terça-feira, 1 de dezembro de 2020

 A espuma dos dias ...

1 - O 1º de Dezembro

Em 1640 recuperámos a independência,  e pena é que a Catalunha na mesma altura tenha sido sacrificada ao jugo castelhano.  Teríamos uma Península Ibérica muito mais equilibrada e pujante, se em vez de ser só Portugal independente ao lado do vizinho gigante,  tivéssemos também outras nações com cultura e identidade próprias como é o caso do País Basco.

Comemorar o 1º de Dezembro é ajudar a relembrar a luta de quase 900 anos deste pequeno povo esclarecido e por vezes genial, que superou dificuldades  século após século que teve a capacidade de entender o Renascimento e daí lançou a epopeia das descobertas pelo mundo fora.  Olhar a História com os olhos de hoje, como querem fazer certos  intelectuais de pouca sustentabilidade mas ávidos de  protagonismo , é  um processo redutor da Humanidade; podemos hoje discordar de métodos e processos usados pelas gerações de há séculos,  sim senhor, ninguém hoje sustenta a escravatura, a violência racial e outras praticas que se propalaram  nos séculos anteriores. Mas a escravatura existe desde que o homem é homem, em todos os povos e em todas as culturas, até escravatura de seres humanos das mesma etnia ou próxima ( o clássico exemplo da Rainha Giga de Angola, que lutou contra os portugueses mas ela mesma tinha centenas de escravos negros ao seus serviço é significativo...)  - por isso devemos lamentar também termos estado envolvidos nessa prática desumana - mas ainda não vi nenhum chefe ou lidere africano pedir desculpa aos seus concidadãos por os antepassados terem vendido os seus irmãos ao comerciantes  que chegavam com as caravelas  até às praias. Peçam lá desculpa, vá!!

Por isso temos todas as razões para nos orgulharmos das nossas façanhas e da nossa História, sem que daí possam nascer nacionalismos e xenofobias espúrias.

 2 - Eduardo Lourenço, da colheita de 1923

Faleceu hoje Eduardo Lourenço, pensador e  escritor  de grande gabarito, talvez um dos maiores senão o maior e mais profundo pensador dos séculos XX e XXI. Morreu com 97 anos,

Aqui há uns anos o Arqº Nuno Portas disse que os anos de 1922 e 23 foram de "grandes colheitas" em termos do nascimento de homens de elevada craveira intelectual. Na verdade, e certamente vão faltar alguns nomes, dessas colheitas fazem parte Gonçalo Ribeiro Telles, Nuno Teotónio Pereira, Fernando Távora, Eduardo Lourenço, ou Adriano Moreira


3- A crise que se aproxima - Creio sinceramente, como já foi  afirmado por alguns especialistas, que o próximo ano será de uma enorme crise em todo o mundo e nós seremos dos mais afectados, pela pequena dimensão da nossa economia e pela sua dependência do comércio externo. E muito perigosas serão a crise social e a crise politica inerentes, com o rol de desempregados, de falências de empresas e de agitação social . Serão os tempos dos populismos e do crescimento dos extremismos que hoje já não serão, sejamos claros, da esquerda mas antes os da extrema direita.  Já ninguém, nos países ocidentais pelo menos, espera que comunismos e  radicalismos de esquerda venham   a dominar seja lá onde for,  porque as sociedades  ditas burguesas já não toleram a tenaz do capitalismo de Estado.

Já tenho dito que a História se repete se nós  deixarmos que ela se repita, e o que aconteceu depois da pandemia da pneumónica, em 1917- 18 foi o crescimento exponencial, ano após ano, dos ideais fascistas e ditatoriais precisamente tirando partido das dificuldades das camadas mais desfavorecidas. As políticas dum liberalismo financeiro exacerbado, explorando nas fábricas e nas cidades superpovoadas os trabalhadores e a própria classe média que despontava, levaram a enormes desigualdades entre países e em cada país entre os diversos estratos das suas  populações. A  grande crise do  liberalismo sem regras que atingiu os EUA no final da década de 20, foi agravada com as decisões do então Presidente Hoover e dos seus conselheiros financeiros sobre um Estado menor, de que valia mais deixar rebentar a economia, deixar falir as empresas que não aguentassem a crise,  para depois se poder reconstituir de novo a economia de mercado. Essa decisão agravou a crise até ao limite e começou a sentir-se a sua repercussão nos países europeus. 

Foi então que eleito o Presidente Roosevelt, que adoptou uma política inversa, depois esplanada e teorizada  por Keynes, que foi a injecção maciça de investimento público nas empresas e na sociedade, graças à  reconstituição de um Estado forte.

Mas a falência das economias europeias prosseguia, a Inglaterra, a França, a Itália e em especial a Alemanha viviam anos de grande  dificuldade económica e a pobreza aumentava. O nazismo deu  resposta aos anseios da população mais desfavorecida, não foi por acaso que se intitulou Nacional Socialismo e Hitler chegou ao Poder  ganhando eleições livres, desde logo usando tácticas e métodos  de terror público que parece não terem feito recuar a maioria dos alemães que esperavam por um futuro melhor - o resultado da guerra demonstrou que foi um engano terrível.

Na Itália nasceu o fachismo de Mussolini e na Península Ibérica os proto fascismos franquista e salazarista; noutra economia relevante no Oriente, o Japão, sob a capa fanática do Imperador, nasceu o feroz nacionalismo nipónico que só Hiroshima e Nagasaki haveriam de  destronar.

Nesta ano da nova pandemia os EUA voltam a estar na linha da frente do grande  desastre mundial. desde que a percentagem mais estúpida por um lado dos americanos menos cultos  e por outro lado dos manipuladores  da economia de mercado e das religiões extremistas, muitas vezes associados, enviaram opara Presidente o paranóico e sem escrúpulos Donald Trump. O seu posicionamento e as suas ideias  anti democráticas têm servido de exemplo e de estímulo aos protagonismos da direita reaccionária um pouco por todo o mundo.

O comportamento de alguns países da União Europeia é bem demonstrativo como as influências das ditaduras em povos mal preparados para a democracia, deixam resquícios altamente perigosos em termos civilizacionais para todo o continente europeu e - eu continuo  a ser eurocentrista... - para todo o mundo .Veja-se a dificuldade que alguns países que estiveram décadas integrados nas ditaduras comunistas eufemisticamente designadas democracias populares ( quem as visitou como eu, viu como era,,,) em aceitarem as regras da democracia liberal ou "burguesa" a ponto de, casos da Polónia e da Hungria, porem em risco a disponibilidade de fundos europeus para acudir à pandemia. Aqueles povos, depois de umas primeiras experiências democráticas a seguir ao  desabar do Muro Berlim ( que o PCP português diz que não foi nada...) deixaram-se voltar a seduzir pelas ideias  mais extremistas e  antidemocráticas de salvadores da Pátria. Esses dois são os mais explícitos, mas noutros países da Europa oriental a estabilidade democrática como a conhecemos por  aqui está sempre em risco.

Estamos num desses tempos de encruzilhada e devemos estar preparados para rebater todos os sinais de ameaça para a democracia que não é "orgânica" como queria o salazarismo nem "popular como querem  (ainda hoje !...) os marxistas leninistas ou trotzequistas  ou maoistas ou sejam á o que  forem - é a democracia  de origem liberal e burguesa, sim senhor, mas moldada  aos valores da solidariedade e da defesa do colectivo e de um Estado Social forte para poder acudir, como nesta pandemia, às necessidades prementes da economia e dos cidadãos. Veja-se como agora os autodenominados liberais pedem que o Estado intervenha, que ponha dinheiro nas empresas, que ajude o mercado a funcionar...  Menos Estado para melhore Estado, não é ? Pois, foram das crises, claro.







Sem comentários:

Enviar um comentário