sexta-feira, 25 de março de 2022

 Desvalorização do sector florestal e da Conservação da Natureza

Novo Governo mas  mantem-se o desprezo e a desvalorização do sector florestal e a menorização da Conservação.

A Politica de Conservação é uma política nacional  - devia ser... 

Primeiro, a  designação florestal até já nem surge na titularidade  dum qualquer Ministério, continuando a manter-se a aberração, que se pagará  com preço alto  a médio prazo, de separar a agricultura da floresta, sendo que   deveríamos todos - pelo menos  todos aqueles que se preocupam com  as políticas de médio e longo prazo que deveriam nortear o sector primário - interrogar-nos (e interrogar responsáveis) porquê em Portugal se mantem esta situação anómala.

Tem vindo a publico testemunhos de engenheiros agrónomos, outros técnicos  e responsáveis por associações do sector agroflorestal - porque o sector é agroflorestal e não separadamente agros e floresta- que protestam e explicam como é errada esta mentalidade que se instalou nos políticos portugueses com acesso ao Poder.  De nada valem...

Sei que alguns  responsáveis do actual status quo acham que quem, como eu, defende ideias como a de unidade de concepção e de gestão do agros, e a separação e independência da Conservação da Natureza (CN) face aos sectores produtivos - pois só assim a CN  pode  exercer uma missão de observação e prevenção -  estamos ultrapassados.

 Estes "jovens" ( alguns não tão jovens assim e até  de barba grisalha) sentem-se uns iluminados que querem deixar nome pela inovação de métodos, quando toda a experiência e prática mundiais, desde há várias décadas veiculadas pelas organizações internacionais,  indicam o caminho certo. É como querer agora descobrir o segredo de fabrico da pólvora... 

 O grave é que são estes iluminados quem tem cobertura política, e também deveríamos tentar perceber porque é que as sucessivas  governações dão cobertura a estas teorias de pretensa inovação. Interesses envolvidos?

Pegando na CN, desde que em 1974 se criou a Política de Ambiente em Portugal ( e já com algum atraso face a países europeus e americanos mais avançados)  ela passou a ser um dos pilares do pensamento ambiental por ser uma das bases para o ordenamento  biofísico do território, criterioso e de longo prazo - porque  biodiversidade e sustentabilidade  só se garantem no longo prazo.

A missão duma visão holística que a CN deve exercer sobre as actividades económicas que originam impactes no meio, impõe que ela seja independente de todos os sectores produtivos, começando pelo  sector primário; quando há muitas décadas atrás CN e florestas estavam juntas a primeira era apenas um ornamento legislativo para se poder dizer que também cá tínhamos disso... 

Com esta solução voltaram a esse tempo, que era do antigo regime pré-democracia - a CN amarrada ás florestas e consideram que tal significava um avanço fantástico;  nas declarações públicas  dum recente ex- responsável governante, para quem  antes estava tudo mal ( e este antes foi a reforma efectuada depois de Abril de 74) e agora ( com o caos criado pelo ICNF) é que está tudo bem - mas se o antes  que foi retomado, foi o  antes de 74, como é afinal para estes iluminados aquilo  que  está bem e o que está  mal ?

A menorização do sector florestal começou há décadas, em plena governação de "direita", quando técnicos e dirigentes da industria da celulose foram para responsáveis governamentais do sector florestal, e em que chegou a haver um complot de Secretários de Estado  (denunciado pelo Engº Amilcar Teias, ex Ministro do Ambiente desse tempo e que se sentira ultrapassado)  para juntar as Áreas Protegidas(AP) com a florestas. Pretendia-se menorizar tanto a CN como os Serviços Florestais.

Porquê? Porque APs e os  Florestais eram impeditivos de uma liberalização dos eucaliptais e não foi por acaso que a excelsa Ministra do governo Passos/Portas alargou as possibilidades de plantação de eucalipto. Quando vieram governos "das esquerdas unidas" poderia ser expectável que se alterassem os caminhos e, na verdade,  foram feitas várias reconversões de arranjos e de politicas ministeriais - mas nas florestas e na CN ninguém mexeu, estava tudo bem ( e até havia na geringonça um Partido Verde!) E continua tudo bem para os interesses que "eles" defendem...

Continua a ser um mistério inexplicável ( será mesmo?...)  que no Ministério da Agricultura continue alguém que não se importa de ficar sem o sector florestal - quer lá saber disso, tem tanto com que se preocupar como seja a rega dos pomares industriais intensivos de olival, amendoal, abacateiro, etc, (porque pode não haver água de rega para as hortas e os pomares tradicionais dos pequenos produtores mas para os outros haverá sempre); podem continuar milhares de hectares de solos por agricultar e que podiam contribuir para diminuir o nosso déficit em culturas agroalimentares, mas isso é coisa de pouca monta, os fundos comunitários já tem destinatários.  Juntar a chatice das florestas?   Coisas do passado, é assim que pensa - e decide - a "esquerda contemporânea".

Ou, como voltam a  dizer os gurus liberalistas, ( que se repetem década após década, qual hidra a quem nascem cabeças sempre que uma é cortada) acabou a História, acabaram as ideias e as ideologias, finalmente temos  a ideia única do mercado livre - e  do pensamento único, viva a liberdade!

Como dizia um conceituado meu colega, técnico florestal,  ainda há cursos universitários de silvicultura ? Para quê? Na verdade engenheiros agrónomos, biólogos e outras especialidades resolvem os problemas. Guardas-florestais em harmonia com os  bombeiros? Qual quê, a Protecção civil e a GNR resolvem tudo como convém a uma democracia musculada, pouco dialogada, porque as maiorias absolutas não dão para fantasias.

Florestas? Temos as "florestas de produção" propagandeadas pelas industria da celulose ( passa a ensinar-se assim em silvicultura...) e o resto "é paisagem"...

Aditamento a estas notas

Porque se liga com o conteúdo destas notas, vou transcrever uma carta que enviei ao National Geographic Magazine, a 24-01-022; já esperava que não tivesse resposta, mas aguardei um tempo de espera e agora esse tempo passou. Dirigida ao Director da NGM Portugal, aí  fica :

Somos cá em casa, desde há muitos anos, assinantes da revista  National Geographic, que tem normalmente muitos artigos de grande interesse.  Porém agora neste número de Janeiro de 2022 tem logo quase na abertura uma fotografia de duas páginas de um eucaliptal e um texto intitulado " A floresta faz parte da nossa identidade".

Se se trata de publicidade esta deveria ter sido expressa claramente, porque se torna evidente que é uma publicidade da The Navigator Company, ou seja a industria da celulose, com a desfaçatez - permitam-me o termo - de afirmara que "as florestas sustentáveis da The Navigator Company apoiam a National Geographic Portugal a diminuir a sua pegada ecológica"-

Andamos nós a ensinar nas escolas e nas universidades o que são matas e o que são florestas, e textos como este enganam os que lêem e não esteja prevenido.

Em primeiro lugar sobre a "nossa identidade" é abusivo insistir que somos um país florestal, não somos nem nuca o fomos, fomos sempre historicamente um país de agricultores e pastores e  residualmente com floresta; depois nós não temos florestas de produção, temos matas de produção, povoamento estremes, monoespecíficos de eucalipto e de pinheiro bravo. Estas matas é claro que devem ter lugar no panorama silvícola português desde que enquadradas num ordenamento florestal nacional - que hoje nºao existe.

Dispenso-me aqui de falar sobre o que é um ecossistema florestal e como os eucaliptais são espaços sem biodiversidade porque não criam condições para diversificar a vida no seu interior.

No nosso entender, e de muitos especialistas desta área com independência de pensamento, trata.se de publicidade enganosa que já há alguns anos atrás, perante uns enormes cartazes afixados nas estradas com o mesmo tipo de fotografia e de mensagem, a Defesa do Consumidor deu razão à queixa apresentada e os cartazes desapareceram, A indústria da celulose tem lucros suficientes para estes gastos.

Também em rodapé informar como "fonte" o ICNF, mesmo só para falar de %, é uma forma encapotada de conferir credibilidade ao texto.

Por fim, existindo um Conselho Cientifico que inclui nomes relevantes da ciência e da cultura, alguns dos quais conheço e respeito, fica-nos a dúvida se esse douto Conselho se pronunciou sobre a veracidade e credibilidade do texto referido.

Uma revista coim o mérito da National Geographic não aumenta a sua credibilidade com a publicação de textos destes - é a nossa opinião.










 













 

Sem comentários:

Enviar um comentário