A nossa democracia
A gente pasma com as autênticas patifarias que se estão praticando por uso, ou melhor, puro abuso, das liberdades que a democracia nos consente.
A primeira república durou 16 anos e rapidamente conseguiu reunir tantos anticorpos que baqueou a 28 de Maio de 1926; depois da longa noite fascista que durou até 1974, conseguimos recuperar a democracia, frágil mas aparentemente com energia que já aguenta 50 anos. Mas não vale abusar...
Quer haja quem não queira ou não goste que se puxe pelos galões, a verdade é que na Europa é que se foi construindo o edifício conceptual e a progressiva mentalização da pessoas para a liberdade e a democracia.
Na Antiguidade Epicteto, ele mesmo escravo no século I dC, deixou estas palavras :"Soberano de si próprio é todo aquele que face ao que quer e ao que não quer, tem a liberdade de o conservar ou de o recusar."
No século XVII Espinosa proclamou que" a liberdade é inalienável, a liberdade natural que é intrínseca ao ser humano, e antecede a liberdade que nos é outorgada pelas leis que nos devem governar ."
O homem, como qualquer ser vivo superior, procurou no início satisfazer sobretudo as suas necessidades básicas, sem outra preocupação alem de assegurar a sobrevivência sua e do seu agregado familiar, mais tarde com maior organização, a liberdade do seu grupo ou etnia, e por aí fora até à complexa organização do Estado.
Só um homem livre sabe o que é democracia e se torna responsável por ela; o ideal democrático baseia-se no primado da soberania da lei votada livremente por todos - todos os cidadãos são iguais perante a lei e responsabilizados pela falta de respeito aos ditames sociais e políticos escolhidos pela "vontade geral" como dizia Rousseau,
Começou na Grécia, ainda imperfeita, atravessou os séculos da autoridade divina de reis e Papas, renasceu contra as autoridades através de enforcamentos, das fogueiras, das torturas perpetradas pelas minorias no Poder, e brotou com o Renascimento, as Descobertas que deram a conhecer o mundo, as alquimias que foram desvendando os segredos dos elementos naturais ...
No século XVII Montesquieu, no seguimento do que já Maquiavel escrevera nos finais do século XV, reconheceu que havia três regimes possíveis - a republica, a monarquia e a ditadura e ensinava que a republica seria o sistema político mais justo porque a dinâmica que desenvolvia o seu desempenho, o sentimento que a faz durar e perdurar, é a virtude. Esta virtude ou motivação ética é da natureza republicana.
(continua)
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