terça-feira, 23 de agosto de 2022

 A escassez de água

Aqui pelo Algarve nota-se cada vez mais a escassez de água no solo e acredito que estejamos a chegar, se ainda não se atingiu,  ao ponto de emurchecimento permanente. Pelo barrocal, onde eu moro, é nítido o stress hídrico da vegetação natural, de resto  tão adaptada  a pouca água ; aqui no meu terreno, o pouco que rodeia a moradia, deixei há anos de considerar tudo jardim para poupar a rega, ficando este apenas na frente da casa. Por isso tenho diversos pequenos bosques de arbustos autóctones ( aroeira, sanguinhos, pilriteiros, trovisco, etc) nos quais se nota já a situação de stress e  trata-se dum solo que  durante décadas terá sido mobilizado pelas lavouras. não é como o dessas encostas onde a mesma flora se mantém. Tenho uma pereira brava ( P. bourgaeana) que plantei trazida do mato aí com 1m de altura e agora já tem mais de 4m, está num local sombrio e mais fresco e mesmo assim está a ir-se abaixo; todos os anos dá uma dúzia de pequenas pêras mas este ano nem uma e vai perdendo  as folhas. 

Conservação e desenvolvimento

É sempre a mesma conversa sobre estes temas,  mas de vez em quando é preciso repisar conceitos e tirar conclusões para mantermos o espírito aberto...

Não há verdadeiro desenvolvimento sem uma estratégia conservacionista e se dizer estas coisas aqui há uma ou duas décadas fazia pouco sentido para muita gente, o certo é que ainda hoje para os produtivistas neo liberais da direita( e não só, também os há entre os que se dizem de esquerda...) que pululam por aí, tudo não passa de fantasias.

Embora a intervenção tenha que ser, cada vez mais, levada a cabo a nível mundial, cada país  deve examinar o modo como está a pôr em prática a sua política de Conservação - palavra que para muitos ainda está conectada com os lirismos de proteger animais e florzinhas; continua-se a não perceber a diferença entre protecção e conservação, apesar de, desde há décadas, a nível da ONU e da UNESCO, para falar só do topo, essa diferença esteja estabelecida  e seja indiscutível.

É objectivo fundamental duma acertiva política de conservação a manutenção dos processos ecológicos e dos sistemas que garantem a vida, o que pressupõe o ordenamento qualitativo do território, a distribuição dos usos dos recursos e não a sua concentração  (policultura versus monocultura) e a boa gestão desses usos.

Em relação ao sector primário - e isto são coisas que se aprendem na escola ( será mesmo que se aprendem?) - é essencial a garantia da preservação do património genético e a utilização sustentável das espécies e dos ecossistemas.

A política de Conservação não se aplica, como alguns pensam, apenas sobre o meio natural; é crucial que a mentalidade conservacionista esteja entranhada na vida económica e cultural da sociedade. Há requisitos prioritários para concretizar os objectivos da Conservação, como sejam :

- adoptar uma forma de intervenção integrada, quer dizer conciliar as actividades produtivas com o respeito e aceitação dos pressupostos ecológicos;

-garantir um leque de opções, deixando alternativas adaptáveis a cada situação; através do ordenamento do território podem garantir-se opções viáveis e realistas para o uso dos recursos;

- as acções de intervenção devem combinar a solução das situações mais graves com a prevenção de novas situações indesejáveis; isto leva à necessidade de estudos de impacte ambiental sérios e que contem com a ponderação de custos/ benefícios;

- não se deixar ficar apenas com  o conhecimento dos sintomas da degradação que ocorra - p.ex, se há erosão numa linha de água não basta construir barragens de correcção torrencial, é necessário procurar as causas dessa erosão ( agrocultura sem respeito por curvas de nível, arborização degradada de encostas, etc).

Os obstáculos à realização dos requisitos prioritários enunciados são em geral: falta de planeamento ambiental e de ordenamento qualitativo do espaço biofísico; ausência de preocupações ambientais ao nível das decisões políticas  (e dos políticos) a montante;  legislação insuficientemente clara; deficiente cobertura do território pelas estruturas e organizações de cada sector da economia ( veja-se a falta que faz a cobertura dos Serviços Florestais  na defesa  e combate aos incêndios); falta de habilitações de decisores políticos e técnicos, e por ai fora...

Portanto, a compatibilização entre um Desenvolvimento efectivo e a Conservação tem que ser feita desde as determinações iniciais de todo o processo interventivo até à sua execução final.

E não há volta a dar: a Política de Ambiente tem que ser antecipativa, preventiva,  o que tem custos - custos de planeamento, de investigação, mas isso poupa à sociedade graves danos futuros, poupa erros de execução que levam à frustração e ao desastre económico a prazo; é pôr as gerações vindouras a pagar os erros dos que as antecederam.

E esta falta de cooperação eficiente entre uma política de Conservação ( destroçada)  e um crescimento  (não é desenvolvimento)  económico errado ( não temos uma  industrialização progressista a não ser em pequenos sectores de tecnologia de ponta, e o sector agro florestal está num estado de catastrófico, quer na agricultura quer na floresta) leva a que estejamos na cauda dos países europeus. E é uma festa. nunca se ouviram tantos discursos optimistas e laudatórios de governantes como agora!

E, depois destas notas para muitos pseudo-sérias, que não vão resolver nada, fica-se com a sensação duma espécie de sarro na boca e de pensamento conturbado...













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