sábado, 4 de março de 2017

LIBERDADE E BIODIVERSIDADE

Num primeiro relance estas duas palavras e os conceitos que elas encerram parece não terem nada em comum.
Mas têm.
Tenho mesmo para mim que são os dois conceitos mais importantes, mesmo fundamentais para a Humanidade.
A liberdade é considerada desde a Antiguidade, isto é, desde que o homem ( e falo do homem ocidental) pensa com  profundidade  nos mistérios da existência, como o sentimento  que mais integralmente faz parte  da própria natureza humana.
Mais perto já do nosso tempo, Spinosa proclamou  no séc. XVII que a liberdade é inalienável, a liberdade inata, natural, que é intrínseca aos ser humano e antecede a liberdade que nos é outorgada  pelas leis que nos devem governar.
Foi pela compreensão de que a sua segurança estava melhor salvaguardada reunindo os seus entes mais próximos em estruturas gregárias, que o homem  fez nascer as relações sociais e as leis que as regem,  dando início ao domínio da Razão sobre a Natureza.
Porque no seu estado natural o homem não tinha consciência do meu, do teu, do justo ou menos justo, para além da satisfação das exigências fisiológicas; o homem era sereno e livre como qualquer outro animal superior.
Liberdade significa, antes de tudo o mais, poder escolher mas deixou de ser um direito absoluto, porque em sociedade a liberdade de cada um  não pode ir contra ou prejudicar a liberdade dos outros. Dispomos porém da liberdade matricial que nos dignifica enquanto homens livres, condição em crise no mundo de hoje.

Neste contexto  escolher o que se gosta, o que se quer, como quer emitir a sua opinião, como define as suas prioridades, é apanágio da liberdade . é apanágio do homem livre!

A Vida no planeta rege-se por ciclos de trocas de energia e de matéria. organizados em sistemas eco-biológicos, os ecossistemas, que têm os seus clímaces e os seus pontos de menor vitalidade.
Quanto maior e mais complexa for  a diversidade biológica e genética, também maior é a garantia da perenidade da Vida.
A biodiversidade permite naturalmente que as espécies se organizem , se estruturem e se enfrentem nas escolhas que a Natureza faz por si mesma, na procura dos equilíbrios dinâmicos próprios  dos sistemas vivos.
A redução do número  de espécies e da sua capacidade de trocas é um  sinal do estado de menor equilíbrio climácico – ou seja da garantia da perenidade da Vida.

Os ecossistemas de substituição criados pelos homens para tirarem melhor partido dos recursos naturais de que dependem, são tanto mais sustentáveis – ou como eu gosto de dizer, perenes – quanto maior for a diversidade  que potenciam  e ,por isso, mais se aproximem do funcionamento dos ecossistemas naturais que eles vieram substituir.
O homem e as suas comunidades estabelecidas e organizadas primeiro como tribos  ou clãs, depois como povos, são tanto mais independentes e próximos da sua realização como seres e comunidades, quanto mais dispuserem  de diversidade biológica e genética as quais não só o  sustentam no presente como garantem a continuidade no futuro.  Daí que as policulturas tenham sido sempre uma situação de vantagem  para a vida,  face ás monoculturas.
Desde há muito que se conhecem as consequências das monoculturas na vida dos territórios, em especial quando as condições edafo-climáticas são precárias,  seja à escala continental a degradação do Sahael pela exploração do algodão e do amendoim, seja em Portugal a sul do Tejo a monocultura cerealífera ou por todo o país a monocultura florestal  do eucalipto ( de que a Serra de Ossa é um ícone).
A biodiversidade é fundamental para a própria sobrevivência do ser humano.
Ao longo da Historia da Terra a vida foi drasticamente alterada algumas vezes, mas sempre por razões naturais, modificando completamente os sistemas e os ciclos geo-bioquímicos. Porém  hoje assistimos a uma terrível diminuição da biodiversidade bem como  a   graves alterações climáticas por culpa das acções humanas.
Nas últimas décadas desapareceram centenas de espécies de seres vivos na Natureza, e por outro lado as grandes multinacionais dos sectores agro-químico e agro-alimentar controlam cada vez mais o fornecimento de sementes seleccionadas e de  variedades transgénicas, reduzindo o mercado a meia dúzia de cultivares de cereais, hortícolas ou árvores de fruto – e controlam cada vez mais os Governos nacionais e as organizações internacionais como a EU.
Os milhares de cultivares e de variedades locais  das culturas tradicionais de todos os países do mundo vão desaparecendo, reduzindo drasticamente a biodiversidade e as reservas genéticas ao dispor da Humanidade-
A Natureza vai tendo cada vez menos liberdade de se organizar como exigem as leis da sobrevivência dos seres vivos e dos seus ciclos - e nós vamos ter cada vez menos liberdade de escolha daquilo que achamos  melhor para o futuro das nossas sociedades.
A perda ou limitação de biodiversidade acompanha a crescente  limitação da nossa liberdade !!

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