sábado, 2 de março de 2019


No passado dia 15 enviei o texto abaixo ao jornal Publico solicitando a sua publicação, o que não aconteceu até agora.  Coincidência ou não, uns dias depois o director do Publico escreveu um editorial a elogiar a política de Ambiente do Governo. Podiam ao menos  praticar democraticamente o contraditório...

Remodelação do Governo deixou

de fora

Agricultura e Ambiente…

     Esta última remodelação do Governo podia ter ido mais longe e chegado a áreas bem precisadas de uma grande volta, como Agricultura e Ambiente.
Os dinossauros do período Triássico se fossem tão resilientes como os dinossauros  da política portuguesa ainda hoje existiriam…
Custa a crer que não seja visível aos responsáveis  que estiveram por trás desta remodelação ( porque não pode ter sido apenas o Primeiro Ministro…) o estado de atraso do país em termos de desenvolvimento do interior, para onde se  continua a enviar retórica e uns anúncios de investimentos que não mudam nada do essencial.  O nosso erro enquanto país e com as governações que temos tido nas últimas décadas foi ter-se desprezado a capacidade produtiva dos nossos campos, foi não se ter sabido resistir às pressões mercantilistas e de aproveitamento de subsídios vindos da Europa para deixar de lado as pequenas e médias explorações.
Desde que há umas décadas  atrás os governos de Cavaco Silva resolveram dar subsídios  aos pequenos e   médios agricultores para deixarem de produzir, nem ele nem mais nenhum outro depois com poder de decisão foi capaz de pensar a longo prazo e  perceber que estavam a desertificar o interior.  Apenas as grandes explorações de carácter industrial passaram a merecer apoios; e os agricultores que deixaram as terras em pousio  foram aliciados para plantarem eucaliptos – foi a” época de ouro” do petróleo verde”. E as poucas vozes que falaram contra ainda foram ridicularizadas.
Com escreveu o Prof. António Covas, da Universidade do Algarve, “ o erro foi considerar a agricultura uma indústria”; até hoje não se corrigiu o erro.
Em vez de atraírem novos agricultores, gente nova que aderisse, aliciada por incentivos e repovoasse as aldeias e vilas, o que fizeram os Governos? Começou a campanha do “petróleo verde”, acabaram com os Serviços de Extensão Rural que eram fundamentais para ensinar novas culturas e novas técnicas e fomentar o associativismo que ajudaria os novos agricultores,  as Direcções Regionais de Agricultura perderam grande parte  da sua actividade que era  fundamental para,  no campo da experimentação, irem preparando novas culturas e novas variedades que se adaptem às condições que as alterações climáticas vão impor cada vez com maior acuidade – ou também não se acredita nas alterações climáticas?
É necessária à frente dos destinos da Agricultura gente nova, com ideias arejadas e sentido de futuro; não basta ter repartições a preencher papelada para os subsídios comunitários !
     Em política florestal  o desvario foi completo e chegou-se à situação de hoje. Do CDS ao PS têm estado todos de acordo : extinguiram os Serviços Florestais que tinham a sua malha de  defesa e vigilância espalhada pelo território, criaram um aborto administrativo de “tutela partilhada”,  enviaram os guardas florestais para a GNR, extinguiram as Administrações Florestais que geriam os problemas e os fogos e agora é o  pandemónio de  reformas e contra reformas da floresta, os milhões e milhões que são injectados todos os anos para tapar  buracos de organização, só para não darem a mão à palmatória e reconstruirem os Serviços Florestais que ficavam muito  menos onerosos que todos estes esquemas inventados para os substituir. Os incêndios são cada vez mais catastróficos; quando eles eram combatidos pelos guardas florestais e pelos bombeiros, nunca houve grandes conflitos, entendiam-se bem porque ambos conheciam as serras e os fogos eram apagados geralmente dentro de limites razoáveis.  Depois apareceram os senhores comandantes da Protecção Civil que parece que sabem de tudo, o Ministério da Agricultura cedeu o lugar ao da Administração Interna, os erros de comando são contínuos e – pasme-se !!- atiram as culpas sempre para os bombeiros.
A política de Conservação sempre foi um pilar fundamental do Ambiente e desde Abril de 74 que os Governos se interessaram por exercer uma governação onde as medidas conservacionistas  eram independentes da economia e transversais às demais actividades. Juntar o ICN com as suas Áreas Protegidas ao organismo de gestão das florestas sempre foi uma tentação de quem queria dominar a livre expansão do eucaliptal e outras formas especulativas de desordenamento do território. Estiveram quase a consegui-lo em 2004, mas o bom senso dos responsáveis do Ambiente da época conseguiu impedir esse  desnorte. Mas agora é o próprio PS que aprovou e bateu palmas à inovação que o CDS introduziu ao criar o ICNF  - e há um Ministério  do Ambiente cujo titular aceita ser ministro nessas condições – porquê? Porque, confessa,  não é ambientalista. Já tínhamos dado por isso…
Um Governo com convicções sobre a importância nacional do capital-sobrevivência que é o solo agrícola, sobre o papel insubstituível da agricultura na transformação da paisagem e no dinamismo do meio rural, e sobre a transversalidade e independência da Conservação para uma economia sustentável, sabe munir-se de Ministérios da Agricultura e do Ambiente capazes de prepararem o futuro do país. E isso    é conseguido com gente nova, de ideias esclarecidas. A remodelação governamental não foi tão longe como devia…

15-02-019    Fernando Santos Pessoa



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