Crónica da sociedade (3)
Vale a pena reparar na cimeira que se realizou na Rússia há pouco, juntando os BRICS e uma data de outros países designados como observadores. Foi fundamental para quebrar o isolamento de Putin, mas terá outras consequências.
São todos países de regimes autocráticos ou iliberais, mas representam uma boa fatia da população do Mundo, embora apresentando contradições que não são fáceis de explicar. Começa logo pela India e a China, adversários inconformados um com o outro, entre um regime mais ou menos democrático, herança dos ingleses, mas cada vez mais autoritário e outro dito marxista - mas onde está a luta do proletariado? e o nascimento, como cogumelos em terra húmida, de centenas de oligarcas podres de ricos, é comunismo?
Depois o Brasil, onde a democracia populista do Lula é a única forma de rejeitar o bolsonarismo da direita reaccionária- também vai alinhar com a criação de uma moeda opcional ao dólar? E então no que depende dos EUA, vai deixar de usar o dólar?
Mas chamados como observadores estão países que dependem sobretudo do Ocidente, como os Emiratos e a Arábia Saudita, monarquias obsoletas e que nada têm a ver com a democracia mas que dependem do Ocidente para os negócios do petróleo além de que têm nas suas mãos uma boa parte da dívida americana, de resto como a China.
Mais estranha ainda é a posição da Turquia, que tendo um regime cada vez mais conduzido pela religião e pela autocracia, no entanto pertence à ... NATO. Vai alinhar com os BRICS ? Claro que o poder primeiro bipolar entre os EUA e a URSS, depois quase unipolar dos americanos, não poderia durar muito ; a China aparece como o novo polo mundial e aí quer entrar a Rússia, nitidamente enfraquecida onde o czar Putin quer entrar na corrida e já que não pode assumir sozinho esse lugar. ao menos reparti-lo com os chineses...
Parece cada vez mais evidente que as tomadas de posição dos EUA na guerra suja que Israel está a cometer na Palestina e ainda pior no Líbano ( um país independente que nem arrisca retaliar para se defender porque seria despedaçado) afasta muitos países que sempre estiveram do lado do Ocidente. E ressalta também nesta situação a inacção da Europa que não faz nada porque, por um lado está pendurada nos americanos ( se Trump ganhar manda os europeus bugiar...) e por outro lado não existe uma estratégia comum a todos os membros da EU. Nem sequer politicamente vemos qualquer posição séria dos países europeus contra a guerra promovida pelos sionistas .
Assistimos mais uma vez no Mundo a uma época de reforço dos regimes autoritários e torna-se cada vez mais um privilégio viver em democracia, democracia sem outro adjectivo, pois já conhecemos pelo menos duas: a democracia "popular" dos países comunistas e a democracia "orgânica" do velho Estado Novo. A primeira só admitia o Partido único e foi o alfobre de oligarcas que se encheram de dinheiro do povo, e a segunda, que também só admitia o Partido único, foi a que encobria a corrupção de pessoas do regime e colocou o país, Portugal, na cauda dos países da Europa de onde tem sido difícil sair...
Custa a entender que haja tanta gente, até entre nós, e pessoas inteligentes mas, no fundo, assustadas com a concorrência dos outros, que prefere um regime em que anda tudo calado excepto nas loas aos próceres do poder, a um regime de liberdade em que todos podem defender as suas convicções dentro da responsabilidade que a verdadeira liberdade exige.
E não podemos fugir a esta expectativa: esta semana nos EUA, que tem sido um suporte indispensável, pelo seu poder, da democracia ocidental , se o histriónico Trump ganhar as eleições os países ocidentais ficam em apuros; a Europa que sempre foi a origem dos valores democráticos, embora demasiado confiante no poderio militar americano, vai entrar em convulsão com a a ascensão dos populistas pró Trump e quejandos que ganharão força nos tempos difíceis que aí virão.
Esta palavra "populismo" que foi recentemente inventada dá muito jeito...
...
A guerra lançada pelo czar russo contra a Ucrânia está agora a alargar-se com a chegada de milhares de soldados norte-coreanos que vêm colmatar as perdas de soldados russos, uma verdadeira calamidade para os russos - quer dizer que agora são 2 países contra um.
Pois ouvi há dias um desses generais de 3 estrelas, ( que são também majores...) que fala na televisão, a dizer, a propósito da chegada de norte-coreanos, que também há militares de países europeus na Ucrânia - quer dizer que ao douto general parece a mesma coisa haver alguns conselheiros militares europeus nos gabinetes de guerra da Ucrânia ou ter 10.000 soldados a combater.
É mais um "especialista" que costuma comentar com elogio os avanços militares dos russos e a desfazer quase sempre nas acções dos ucranianos, o que já não disfarça para que lado pende o dito douto especialista ...