Esta crise anunciada
Estamos no tempo da queda das folhas, tenho aqui em frente duas tílias que já estão de cor amarelo dourado e começam a dar um trabalhão para limpar as folhas que caiem; não me recordo de um início de Outono tão quente como este ano e sem uma pinga de chuva.
Quente também na vida política; não sei se haverá a famigerada crise, mas admira-me tanto "democrata" aflito ou zangado porque poderá ter de haver novas eleições. Essa agora, tal está a moenga, hem? Então eleições não são o testemunho de que a democracia funciona? Atrasa alguma coisa, pois atrasa, mas eu sei que há muitos que não arriscando a dizer "chega de democracia", no fundo preferiam paz e ordem - ora eu já ia para lá dos meus trinta anos e temia nunca mais me ver livre da "paz e ordem". Churchill dizia, mais ou menos, que a democracia é o melhor dos maus sistemas e é isso que temos que ter na cabeça: aperfeiçoar dia-a-dia a democracia. E que os deuses nos livrem de maiorias absolutas seja de que partido for, porque nisso é o mesmo que suspender o parlamentarismo .
Jerónimo de Sousa disse o que outros disseram antes e até eu, que não peso no assunto já o escrevi: pode haver governos de esquerda ou de direita em cada país, que as regras neoliberais da UE é que mandam; significa que as nossas democracias são imperfeitas porque na UE a política não muda - e não quer isto dizer que tivesse de mudar para o marxismo leninismo, claro, bastava que se alterasse entre medidas de esquerda democrática ou direita democrática consoante a maioria que estivesse na mesma UE. Foi essa alternância entre as duas políticas que trouxe à Europa as décadas de mais paz social e maior desenvolvimento no pós guerra mundial - seria essa alternância que traria maior harmonia à Europa de hoje.
O PS de António Costa está amarrado às obrigações ideológicas da UE e a política de mais esquerda que tem feito deve-se à pressão dos Partidos da esquerda radical - que os deuses nos livrem desses partidos serem governo, a economia totalmente planificada já mostrou ao mundo o que dá ( eu visitei vários países desses regimes e nem queiram saber os "paraísos" que encontrei...). A diferença está na China, uma mistura irrepetível de partido único comunista e capitalismo selvagem mundial ( onde é que estão os idealistas do maoismo?... que internamente é uma ditadura implacável e ameaça directamente a ordem universal - quando do outro lado estão uns EUA, exemplo máximo das democracias ocidentais mas onde 50% da população vota num Trump...
Custa a aceitar a passividade que a Europa tem demonstrado no meio destas ameaças á vida democrática, o que revela a confusão que também por cá reina, mas eu sou arreigadamente duas coisas : mediterrânico e europeu. Foi do Mediterrâneo que nasceu a civilização ocidental e foi da Europa, sobretudo da Europa meridional que foram evoluindo as ideias e as convicções culturais e civilizacionais : o exotismo egípcio, a aprendizagem fenícia/libanesa, a origem e o cadinho de ideias da democracia grega, o espirito latino, o Renascimento que rompeu com os tempos escuros da Idade Média, depois o Iluminismo e por aí fora até ao nosso tempo, quando a Europa central e do norte acabou por apreender o que lhe chegava do sul e lhe deu uma forma mais consistente...
Por isso se reconhecemos que, para o bem e para o mal, foi a Europa que determinou grande parte dos últimos séculos da Humanidade, eu tenho esperança que também agora se venha a superara nas suas fraquezas.
A democracia é um regime caro e exigente, só população com elevado nível de cultura e de noção do que deve ser a dignidade da pessoa humana com pleno respeito pelo social e o colectivo.
Por agora basta, quando se começa a reflectir as ideias surgem em catadupa...
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