Loucura e mediocridade política
Esta guerra imposta pela Rússia à Ucrânia está a revelar como imperam no mundo tanta loucura, tanto desnorte civilizacional e por isso tanta mediocridade política que acabam por cair em cima das populações que sofrem as consequências.
Putin revela-se então como um ditador pouco evoluído, um déspota nada esclarecido e assim de uma enorme mediocridade política. Não é o único? - pois não, mas é dele que se fala agora.
A loucura e o atestado de pouca evolução ideológica vem de querer recompor o poder da antiga URSS sem a chama que a ergueu, que foi o comunismo marxista leninista significativamente importante numa fase da evolução do mundo moderno. Todos os ditadores tem a sua percentagem de loucura e de auto endeusamento, pensando-se como os grandes mentores das civilizações- apesar de a História demonstrar que acabam sempre no descrédito e na derrota.
Putin revela que não foi capaz de entender que a ocupação da Ucrânia hoje não iria ser feita com a mesma passividade com que anexou a Crimeia; se bem que a reacção de agora, quase universal, tenha sido de uma dimensão espantosa, ele deveria ter previsto uma estratégia faseada suficientemente maleável que lhe permitisse travar a tempo - em vez disso está agora metido numa estrondosa alhada. Mesmo que ocupe a Ucrânia ou que, pela força, mude o seu Governo e reponha uns fantoches, isso leva tempo e entretanto vai ficando isolado de tudo e de todos e não parece espectável que a China lhe venha dar um apoio tão grande e prolongado que o aguente do isolamento que o mundo inteiro lhe está a mover.
E esta guerra tem dado lugar a aspectos caricatos em alguns aspectos como num país da Europa, Portugal, democracia burguesa que dá a liberdade de opinião a todos incluindo aos seus inimigos ; a reacção do PCP mostra-se de um atraso ideológico desconcertante, o BE envergonhadamente vai dado uma no cravo e outra na ferradura e alguns intelectuais que se posicionam como estrategas da esquerda a botarem cá para fora longas dissertações com o mesmo tom- e o argumento é sempre o mesmo para todos eles: a NATO e os EUA tem feito coisas destas e bem piores pelo mundo fora, sem a repercussão que agora se está a dar ao coitado do Putin...
Já falei disso em data anterior. Mas gostava de que alguns dos actuais membros do PCP tivessem visitado as democracias populares com que sonham que existiram na Europa ( e continua em Cuba, na Venezuela, tudo paraísos da Humanidade). É que eu visitei alguns desses paraísos e nem queiram saber a felicidade em que viviam aqueles povos!
Eu apoiei a chamada geringonça pelo que significava de chamar á responsabilidade do Poder o PCP e o BE, uma franja ainda larga de eleitores portugueses, admitindo que as suas ideologias iam derivando para uma esquerda mais exigente em termos sociais e daí resultar uma política de esquerda mais exemplar. Mas esta posição assumida por esses partidos num caso tão escandaloso em termos de civilização e de democracia, como é a invasão da Ucrânia, são sinal de que alguns dos seus dirigentes não mudaram, cristalizaram. E isso vai repercutir-se em cisões dentro daqueles partidos, eu acredito nisso, veremos a prazo... Espero que muitos dos portugueses que votam nesses partidos meditem no que significa apoiar uma invasão de um país independente, que tem direito a decidir, por si, da sua própria vida. E que os filiados e intelectuais que tenham outra visão do que pode ser um socialismo avançado - mas democrático- se posicionem e não queiram morrer lentamente, que é o que vai acontecer ao PCP e ao BE se continuarem a posicionar-se desta infeliz forma .
Ouvi falar um João Ferreira ( que votou com outro seu colega - que me pareceu muito mais ortodoxo e monolítico- no Parlamento europeu a favor do Putin, dá a sensação de que estava a falar por dever de ofício, empregando os mesmos argumentos, é certo, mas de forma pouco convicta ( terei mais uma triste revelação se não for assim...)
Mas ouvir falar um tal Bernardino, que era de Loures, foi de uma convicção tão genuína que dá pena - gente ainda nova a pensar assim... E dos intelectuais arregimentados, ler p.e., o Boaventura S. Santos a esgrimir contra a NATO e os actos cometidos pelos EUA, dá a impressão que não tem outra forma de desculpar o Putin - quando os erros dos outros não desculpam estes.
Para além das consequências imediatas da guerra, elevam-se outras muito preocupantes com ela relacionadas como é o caso das centrais nucleares que podem ser afectadas, mesmo apenas por erro, pelos bombardeamentos, como faz notar o António Eloy.
Só a Ucrânia tem 15 reactores, e em Chernobil a radioactividade aumentou certamente pelo simples passar dos rodados dos tanques e carros pesados levantando poeiras; a loucura dum ditador como Putin não o vai levar ao ponto de atacar um reactor, pois a própria Rússia seria um dos alvos que mais sofreria com uma acção dessas. Mas a loucura dos ditadores não tem limites - Estaline, Hitler, Pol Pot. etc, são testemunhos ainda no século XX!!
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