A guerra inútil e perversa
Todas as guerras são inúteis e perversas, porque significam que os homens em vez de dialogarem se matam uns aos outros - mas há guerras que têm de ser feitas quando a nossa sobrevivência está em causa. Nesses casos a nossa guerra de defesa deixa de ser perversa e pode ser útil... Claro que cada lado adverte que a sua causa é útil e boa mas há valores universais que se sobrepõem à vontade de quem decide a guerra.
Nós, portugueses, ao longo de quase 900 anos travámos muitas guerras porque não nos queriam dar aquilo que nós tínhamos de sagrado - a liberdade e a independência, e estes são valores universais e comuns não apenas aos seres humanos mas a todos os seres sencientes, aqueles que pensam e/ou que sentem. Não há nenhum bichinho, por mais humilde que seja, que não aspire à sua vida livre, sem peias, a não ser aquelas auto-consentidas que justificam a sobrevivência.
Nós também fizemos guerras perversas e inúteis porque as fizemos quando já havia consciência universal ao direito de todos os povos para se auto-administrarem. Eu não desconheço o colonialismo que de resto foi praticado durante séculos por todos os povos com poder para isso, de todas as religiões e continentes. Por isso não alinho na denúncia, que acho pateta, de querer revisitar a História com os olhos e as ideias de hoje- diferente é, em pleno século XX, com todo peso da nossa civilização e da nossa cultura, termos querido travar a História e manter territórios ocupados por nós sem a sua autodeterminação - isso é que foi criminoso. Já tratei desse assunto noutra altura, aqui veio a talho de foice.
Esta guerra que Rússia faz contra a Ucrânia é uma guerra inútil e perversa. Inútil porque mesmo que Putin leva a sua avante, será sempre a prazo; perversa porque é um regime despótico, czarista, antidemocrático a querer impedir a descolonização de um país que historicamente foi sempre jogado como moeda de troca, querer impedir que mantenha a sua independência e a sua liberdade. É como a Espanha continuar a pisar os bascos e os catalães que, historicamente, sempre lutaram pela sua independência e bem gostava de também anexar Portugal em nome da unidade espanhola - bem, o tentaram ao longo dos séculos..._ Há assim grande diferença entre esta situação e a da Ucrânia face aos russos?
Por isso, em ternos caseiros, chegou a altura de pôr tudo em pratos claros : o PCP apoia a invasão da Ucrânia pela Rússia, quando faz parte da sua história terem-se sempre oposto ao colonialismo. Agora com Putim é diferente... O PCP guarda uma secreta esperança... de que um comunista, que o foi toda a vida, ao leme do KGB ( não se manda pela borda fora uma vida e um sentimento destes), que denunciou como a maior tragédia da Europa a queda da URSS, a esperança é de que ele volte a reconstruir a União Soviética, o Sol bem alto que ilumina o mundo... Portanto ficámos a conhecer a manhosice do PCP quando defende as amplas liberdades para os trabalhadores e o povo. Putin foi eleito em democracia por leis democráticas que vigoraram na Rússia só enquanto ele não assumiu o Poder- a partir dai, como todos os ditadores da esquerda e da direita, fez a revisão das leis e repôs a pouco e pouco a "democracia popular" com que baptizou, logo à nascença, as 2 novas republicas roubadas à Ucrânia. Que bom seria o mesmo para Portugal, hem?
Não me venham com as patranhas sobre a agressividade da NATO e dos EUA, as calamidades que os americanos já provocaram no mundo - a guerra suja do Vietnam, as intervenções na América do Sul, a invasão forjada na mentira do Iraque, o fiasco do Afeganistão, etc, etc. - para justificar agora o direito da Rússia de atentar contra a soberania da Ucrânia. Se condenamos energicamente os EUA ( e lembrando que metade dos americanos votaram em Trump e o apoiam...) não podemos com honestidade juntar qualquer favorecimento a Putin e à sua guerra perversa e inútil - porque acredito que a Ucrânia reviverá, como reviveu Portugal e um dia há-de reviver a Catalunha.
E vejam na ONU quem é que votou a favor dos Russos... A ONU pouco ou nada faz, mas pelo menos representa a opinião da globalidade das nações do mundo - veja- se a manhosice da China, que se abstém e as "poderosas democracias" que votaram contra Putin...
Daria para mais, mas estou apertado de tempo, Hei-de regressar ao assunto...
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