quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

2- China, Budismo e a hipocrisia do nosso tempo  (continuação)

2- Em Julho próximo Tenzin Gyatso, XIVº Dalai Lama, comemora 84 anos, dos quais  60 passados no exílio; a sua fuga para o norte da Índia foi um dos  fracassos que os comunistas chineses mais dificilmente conseguiram engolir, pois apesar da enorme força militar que o vigiava e tentou persegui-lo, com a grande adesão popular, foi possível que atravessasse a fronteira são e salvo, depois de longa caminhada nocturna através das montanhas.
     A invasão dos maoistas chineses em 1959 trouxe  o caos ao velho país, onde é certo que reinava um regime medieval, arcaico, mas que o Dalai Lama, apesar da sua juventude, se preparava para mudar e te-lo-ia conseguido se da parte dos invasores tivesse havido um mínimo de inteligência em vez do facciosismo que transportavam com eles.
O Budismo como religião é muito sui generis e até eu que sou convictamente não religioso se fosse obrigado a escolher uma seria certamente esta. O Budismo não evoca nenhum deus; o Buda  fundador e todos os budas que eles dizem passados e futuros, são apenas homens que pelo seu comportamento e grande poder de concentração em favor do Bem e contra todas as formas de progressão do Mal,  alcançam o mais alto grau de espiritualidade. A regra simples de "bons pensamentos,  boas palavras, boas acções" é a  base de toda uma profunda reflexão espiritual que leva os budistas a alcançarem  grande conhecimento. 
    Ler as obras do Dalai Lama e dos principais Mestres do Budismo é um excelente exercício de aprofundamento da nossa  capacidade mental, mesmo que não acompanhemos depois todo o cortejo de preceitos, símbolos e diabolizações que, como religião,  tem de fazer chegar ao povo que os escuta. O Dalai Lama,  além de arauto da paz, é talvez o pensador budista que levou mais longe as incursões sobre o poder da mente. As suas conversas com grupos de cientistas ocidentais, na Europa e nos EUA,  entre eles o nosso Prof.António Damásio, sobre a origem da consciência, os problemas da memória, as "propriedades" do espírito, etc, levaram já a revelar que a teoria da física quântica hoje cientificamente explica muitas das asserções e reflexões mais profundas do budismo - o que não deixa de ser espectacular!!
    A China actual, em vez de civilizadamente aceitar uma identidade, uma cultura, um direito inato a um povo de viver conforme as suas raízes, prossegue este caminho de total afronta e perseguição aos tibetanos e em especial ao Dalai Lama, acusando-o ainda ridiculamente  de ser o autor e instigador de alguns distúrbios que de vez em quando, grupos de jovens tibetanos promovem ao levantarem-se contra a opressão chinesa. 
    O Dalai Lama está fartíssimo de dizer e escrever que não pretende a independência do Tibete - seria pedir demais... - apenas deseja poder voltar para o seu povo e continuar a  orientar os seus destinos espirituais, embora sob a égide de um só país.  a China, 
    E esta que faz tanta gala em falar de um país com dois sistemas para abarcar Hong Kong e Macau com ( teoricamente.::) sistema politico diferente, essa China não tem a grandeza de alma para considerar o Tibete incluído na sua bandeira mas com a autonomia  e sistema diferente também, Pelo contrário, perseguem o Dalai Lama e procuram destruir o budismo entre os chineses, desprezando o que lhes devia  ensinar a experiência milenar da sabedoria chinesa : é que não conseguem, O que fazem então? Promovem o Confucionismo, e gastam avultadas somas a apoiar nos países ocidentais, em diversas universidades, os Institutos Confúcio.  Mas é evidente que o prestígio internacional do Budismo não tem qualquer paralelo com o Confucionismo ou o Taoísmo, e apenas põe em evidência a cegueira ideológica do governo comunista chinês. 
    Hipocrisia. Como hipocrisia é que leva todos os países do mundo, como disse ao iniciar este escrito,  terem medo da China e mesmo aqueles que convidavam oficialmente o Dalai Lama e o recebiam com honras devidas, já não o fazem-
.
   Eu tive oportunidade de conhecer o Dalai Lama numa sessão de outorga do grau de doutoramento honoris causa na Universidade Lusíada do Porto, onde lhe entreguei uma fotografia que colhi, meio escondida, num altar de um mosteiro tibetano, onde ele é interdito. Um mosteiro onde havia nesse dia uma reunião de monges sob o patrocínio ( é para rir...) do Partido e que esticava no pátio uma grande faixa vermelha onde se lia " Um bom monge é um bom comunista".. Que mais hipocrisia querem que eu  evidencie?
    Honra seja feita à Índia, que não teve medo e que acolheu o Dalai Lama e um hipotético governo no exílio, e muitos milhares de refugiados tibetanos que ao longo dos anos conseguiram fugir através dos Himalaias, Na  cidade  Dharamsala este ano a 6 de Julho vão comemorar-se os 84 anos do IVº Dalai Lama, para vergonha  da China ( se a tivesse!).






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