terça-feira, 2 de julho de 2019

Militares de Abril
Salgueiro Maia
Ontem a RTP passou um excelente documentário sobre Salgueiro Maia, no dia em que comemoraria 75 anos. A morte ceifou-o cedo demais, cortando uma vida exemplar que espero (talvez  com ingenuidade da minha parte) ainda hoje seja exaltada nas fileiras militares pelo seu  exemplo dum profissional da guerra que fez a paz, e que para si nada mais reivindicou senão que o deixassem continuar a sua carreira. Nem isso deixaram que ele fizesse com a dignidade que ele deveria ter merecido, pois  nos últimos anos deram- lhe  lugares  sem prestígio, deixando-o amargurado conforme contam amigos - pois ele nunca disse uma palavra em publico nesse sentido.
A mim ninguém me tira a ideia de que deve ter sido difícil para o "espírito" corporativo da Arma a que Maia pertencia engolir ( mas não esquecer) aquela desobediência do dia 25 de Abril de 74  de um mero capitão a um brigadeiro e a outros camaradas de arma que estavam" do outro lado" -  mesmo que para a História de Portugal este fosse o lado errado.

Cavaco Silva concedeu pensão por excelentes serviços prestados à Pátria a dois ex inspectores da PIDE ( já quase ninguém se lembra disso...) mas recusou uma pensão dessas a Salgueiro Maia... E os portugueses ainda elegeram C. Silva para Presidente por duas vezes, pasme-se  ou já ninguém pasma com estas coisas!! E ainda nos admiramos dos americanos elegerem  para Presidente um especulador imobiliário!...
Houve 3 Presidentes da República que condecoraram Salgueiro Maia, incluindo o actual Marcelo Rebelo de Sousa - pena é que não tenham convidado Cavaco Silva para as cerimónias...

Ernesto Melo Antunes
Outro militar esquecido pela Democracia Portuguesa é Ernesto de Melo Antunes, o cérebro do 25 de Abril em termos ideológicos e programáticos, que ousou ir à Suécia para  tentar perceber o sucesso da social democracia de Olaf Palm. Sendo um homem de esquerda era acima de tudo democrata, e despojado de ambição de honrarias - que as merecia.  
Ele que foi o estratega do Documento dos Nove e da harmonização ideológica de muitos dos seus camaradas menos preparados  que tomavam posição contra os extremismos nas assembleias gerais dos militares, foi decisivo para a implantação da nossa democracia. .  Ele estabelecia as pontes entre os do PCP e os outros intervenientes,  foi  depois  mal aceite quer por uns quer por outros.
Ele teve a coragem no dia 25 de Novembro de 75. quando uma boa parte do país estava contra os desmandos  de Vasco Gonçalves e dos militares esquerdistas  que espalhavam a ilusória ambição de uma democracia popular  "à portuguesa", de vir à  televisão dizer que a democracia precisava de todos os quadrantes ideológicos e que por isso o PCP não seria ilegalizado como pretendia muita direita.
Por ter tido um papel decisivo, quase sempre nos bastidores,  nas negociações com os dirigentes  das guerrilhas das ex -colónias, tirou  protagonismo a outros, nomeadamente nos Partidos políticos, que nunca lhe perdoaram.
Pode  ser que um dia alguém devidamente informado venha a fazer a história daquilo que Melo Antunes realmente  representou nesse período glorioso da vida de Portugal - a queda de um  regime fascizoide e tacanho  sem se ter caído noutro extremo.  Eu tenho a excelente biografia que foi feita, mas tenho para mim que há pequenas-grandes coisas que ainda não foram escritas.
Melo Antunes - e já o escrevi em missiva a pessoa altamente qualificada para o fazer - merece uma homenagem nacional.  Fui amigo dele desde os tempos de alferes em Ponta Delgada e soube por ele logo  a seguir ao golpe falhado de Março , que iria haver outro movimento certamente vencedor - só não me disse o dia! 
Este ano, em Agosto,  passam 20 anos sobre a sua morte.

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