GESTÃO DOS
RECURSOS NATURAIS
-
uma política publica –
Os recursos naturais são finitos, vulneráveis e decisivos para a nossa sobrevivência, com
especial realce para o coberto vegetal que através da fotossíntese nos fixa o
CO2 e recicla o oxigénio , a água sem a qual não há vida na Terra e as
paisagens que são fundamentais para as nossas idiossincrasias de povo que habita há muitos séculos este
território.
Sobretudo
num país onde esses recursos não abundam, que é o nosso caso, a sua gestão deve
pertencer inelutavelmente ao colectivo da população, quer dizer, á
administração pública , e não à actividade privada que mesmo nos casos em que
pode gerir o interesse público ( e há sectores onde é possível encarar essa gestão
total ou parcialmente), não dispensa o
legitimo lucro pois é a sua razão de
existência. Verdades “ lapalicianas”…
Voltando mais uma vez “à vaca fria”, a área
florestal é uma zona crucial para o equilíbrio ecológico do território e desde
que no século XIX o Estado moderno se
consolidou em Portugal que funcionaram Serviços Florestais (SF) que cobriam as áreas florestais com uma
malha de casas de guardas florestais e postos de vigia e assim desempenhavam
todo o ano, ao longo do ano, as tarefas fundamentais de vigilância, controle
das limpezas e dos abates de arvoredo.
Com essa actividade pública se
procurava também defender o país de grandes incêndios florestais que são, como
se sabe, uma ocorrência característica dos climas mediterrânicos – e em Portugal
fruto do desleixo a que foi votado o território.
A extinção dos SF, e dos
guardas florestais, deixando as áreas de
matas e de mato ao abandono desde há vários anos, devia ser considerada um
crime publico e os responsáveis por essas políticas deveriam ter sido chamados
a responder perante o povo , perante o
país. Tudo se precipitou com o último
Governo PSD/CDS onde a Ministra Assumção
Cristas foi a responsável, com o
inexplicável silêncio do PSD; ainda há pouco tempo o deputado Ascenso Simões
escreveu neste Jornal um libelo acusatório
sobre a política que aquela
Ministra tomou ou deixou de tomar e,
segundo creio, não houve nenhum
desmentido…
Nas medidas de reversão
que o actual Governo tem feito quanto a políticas do anterior Executivo, por
acaso – deve ser por mero acaso - não houve reversões no que se refere ao
essencial das políticas de Agricultura e Florestas e de Ambiente. Por acaso
também, o desgaste dos SF começou com Governos do PS.
Podíamos suspeitar – a
suspeita é sempre possível – de que interessa que existam incêndios florestais
de grandes proporções para justificar o negócio de muitos milhões de euros todos
os anos, em que se transformou o uso dos meios aéreos privados para combater os
grandes incêndios catastróficos. Vade retro…
Uma Autoridade Florestal Nacional, concebida em termos
actuais daquilo que devem e podem ser uns SF, devia ser uma prioridade para
qualquer política publica de gestão efectiva – e séria – dos recursos naturais.
A gestão dos recursos
hídricos devia depender, como já acontecia até a Ministra Assunção Cristas
fazer a “sua” reforma, das administrações das bacias hidrográficas ou se
quiserem, das regiões hidrográficas .
Porque é que este Governo, através do seu Ministério
do Ambiente, ainda não procedeu à reversão desta política é também uma questão
que dá para pensar ; pessoas insuspeitas como Luisa Schmidt tem falado nisso ou há poucos dias Rui Godinho o declarava nas colunas deste
mesmo Jornal e defendia a criação de uma Autoridade Nacional da Água . Com a extinção das ARH e a sua centralização
na APA também foram extintos os guardas-rios, considerados dispensáveis – basta
olharmos para a situação deplorável da maior parte das ribeiras do nosso
interior para ver que eram dispensáveis…
Mas por exemplo, privatizar
as águas do Algarve foi um tentação a que se opuseram todas as Autarquias da
Região. Cá estava uma proposta de “boa gestão”…
Entretanto tinhamos o ICN
que consubstanciava a aplicação da Conservação, como política independente e transversal
a todas as actividades económicas sectoriais ( florestas incluídas) e pilar
fundamental da Política de Ambiente desde há décadas, mas desde o tempo de
Assunção Cristas que se constituiu o caótico e disfuncional ICNF, transferido
para o Ministério da Agricultura embora no do Ambiente actual exista uma Secretaria de Estado dedicada
à…Conservação da Natureza. Paisagens e Natureza. e as Áreas Protegidas que deviam olhar por
estes recursos naturais estão então
geridas ás três pancadas, num caos
completo, tal como as florestas…
Tantos encómios quanto a
um Governo de esquerda apoiado pelas esquerdas, incluindo um Partido Verde,
para isto !...
Fernando Santos Pessoa 11-06-018
arqº paisagista
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