segunda-feira, 17 de agosto de 2020

EUTANÁSIA em questão

Ver sofrer um ser humano até ao último suspiro de vida, sem esperança de retorno, só porque a sociedade  decide arbitrariamente o que cada cidadão pode ou não pode fazer da sua vida, é cada vez mais uma atrocidade intolerável.
Já não é a primeira vez  nem será a  última que aqui neste blogue abordo a questão da eutanásia  e faço-o agora de novo por mais uma experiência terrível a que tenho vindo a assistir.
Antes de mais reafirmo que o direito à morte com dignidade é um direito tão importante como o direito à vida, ao fim e ao cabo é sempre o mesmo direito de cada um poder ter a vida como quer ( excepto a nascença, que essa  não dependeu de si mesmo.
A morte para muitos, como eu, não é uma passagem para outra vida, não é uma transformação, é o fim, sem apelo nem agravo, que está inscrito nos entes biológicos  que habitam o Planeta Terra.
Pode haver quem queira que a vida lhe seja prolongada pelos cuidados paliativos até ao último sopro, mesmo que agora não faça ideia do que será o sofrimento não já físico mas psíquico de ver progredir a degradação, pois para este não há morfina que baste.
Pode haver quem, por misticismo ou seja porque razão for, queira sofrer porque as religiões dizem que o sofrimento redime e esses querem ser "redimidos" - e tem direito a usufruir dessa solução.
Mas há outros que não querem imaginar-se, através dos tais cuidados paliativos, como múmias vivas e drogadas à espera que chegue o fim.
Basta ter, para mim, dois dedos de  preocupações intelectuais, no que isto significa de ter informação e capacidade cognitiva  sobre a biologia e o intelecto humano, para se ser exigente quanto ao seu destino.
Os que teimosamente negam esse direito aos que querem tê-lo, acham-se na posse duma verdade que é só a sua e a sua generalização não passa de uma arbitrariedade apoiada numa justiça de sociedades que teimam em reger-se por regras paradas no tempo.
Sempre que há um movimento progressista que  pretende romper com velhos hábitos de cultura e de religião, surge logo a reacção- e esta nada tem a ver com  ideologias de direita ou de esquerda, apanha gente de ambos os extremos - os extremos tocam-se...
Lembremos as lutas pelo divórcio, pelo abordo, pelo casamento de homosexuais que tiveram de ultrapassar as reservas mentais de camadas da sociedade presas a valores do passado.
Quem quer a eutanásia  não a está a impor a ninguém, está a pedi - la  para si próprio ; quem se opõe a ela está a impor a sua vontade a todos.
Desde a morte do meu Pai, com quase 92 anos, e que perguntava (sem resposta) se para morrer era preciso passar por aquilo, já ouvi essa mesma expressão outras vezes, a quem tem consciência de que o sofrimento e a inacção a que está sujeito não tem remédio.
É uma violência gratuita que a sociedade exerce sobre o indivíduo.
E acabem com essa treta dos cuidados paliativos como sendo a grande solução para um final feliz da vida; a dor psíquica não se trata com morfinas a não ser pela inconsciência que as drogas proporcionem. E isso é viver ?
Não vale a pena repetir  aqui os argumentos já largamente difundidos dos cuidados a ter na tomada de decisão e depois da aceitação consciente do paciente.
Pode haver erros médicos na decisão final ? Isso é dizer que 3 ou 4 médicos a examinarem o doente podem todos errar no diagnóstico, o que significa a total falta de confiança na competência dos médicos, coisa que não se tolera. E a Ordem dos Médicos que, em princípio representa todos  os médicos, em meu entender não pode ou não deve tomar posição a favor dos que são contra  e estar contra os médicos que são a favor da eutanásia.
O Movimento pela Morte Assistida foi fundado e dirigido por médicos e outros profissionais ligados à saúde, além de pessoas como eu que defendem a solução da boa morte para quem sofre.













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