terça-feira, 7 de agosto de 2018



Áreas Protegidas

       Para as pessoas  que se empenharam a partir de 1976 no Serviço Nacional de Parques , Reservas e Património Paisagístico, deslocando-se com família para longe de casa, em condições exíguas para dar início a tão importante projeto, o malogro das Áreas Protegidas é tanto, que pensei dar início ao tema, primeiro evocando-o em título em jeito de indignação, prosseguindo com questões do Ordenamento do Território que foram a principal razão da minha vida profissional.
       Agora penso já ser tempo e começo referindo que a eleição dos Parques Naturais teve como ponto de partida a consideração de áreas regionais com elevado valor ambiental , sendo que os fatores presentes iam das causas mesológicas às antropológicas.            Pensávamos, os colegas do Serviço, que este empenhamento podia ser exemplar, procurando levar as populações ao encontro da sua história e cultura, dando continuidade nos tempos atuais  às suas raízes, valorizando-as de forma a proporcionar-lhes uma economia ecológica. Efetivamente estávamos convencidos como hoje que só essa economia, pela sua coerência, pode projetar os autóctones para  um futuro interessante, usando por ventura ferramentas atuais.
     Tal paradigma, pensávamos então, deveria ser exemplar para todo o Território pois isso  seria valorizador da Nação.
      Quão longe estamos hoje com a fusão de tais perspetivas , num Serviço com a exploração florestal  onde frequentemente  os  objetivos são mesmo antagónicos.
     Fixar as pessoas ao seu meio procurando dar-lhes condições de felicidade, nada tem a ver por exemplo com uma exploração de  eucalipto industrial que emprega uma pessoa por cada 300 hectares de plantação. Sim. por mais eficiente que seja o método ele nada tem a ver com o Mundo Rural que então procurávamos valorizar, partindo da sua vocação, e por isso estamos perante uma contradição insanável.
     Lugares de elevado valor ecológico ainda que por vezes de pouca dimensão tornavam-se numa Reserva Natural. Por exemplo os sapais, cujo solo possui por volume a maior biomassa do mundo, com consequências  decisivas na criação de peixes, pelo habitat de especial riqueza e tranquilidade para a sua fase juvenil. Tais áreas  eram merecedores de especial consideração.
      Vejamos agora  as Áreas de Paisagem Protegida pegando por exemplo na Costa Vicentina. Se realmente se não tivesse havido este estatuto aquela faixa de elevado valor estético certamente teria sido ocupada por uma ocupação em banda paralela à costa, retirando-lhe o seu elevado valor ambiental. 
J.Reis Gomes arqtº paisagista

( O autor escreve de acordo com o AO de 90)

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