quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

A tragédia da Catalunha

Em Outubro passado não deixei de falar na "tragédia" da Catalunha porque quando assistimos a um povo ser violentado na sua alma e  ser aviltado nos seus propósitos  de liberdade, é sempre de  uma tragédia que se trata. Sucedem-se os actos dessa tragédia e por muito que possamos atribuir erros de estratégia aos independentistas,  nada se compara com a  acção de força  e de vilipêndio do governo de Castela. 
Choca-me a indiferença com que os portugueses olham para o desenrolar desta luta dos catalães; admito que a hipocrisia da política e o domínio dos negócios e das politicas internacionais forcem as Autoridades portuguesas a calarem o que deviam proclamar, continuando a dizer baixinho (mesmo assim de forma audível demais...) que o problema catalão deve ser resolvido de acordo com a Constituição espanhola. 
Mas o povo português esse continua calado, ninguém se acha motivado para apoiar a luta dos catalães pela sua independência. É uma indiferença que, acho eu,  diz muito sobre os sentimentos e o egoísmo das sociedades europeia e portuguesa face ao que passa para lá das nossas fronteiras e, no caso português,  mesmo que tenha tanto a ver com a nossa própria sorte como é o caso da Catalunha.
Há dias numa das suas crónicas no Publico, Miguel Esteves Cardoso escrevia que " é triste quando uma nação depende inteiramente doutra"; e  mais à frente  "o resultado das eleições na Catalunha foi mais uma bela lição de liberdade, inteligência e democracia que o povo catalão deu a um mundo casmurro e reumático que é incapaz de perceber a independência da Catalunha como um gesto de libertação e de fraternidade".
Dos povos peninsulares só os portugueses conseguiram libertar-se, travando guerras ao longo dos séculos, e em 1640   foi graças ao levantamento simultâneo de Lisboa e de Barcelona que nós conseguimos a independência, numa guerra de mais de 20 anos, Ainda no séc. XX. é sempre bom recordar, o ditador Franco conseguiu eliminar mais uma vez a independência da Republica da Catalunha e fez "negocio>" com Hitler para, em caso de vitória, voltar a anexar Portugal.         Castela basta !!
O máximo da  hipocrisia é pois dizer-se que o problema da Catalunha tem que ser resolvido no quadro da Constituição  da Espanha, quando é claro que tal não está lá previsto e portanto não é possível!...
A única solução é a que consta no art.7º da Constituição Portuguesa no qual Portugal  condena o imperialismo,  o colonialismo e quaisquer outras formas  de agressão, domínio e exploração. E no nº3 do mesmo artigo está lá bem explícito:"Portugal reconhece o direito dos povos à autodeterminação e independência e ao desenvolvimento, bem como o direito à insurreição contra todas as formas de repressão".
Lá que o Governo e o Presidente da Republica tenham de guardar silêncio diplomático, e que a União Europeia se cale por subserviência ao governo de Madrid, é uma perspectiva do problema na sua componente de hipocrisia  e de  luta de interesses; agora noutra perspectiva,  os povos, as pessoas conscientes, individualmente e colectivamente em grupos de pressão. portugueses, flamengos, holandeses, escoceses, os nórdicos (que tanto apoiaram os movimentos independentistas) - ninguém toma posição publica a favor dos catalães!! É uma vergonha e insere-se na perda de valores em que esta sociedade mercantilista e consumidora se tornou.
E deixemos de falar de Espanha, falemos sim de Castela e dos outros povos submetidos. 
 Mas a farsa imposta por Madrid vai continuar. como continuar vai a presença de presos políticos num  país supostamente democrático da suposta democrática União Europeia... Até quando tanta hipocrisia ?!!




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