terça-feira, 2 de janeiro de 2018


2018, a questão florestal continua 
- e eu ainda não me calo, acuso - 
A mensagem de Natal do Presidente da Republica. a mesma conversa do Primeiro Ministro ,  e a de todos os que sentiram mais o rabo a arder em 2017, inevitavelmente vieram com as mesmas mensagens -  que neste abrir de um novo ano  não voltará a repetir-se  aquela calamidade pois a "reforma da floresta" finalmente vai mudar a face da Terra neste rectângulo ibérico. Ora se vai ! Qual reforma ? Eu não sou masoquista ao ponto de querer o mal para o 
meu país só para eu ter razão, mas duvido das promessas feitas.  Se o passado nos dá lições para o presente e para preparar o futuro, vejamos então :
1- em Junho passado fomos surpreendidos com a dimensão e a dinâmica do fogo que nasceu em  Pedrógão e depois se estendeu a toda a região, Eu assistia pela TV e não queria acreditar no que via , conheço incêndios florestais há décadas, sei como mais ou menos evoluem, mas aquilo era fora do pensável, as frentes de fogo descontrolavam-se a uma  velocidade estonteante, que  viemos a saber ter tido como uma das  causas a situação excepcional do clima local, e dos seus ventos perniciosos,. Mas nada estava preparado para acudir com eficácia a uma tragédia ígnea daquelas.
Eu atrevo-me a dizer que se ainda existisse nessa altura . no terreno, a estrutura que as Administrações Florestais mantinham, há muitas décadas, com pessoal capaz e batido por anos e anos de experiência, talvez o saldo final pudesse ter sido diferente para melhor. Apesar da violência do evento, o certo é que não havia ninguém preparado sob o ponto de vista florestal para atacar aquela calamidade.
2 agora o que aconteceu entre Junho e os fogos de 15 de Outubro, isso então comprova ainda mais  a falta absolutamente indesculpável da estrutura florestal tradicional - e isso acuso eu !!  Naqueles meses ninguém das autoridades florestais ( que de resto não existem ...) pensou que a época de fogos ainda estava para vir, e não se fez praticamente nada. Eu passei 3 dias pela zona ardida e comentei para quem ia comigo que se viesse naquela altura alguém riscar um  fósforo ficávamos lá como os que morreram em Junho. E em 15 de Outubro arderam todos os locais onde passei 2 semanas antes,Escrevi a meio do Verão a quem não vou identificar ,  clamando por buldozzers. que  pusessem máquinas a abrir corta fogos, de emergência, aceiros e arrifes ,( que seria o que fariam os serviços florestais antes... de serem extintos), gritei afastem as madeiras das encostas, limpem as estradas - tudo isto teria sido feito se existisse a estrutura habitual que os Serviços Florestais  mantinham nas suas Administrações e que livraram o país durante décadas, dos maiores incêndios, E até hoje não se fez nada porque não há no terreno ninguém que saiba o que deve fazer - aqueles que sabem, os velhos Mestres e Guardas florestais  , os velhos Administradores Florestais,  os velhos engenheiros silvicultores, escondem a cara de vergonha por verem o estado a que chegou o país´a que eles  dedicaram vidas inteiras.
Passam os meses e ninguém assume a responsabilidade de repor a estrutura administrativa florestal que poderia permitir  controlar desde logo o estado caótico a que se chegou e depois procurar colocar ordem de novo, apoiando.se nas Universidades e nas autoridades florestais regionais e locais, Sem isso não se vai a lado nenhum, mesmo com o  experimentalismo bacoco de empresas publicas regionais para gerir a floresta ( quem as paga, quem as sustenta ?). Essas empresas vão mas é abrir muitos jobbs para muitos boys.
3 A destruição pelo fogo da Mata do Rei ou Pinhal de Leiria é por fim  o exemplo mais refinado do que aconteceu neste país desde que foi desactivada a cobertura administrativa florestal existente,  como resultado  das ideias luminosas  destes liberais de direita ou liberais socialistas , pois são todos iguais em ignorância de tudo o que vá para lá de contas de mercearia.
Eu trabalhei na mata de Leiria, tinha uma organização exemplar que servia de modelo a toda a gestão florestal do país ; de vez em quando havia um ou outro  foco de incêndio que era prontamente vencido pela estrutura implantada. Desmantelou-se essa estrutura e  em poucas horas arderam os milhares de hectares do melhor pinhal português, certamente para gáudio dos liberais, passados e presentes, que assumiram a decisão de retirar a estrutura florestal e a de não a repor enquanto era tempo ( e estes já lá estão há 2 anos a "mandar" ...)
Alguém já foi incomodado ou sequer questionado por isso ?  O Ministro da Agricultura e Florestas é o mesmo de Governos anteriores -já fez o quê para reparar a sua responsabilidade? Também os Ministros do PSD e do CDS que antecederam este,  estão todos de almas branquinhas como anjinhos!
Por tudo isto eu acuso a incapacidade sobretudo ideológica de quem decide sobre a floresta portuguesa e por isso não é capaz de  reconhecer o erro que significou o desmantelar dos Serviços Florestais sem que surgisse no seu lugar outra forma eficaz de gerir e defender a área florestal portuguesa.  Vai acabar tudo na mesma - e oxalá eu esteja enganado, claro,Para já ACUSO!!

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