou para democrata a meio da sua vida, ninguém deveria ter acreditado nisso - mas não é desprovido de sentido da oportunidade e sabe que a Rússia nesta altura não tem poder para aguentar uma guerra que envolveria não apenas a Ucrânia mas a Europa e os EUA-  tentou foi apalpar, se fosse "mole" como foi com a Crimeia em que apanhou todos desprevenidos, talvez avançasse, mas  se encontrasse escolhos no caminho recuava, e é  isso que ele faz.

Por outro lado numa altura em que no mundo se estava a polarizar entre os EUA e a China ele sentiu, com o seu ego concentracionário  e imperialista de nascença, que a Rússia ia ficando para trás em protagonismo - era preciso fazer alguma coisa para a colocar e a ele de novo  no centro das preocupações mundiais.

Quando ele declara que a queda da União Soviética foi a maior tragédia do seculo XX estava a dizer o que pensa a fazer para repor a hegemonia da Rússia e recompor o seu império de países submetidos e submissos. Como já disseram alguns comentadores e eu estou plenamente de acordo, o que a Rússia  teme não é tanto a militarização dos países vizinhos, o que ele teme é a democracia a instalar-se  e a sedimentar nesses países . O  pior exemplo que pode acontecer para as suas perspectivas imperialistas da Grande Rússia  é o contágio da democracia dentro das suas fronteiras.

Pode ser que eu me engane, mas a Rússia enterrar-se numa guerra que desta vez acontecerá  ( e não aconteceu com a Crimeia) se invadir a Ucrânia ou a fustigar de fora com armas pesadas, pode até ser o fim da Putin.

O modelo russo de Putin é o ideal para Hungria. Polónia, Turquia, e tantos  outros países onde a mentalidade democrática, como a vivemos na Europa Ocidental, é reduzida. Já Trump tinha boas relações com Putin, agora Bolsonaro e não faltarão candidatos a senhores feudais no século XXI para fazerem o mesmo.  Somos uns privilegiados por sermos capazes de viver a nossa liberdade e a nossa democracia, por isso que fenómenos como o Chega e o Vox em Espanha são as larvas do bicho ditatorial que quer crescer e tornar-se borboleta - um sinal do tempo errático que vivemos com a perda de ideologias democráticas limpas e honestas, sem clientelismo nem corrupção.

Daqui devermos estar atentos a uma maioria absoluta do PS com tudo o que ela pode acarretar de abusos e de ocupação do aparelho do Estado, e como isso fará crescer os apêndices como o Chega ou IL, ambos perigosos em modo diferente... 



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