Publicado no Sul Informação, 13-91-019
Avaliação
de Impacte Ambiental
- a sério
ou faz de conta ? -
Um Governo progressista, numa Europa
civilizada, não pode hoje em dia ignorar que a Política de Ambiente é um pilar
fundamental da governação.
Subjacente à defesa do Ambiente está todo um conjunto de intervenções sobre o
território que determinam o grau de qualidade de vida da população e já não
estamos propriamente agora a iniciar esse processo no nosso país. Desde há mais de 40 anos, quando se criou a
primeira Secretaria de Estado do Ambiente, que progressivamente se foram aprofundando as medidas e as
disposições legais com vista a orientar o País para um desenvolvimento
sustentado, onde o usufruto da Natureza e dos seus recursos, implantados no
nosso território, garantisse a perenidade dos processos produtivos.
Nessa altura Portugal cotou-se entre os
países da linha da frente da Europa no
que concerne ás preocupações com o Ambiente, ainda estávamos longe das
directivas que hoje em dia são apanágio da Comunidade Europeia !
Um dos instrumentos que maior importância têm tido para o
correcto ordenamento do território é sem duvida o dos Estudos de Avaliação de
Impacte Ambiental (EAIA), que em princípio devem estar na base e anteceder
todas as intervenções que, pela sua dimensão e características, possam
interferir com a salvaguarda dos ecossistemas e com o seu equilíbrio dinâmico.
Ora a recente saga do actual Governo sobre a construção de um aeroporto
complementar ao aeroporto de Lisboa, aliás no seguimento de um processo sempre
adiado desde há muitos anos e que revela pelo menos a fraca consistência da
capacidade decisória dos governantes ( e a paciência dos governados…), é mais
um caso paradigmático de querer parecer uma coisa e afinal ser outra.
A importância da dimensão da obra, o forte
impacte no território e o seu volumoso custo, deviam impor que em consciência se fizessem os
estudos necessários para tomar a decisão de qual seria a melhor localização
para o novo aeroporto; em vez disso e ao sabor sabe-se lá de que motivações,
decidiu-se que seria no Montijo e então vamos lá depois ver se tem impacte
ambiental significativo. E por acaso
tinha, o EAIA “chumbou” o projecto do
aeroporto. E agora ? Faz-se novo estudo.
Bom, mas se o projecto de obra é o mesmo
e se as condições ambientais também
não mudaram, que será que o novo Estudo vai decidir ? Ou fazem.se tantos
estudos até que um deles dê certo? a
sério ou apenas fazer de conta ?
Não teria sido mais sério, técnica e cientificamente mais acertado,
menos oneroso em termos de custos ( porque os EAIA custam dinheiro…) e
politicamente mais correcto e transparente ter encomendado uma Avaliação
Ambiental Estratégica ( a UE até oferece um manual para os Governos não
dizerem que não sabem o que é…) e depois então decidir a localização do
aeroporto? Ou o Governo (em que o Ministro do Ambiente diz que não é
ambientalista…) estava á espera que a fauna da Reserva Natural do Estuário do
Tejo, uma das zonas mais importantes da Europa em termos de biodiversidade, se
incomodasse com a obra e se mudasse para outro lugar ?
12-01-019
Fernando Santos Pessoa, arq.º paisagista
O autor
escreve com a antiga ortografia
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