Num primeiro relance estas duas palavras e os
conceitos que elas encerram parece não terem nada em comum.
Mas têm.
Tenho mesmo para mim que são os dois conceitos
mais importantes, mesmo fundamentais para a Humanidade.
A liberdade é considerada desde a Antiguidade,
isto é, desde que o homem ( e falo do homem ocidental) pensa com profundidade
nos mistérios da existência, como o sentimento que mais integralmente faz parte da própria natureza humana.
Mais perto já do nosso tempo, Spinosa
proclamou no séc. XVII que a liberdade é
inalienável, a liberdade inata, natural, que é intrínseca aos ser humano e
antecede a liberdade que nos é outorgada
pelas leis que nos devem governar.
Foi pela compreensão de que a sua segurança estava
melhor salvaguardada reunindo os seus entes mais próximos em estruturas
gregárias, que o homem fez nascer as
relações sociais e as leis que as regem, dando início ao domínio da Razão sobre a
Natureza.
Porque no seu estado natural o homem não tinha consciência
do meu, do teu, do justo ou menos justo, para além da satisfação das exigências
fisiológicas; o homem era sereno e livre como qualquer outro animal superior.
Liberdade significa, antes de tudo o mais, poder
escolher mas deixou de ser um direito absoluto, porque em sociedade a liberdade
de cada um não pode ir contra ou
prejudicar a liberdade dos outros. Dispomos porém da liberdade matricial que
nos dignifica enquanto homens livres, condição em crise no mundo de hoje.
Neste contexto escolher o que se gosta, o que se quer, como
quer emitir a sua opinião, como define as suas prioridades, é apanágio da
liberdade . é apanágio do homem livre!
A Vida no planeta rege-se por ciclos de trocas de
energia e de matéria. organizados em sistemas eco-biológicos, os ecossistemas,
que têm os seus clímaces e os seus pontos de menor vitalidade.
Quanto maior e mais complexa for a diversidade biológica e genética, também maior
é a garantia da perenidade da Vida.
A biodiversidade permite naturalmente que as
espécies se organizem , se estruturem e se enfrentem nas escolhas que a
Natureza faz por si mesma, na procura dos equilíbrios dinâmicos próprios dos sistemas vivos.
A redução do número de espécies e da sua capacidade de trocas é
um sinal do estado de menor equilíbrio
climácico – ou seja da garantia da perenidade da Vida.
Os ecossistemas de substituição criados pelos
homens para tirarem melhor partido dos recursos naturais de que dependem, são
tanto mais sustentáveis – ou como eu gosto de dizer, perenes – quanto maior for
a diversidade que potenciam e ,por isso, mais se aproximem do
funcionamento dos ecossistemas naturais que eles vieram substituir.
O homem e as suas comunidades estabelecidas e
organizadas primeiro como tribos ou
clãs, depois como povos, são tanto mais independentes e próximos da sua
realização como seres e comunidades, quanto mais dispuserem de diversidade biológica e genética as quais
não só o sustentam no presente como
garantem a continuidade no futuro. Daí
que as policulturas tenham sido sempre uma situação de vantagem para a vida, face ás monoculturas.
Desde há muito que se conhecem as consequências
das monoculturas na vida dos territórios, em especial quando as condições
edafo-climáticas são precárias, seja à
escala continental a degradação do Sahael pela exploração do algodão e do
amendoim, seja em Portugal a sul do Tejo a monocultura cerealífera ou por todo
o país a monocultura florestal do
eucalipto ( de que a Serra de Ossa é um ícone).
A biodiversidade é fundamental para a própria
sobrevivência do ser humano.
Ao longo da Historia da Terra a vida foi
drasticamente alterada algumas vezes, mas sempre por razões naturais, modificando
completamente os sistemas e os ciclos geo-bioquímicos. Porém hoje assistimos a uma terrível diminuição da
biodiversidade bem como a graves alterações climáticas por culpa das
acções humanas.
Nas últimas décadas desapareceram centenas de
espécies de seres vivos na Natureza, e por outro lado as grandes multinacionais
dos sectores agro-químico e agro-alimentar controlam cada vez mais o
fornecimento de sementes seleccionadas e de variedades transgénicas, reduzindo o mercado a
meia dúzia de cultivares de cereais, hortícolas ou árvores de fruto – e controlam
cada vez mais os Governos nacionais e as organizações internacionais como a EU.
Os milhares de cultivares e de variedades locais das culturas tradicionais de todos os países
do mundo vão desaparecendo, reduzindo drasticamente a biodiversidade e as
reservas genéticas ao dispor da Humanidade-
A Natureza vai tendo cada vez menos liberdade de
se organizar como exigem as leis da sobrevivência dos seres vivos e dos seus
ciclos - e nós vamos ter cada vez menos liberdade de escolha daquilo que
achamos melhor para o futuro das nossas
sociedades.
A perda ou limitação de biodiversidade acompanha a
crescente limitação da nossa liberdade
!!
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