sexta-feira, 3 de abril de 2020

Agora é assim  - e depois disto?
A situação de crise em que vivemos em Portugal tem sido, até aqui, mais moderada do que até aquilo que se poderia esperar de  um povo dado às baldas, o que abona a  favor da nossa população. Quando é mesmo  preciso - e foi quase sempre assim,  a História mostra-o - juntamos forças e damos conta do recado.
A situação de emergência e a capacidade de António Costa para liderar com a situação está a moer a vontade de certa gente da direita que não consegue engolir a necessidade de pensar com bom senso e deixar as mesquinhices para outro tempo que há-de vir, mas na extrema esquerda também, paradoxalmente ou talvez não...
 No Parlamento quem se mostrou contra a declaração do Estado de Emergência ?-  o PCP, que depois de argumentar contra  acabou por se abster, tal como o Chega, e mesmo contra foi a IL, ou seja os que defendem o Estado máximo e os que defendem o Estado mínimo. Os extremos tocam-se como sempre. Vejam lá os comunistas que apoiam a Coreia do Norte e a Venezuela, tão preocupados  com a falta de liberdade e a defesa dos trabalhadores !! Ainda há alguns que se lembram do que foi o PCP no Governo, naqueles gloriosos tempos do PREC!! É desagradável...mas é a verdade. 
Na nossa democracia o PCP não devia duvidar que os direitos dos trabalhadores estão assegurados, embora se saiba que há alguns casos de abusos de patrões a despedirem trabalhadores. Temos de acreditar que o Estado de Direito é a garantia que a democracia ( sem ser popular, ou orgânica ou iliberal), democracia tout court, prevalece.
Os liberais  abusam desta designação, porque liberais somos todos nós, os que defendemos a democracia que temos (burguesa  para os do PCP), o que eles são ao defenderem o liberalismo são liberalistas ou libertinos.
Na ânsia de bater o "Chega" quer o CDS quer a IL têm tomado ao longo do tempo  atitudes parvas e não conseguem deixar de mandar remoques para marcarem posição. Telmo Correia parece que não aprendeu que o discurso truculento deu o que deu com a anterior líder Cristas, outros com voz mais baixa vão deixando as suas farpas e até ultrapassam o Ventura. Paulo Portas na TVI dá aulas de como fazer a governação, sempre com as suas farpas, e esquecendo que muito do que sofremos agora se deve ao período em que ele esteve no Governo com o PSD, porque repercute-se anos depois - porquê ? porque em vez de chamar repugnante ao discurso neoliberal dum europeu estúpido, até achava, ele e o seu governo, que era preciso ir além da troika- ou já se esqueceram? Um dos expoentes da estupidez neoliberal que começa a movimentar-se (movimenta-se porque percebem que a sua sorte está a sair furada , as populações mais esclarecidas, depois desta crise passar,  não aceitam aquelas regras do mercado sem regras), é o cronista medíocre J M Tavares que continua a ser pago para deixar baboseiras no PUBLICO. Há dias dizia sobre o facto de Manuel Alegre e outros poetas escreverem  poesia  em tempo de coronavírus," não precisamos de poesia, precisamos é de acção", "cada um entretém-se como pode", "aquilo que o pais mais precisa não é de metáforas" (sabe lá ele o que são metáforas!!...). Foi para medíocres destes que alguém  que foi grande nesta terra escreveu " ó subalimentados  do sonho!, a poesia é para comer". mas ele é mesmo um exemplo do subalimentado cultural. Para concluir que é mesmo um parvo(*) o cronista minorca deixou mais uma pérola jornalística a pedir datas, quer uma data para saber quando é que acaba a crise do coronavírus, " precisamos de datas, datas, datas - não só de testes, testes, testes".  Já perdi demasiado tempo com este minorca, mas é para recordar que aqueles que se auto-intitulam de liberais ( não sou de direita nem de esquerda, sou liberal..:), libertinos afinal, começam a ficar de cabeça perdida. Até já  pedem que o Estado deixe de ser mínimo e intervenha- e depois aqui d'el rei que a esquerda está a gozar com os liberais a pedirem mais Estado...
E a direita em geral que se cuide. Se não for capaz de readquirir  os valores da direita democrática e social, acabará por gerar os Orban, os Trump e quejandos que aí estão. 
Mas a esquerda que se deixe também de exigências  politiqueiras e fora do contexto, a sociedade cá está para  quando for necessário e possível recuperar direitos agora  suspensos - claro que é sempre um risco suspender direitos democráticos, é forçoso que todos estejam atentos mas contidos.

O que é que virá depois desta pandemia passar? As epidemias , que por vezes se alargam para pandemias, são fenómenos que a Natureza utiliza para limpar, para reordenar os seus equilíbrios, tal como desencadeia epizootias e epifitias . Quando as pandemias são violentas têm alterado muitas coisas na vida dos seres humanos ao longo da História, a Natureza passa bem sem o homem, este é que não pode  passar sem a Natureza, uma Natureza equilibrada, climácica, em plena harmonia. E  foi sempre o ser humano que desencadeou os maiores desequilíbrios dos ecossistemas por causas não naturais. 
Neste início do século XXI o mundo chegou a um conjunto de confluências que podem gerar a tempestade perfeita : as alterações climáticas, têm tudo a ver com a globalização neoliberal que se acelerou  após o desmoronamento do bloco soviético e com a entrada da imensa China, comunista só de nome, na economia de mercado desregulado. A crise dos recursos naturais superexplorados e a noção, generalizada no seio das sociedades,  da  má distribuição da riqueza produzida, das injustiças dos poderes instituídos corroídos pela corrupção, a descaracterização progressiva das ideologias de direita e da esquerda democráticas nos países culturalmente mais evoluídos -  são tudo factores que parecem potenciar uma alteração profunda do comportamento das sociedades ocidentais. É nesta altura ( e às vezes a História repete-se...) que surgem os nacionalismos, os  proto-ditadores salvíficos, que usam a democracia no que ela tem de melhor para explorar as suas fraquezas. Para isso é que temos de estar atentos - da esquerda não parece vir grande  risco, dos marxismos aproveitam-se algumas propostas sociais que melhoram o sistema social; mas da direita, dos parvos que começam a nascer como  cogumelos, "chegas". "liberais libertinos", trauliteiros, desses é que nascem os proto-ditadores que estamos a ver surgir por esse mundo fora.
Estejamos atentos, é bom que eles falem e escrevam para sabermos quem são e onde estão, antes assim que actuarem na sombra sem darmos por eles...

(*)parvo, de parvus, pequeno, insignificante










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