domingo, 12 de março de 2017

Apontamento político

Um dos aspectos mais preocupantes da nossa vida pública,em termos de vivência democrática, é a falta de ética na política e em muitos políticos .  Não pretendendo ser moralista, a verdade é que entendo que é dever dos cidadãos  denunciarem a confusão que se estabelece conscientemente, entre o que ´é legal e o que é legítimo em termos éticos. A corrupção declarada ou presumível continua na ordem do dia.
O caso actual das transferências de colossais quantias de dinheiro para offshores, em que o Secretário de Estado respectivo,, conscientemente,, não publicou como era seu dever, as listas dessas transferências, é o último caso paradigmático desta problemática. Para lá de todos os demais aspectos que possam vir a ser inquiridos....
O Secretário de Estado foi durante anos advogado de um escritório em que tinha a função de proteger e senão mesmo promover, o envio de fortunas portuguesas para os paraísos fiscais.. É legal.
Mas ter sido escolhido para Secretário de Estado que tinha por missão precisamente controlar esses movimentos de capitais, embora legal também, é ilegítimo. Então ele até podia ver passar pelas suas mãos as remessas dos seus antigos clientes - seria  normal que isso acontecesse - e fechava os olhos ? Quem antes tinha por missão proteger e gerir as transferências de dinheiro, é a pessoa mais indicada eticamente para fazer agora o seu controle ? É legal, não há lei que o proíba, mas é imoral - ou não ?



AS ÁREAS PROTEGIDAS

As Áreas Protegidas em Portugal têm vindo a ser prejudicadas, ao longo dos anos, por má gestão, mas sobretudo por falta de convicções e empenho das tutelas, que as deixaram de interpretar , em especial os Parques Naturais, como  instrumentos essenciais de ordenamento qualitativo do território, como propostas privilegiadas  de desenvolvimento perene ou sustentável de regiões deprimidas mas que guardam património natural e cultural relevante.
A desilusão pelo estado de indigência administrativa, e de rotura com as verdadeiras funções das APs, em especial  dos Parques Naturais,, o clientelísmo com que eram nomeados os directores e depois os tais dirigentes regionais, é elucidativa de que a Educação Ambiental nunca chegou a entrar nas mentes de muitos técnicos (até os das Ciências da Terra) e de muitos políticos portugueses dos vários escalões do Poder.
Daqui a actualidade de voltar a divulgar o seguinte Testemunho, datado de 2016.

TESTEMUNHO

Por altura da comemoração dos 40 anos do Serviço nacional de parques, reservas e Património Paisagístico´, reuniu-se em Seia um grupo de  alguns dos primitivos elementos daquele Serviço, estando entre eles o seu primeiro Presidente e fundador do mesmo.
A fundação do Serviço exigiu elevado espírito de entrega e muito ânimo de todos que a isso se devotaram, porque estavam perante uma situação nova, na abordagem conjunta do património natural e cultural e, sem falsa modéstia, , traziam um elevado espírito de missão.~
A viagem que fizemos de todo o país até Seia, foi de saudade mas tornou-se igualmente de desilusão, pois que em relação ao que era a expectativa dos  primeiros tempos só encontrámos estilhaços dispersos, já totalmente descolados do corpo original que tinha uma filosofia e um forte sentido de causa nacional.
Julgávamos então que, a partir da matriz dos territórios especialmente merecedores de serem protegidos, se podia conseguir uma dinâmica irreversível de progresso sócio-económico capaz de entusiasmar as populações e as autarquias. alicerçada nas suas gentes e na paisagem natural e cultural que as caracterizavam. Etnologia, Cultura e Natureza eram o suporte do que a tal nos propunhamos.
Pretendia-se desenvolver as potencialidades existentes ou simplesmente fazer progredir traços emergentes das suas realidades que fossem avançando a par com as aptidões naturais sem quebrar com as tradições culturais dos territórios.
Julgamos que mesmo assim valeu a pena o nosso encontro, pois que os longos trajectos feitos de todo o país serviram para, perante a desilusão, reafirmarmos que acreditamos que podia ter sido conseguido com essas terras, essas gentes, costumes e tradições, unir tais ideias fragmentadas e propor o restauro do seu Corpo. Atingir as suas raízes e fazê-las florescer era a nossa ambição.
Alguma coisa ficou, mas longe, muito longe, do que havíamos sonhado! !

Seia, 15 de Outubro de 2016
Presentes por ordem alfabética :
Alberto Martinho, António Antunes Dias, Dionísio Gonçalves, Fausto Nascimento, Fernando Santos Pessoa, Humberto Sá Morais, João Reis Gomes, José Maria Caldeira Cabral,*,  Manuel Afonso Pinheiro, Robert Manners de Moura*,  Sérgio Infante.
*Presentes em espírito, ausentes por motivos de saúde-
Nota : Alguns outros técnicos que assistiram ao encontro e/ou concordaram com este documento, não o assinaram por estarem ainda ao serviço e temerem represálias . pois a democracia não  erradicou  ainda o mêdo em muitos sectores da vida nacional

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