segunda-feira, 30 de maio de 2022


Uma vida atribulada com viagens e outros afazeres originaram este lapso de tempo em que não consegui escrever  as minhas notas. Recomeço...

Centenário do nascimento de GONÇALO RIBEIRO TELLES

Gonçalo Ribeiro Telles deixou-nos há dois anos e no passado dia 25 de Maio comemorou-se o centenário do seu nascimento. Para além das cerimonias que aconteceram e das individualidades envolvidas, houve um facto estranho - no mínimo estranho - que  foi não ter havido sequer uma palavra do Presidente da República, que se disse sempre amigo dele, que foi a sua casa, pelos 95 anos do Mestre, entregar a Grã  Cruz da Ordem do Infante D. Henrique... Quando uma personalidade qualquer dá um espirro  a página da PR dá logo notícia, Que essa mesma página não se tenha lembrado do G R Telles  no seu centenário...é, no mínimo, estranho.

 Um país na berra 

Portugal está na berra por variados  motivos.

 À frente de todos, às vezes...  - Somos o País com maior taxa ...de infecção pelo covid.19, a famosa pandemia que nos afecta, e que agora todos desprezam; sabe-se que há cansaço social com os confinamentos e as regras de segurança sanitária - por exemplo  a mim custa-me imenso usar a máscara durante horas seguidas nos comboios, dá-me cabo da sinusite- mas uso;  não há cuidado nenhum nos ajuntamentos que se continuam a verificar. Depois "aqui d'el rei" que voltam restrições e então com o Verão à porta ninguém está para se sujeitar a perder liberdade de movimentos e de decisões.  E, como sempre, lá vêm os médicos especialistas uns a dizerem uma coisa e os outros a dizerem o contrário. Não queria estar na pele da sempre fustigada  Directora Geral de Saúde que, se segue a opinião de uns tem os outros  a zurzirem em cima,  de segue a opinião dos outros tem os primeiros em cima. E ainda entra o aproveitamento político das direitas, que se tivessem vergonha estariam caladas porque deixaram o A Costa ter maioria absoluta Tal esta a moenga, hem?

Depois somos os últimos a Europa em termos de crescimento económico, apesar de estarem sempre a tentar convencer-nos que temos um crescimento acima da média da UE. Crescemos mais que a média e estamos sempre na cauda?  Estes economistas gozam com a gente.

PSD em apuros

O PSD lá conseguiu eleger um líder, a meu ver o piro dos dois; entre a postura e o tipo de discurso de Moreira da Silva e a conversa trauliteira do Montenegro a maioria esmagadora  escolhe este. Das duas uma : ou preferem para agora a conversa arruaceira e as proclamações mais direitistas para tentarem ganhar lugar no panorama político português - ou então o nível dos aderentes ao PSD tem vindo a baixar... Porque, se fosse para eleger um futuro Primeiro Ministro, acham que o Montenegro encaixa nesse perfil ?...





quarta-feira, 18 de maio de 2022

O mal está presente no mundo, com  exibições inadmissíveis em qualquer idade, mas absolutamente intolerável no século XXI. Estamos logo a  pensar na guerra que um estupor chamado Putin impôs á Ucrânia e por muitos "mas" e "se" que os que se manifestam contra o "pensamento único" ( aquele que  acusa a Rússia sem culpabilizar os EUA, a UE e a Nato  que, por mutos defeitos que tenham  e muitas intervenções desastrosas que fizeram, neste caso não invadiram a Rússia nem sequer a ameaçaram directamente) fazem malabarismos à escrita ou ao discurso, como o velho Jerónimo e os menos velhos Ferreira ou Oliveira só para não culparem directamente o comunista disfarçado que é Putin - dirigente do KGB, figura maior da URSS,  imperialista ( quem é contra os imperialismos?...). E quem disser estas coisas e anticomunista primário ( ou secundário, ou terciário...) Muito mais grave que a guerra em si é a guerra suja que é praticada, é o mal personalizado, e embora exista contra-informação dos dois lados, as imagens cruas  e os depoimentos dos desgraçados que escaparam à morte  esses não mentem. Os misseis atingem os hospitais e centros de saúde - são alvos militares ? São atingidos como "danos colaterais? É apenas  o mal, puro e negro.

Mas longe de nós há outras manifestações do mal nos seus piores excessos, mas aos quais damos menos valor : no Iémen há mais de 10 anos que se mata friamente, já morreram 233 mil pessoas, lá existem 2,3 milhões de crianças a morrer de fome - e é a "democrática" Arábia Saudita apoiada pelos EUA;  na Etiópia há uns dez anos  que se luta internamente, a par de fomes e secas que dizimam populações sem apelo nem agravo;   em Mianmar para além da violência sobre civis que a ditadura inflige, há uma guerra há décadas, que eu conheci quando lá estive há uns 10 anos, que é a do povo Karen dividido com a Tailândia pela fronteira arbitrária imposta pelos ingleses ( como em várias partes do mundo onde há hoje conflitos); e como lutam pela sua independência são dizimados, as aldeias nas montanhas são destruídas e ninguém no mundo se rala com isso. O povo curdo, com milhões de pessoas é um dos povos mais perseguidos no mundo, desde há séculos porque nunca tiveram ninguém com projecção internacional que os defendas: têm língua e cultura próprias e mais uma vez os ingleses estabeleceram fronteiras do Iraque, da Turquia e da Síria ( aqui com os franceses), sem terem em conta os curdos que ficaram repartidos pelos tres países. Claro que hoje são terroristas e a Turquia faz uso disso para se opor à entrada da Finlândia e da Suécia  na Nato porque o partido curdo revolucionário tem sede na Suécia. E por aí fora não faltam conflitos de pura malvadez na Síria, no Haiti, no Afeganistão, nos países africanos atacados por islamitas  radicais que matam cruelmente as populações civis. Ninguém quer saber.

Liberdade, democracia, república (cont)

Vou continuar mais umas reflexões.

Importa dizer que todos aqueles que hoje atacam com mais ou menos aspereza o regime actual e  as nossas condições de vida pertencem a duas categoria de pessoas : os saudosistas "da ordem e da paz"  (embora fosse paz podre) em que se vivia neste país e onde a única atitude pública possível era obedecer sem apelo nem agravo ( mas já há pouca gente desse tempo ainda viva) ou gene nova que não conheceu as podridões, a miséria muitas vezes escondida pelo regime e o abafamento das consciências revoltadas, mas que ouvem essas diatribes de familiares e amigos sonhadores da extrema direita, revanchista e vingadora porque não aceita as liberdades conquistadas pelo povo e se sentem fadados, lendo as cartilhas fascistas, para voltarem a obedecer e calar porque acham que fariam parte das elites vanguardistas (tão caras aos regimes totalitários de direita e de esquerda)  que estaria acima da arraia miúda.

Tanto uns como os outros, para mim, tenho pena de o dizer, mas não são pessoas normais, têm desvios comportamentais e patológicos que os fazem desprezar o sentimento da liberdade que é inato aos homens e foi apurado ao longo dos séculos, como já vimos.  Um comportamento desses seja em regime de direita seja de esquerda, que aceita perder a liberdade para todos, só pode ter como motivo um desvio de personalidade.

Mas as pessoas "normais", que ainda viveram alguns anos no antigo regime ( os "ancien régimes" são historicamente repositórios do passado que procuram prolongar-se no tempo) não esquecem o que foram esses anos de obscurantismo e de sofrimento para o povo português, por muitos defeitos que a democracia de hoje possa ter.

Com a restauração da democracia em Abril de 1974 abriu-se uma era de deslumbramento e eu creio que aquela Revolução de Abril será a última revolução com algo de romântico a acontecer na Europa e talvez em todo o Mundo, com aquela euforia de quem acreditava que iria nascer um novo tempo em que tudo de bom parecia possível.

Nem os "amanhãs que cantam" que tinham por trás, como todos hoje sabemos,  um projecto de ditadura "popular" ou, como gostam de apregoar, de  "democracia popular", nem os excessos radicais de grupos minoritários e inebriados pelas utopias vanguardistas, nada disso conseguiu assustar os incautos portugueses tão pouco instruídos, tão pouco politizados, ingénuos e confiantes. Depois de uma "democracia orgânica" vir uma democracia popular - então porque não apenas uma democracia "tout court"?

(há-de continuar)





quarta-feira, 11 de maio de 2022

Este blogue

Recebo por mail comentários sobre textos deste blogue e que não publico; a maioria são comentários favoráveis ou com alguns pequenos reparos  e não publico porque,  no sentido democrático em que me movo, se publicasse os comentários positivos teria que publicar também os negativos, o que seria entrar em polémicas que de todo não quero criar. Esta notas são para mim, para memória futura, e se  fico muito satisfeito por, apesar disso, ter quem aceda ao blogue e o comente, não altero este caracter pessoal.

Escândalos

1- Um quadro de Andy Warhol, com um retrato da Marilyn Monroe  esteve á venda por 185 milhões de dólares. Gosto muito da arte de Warhol e tenho gratas recordações da beleza provocante mas sadia (aparentemente) da Marilyn. Agora não deixa de ser um escândalo uma obra de arte atingir um tal valor e haver quem o paga - se calhar não dá 1 dólar para matar a fome   no mundo ou se dá um dólar não dá 185 milhões. E há milhões de seres humanos  a morrerem de fome e de sede, atingidos pelas alterações climáticas ou pelas guerras suja como a que a Rússia impõe à Ucrânia.

Posso ser acusado de hipocrisia ou de falsa misericórdia, mas o certo é  que para mim esta vida neoliberal, de mercados desregulados que recai sobre todo o mundo, tem transformado boa parte da Humanidade em selvagens sem alma, comportando-se que nem os chamados animais selvagens são capazes de fazer.

2 - A Rússia continua a fazer do Mar Negro o "seu" mar e isso perante o olhar receoso, ao que parece, de todo o mundo. É um escândalo, a Rússia não é dona do Mar Negro e seja lá quem for, os EUA, a UE (não acredito) a NATO, enfim países livres que ainda os há neste mundo, deviam enviar uma esquadra para o Mar Negro, não para abrir fogo ou entrar em guerra aberta, mas para garantir que os portos da Ucrânia, como Odessa, continuem a funcionar. Deixaram de sair por lá milhares de toneladas de cereais e leguminosas que fazem falta e originam fome no mundo.








segunda-feira, 9 de maio de 2022

Sinal do tempo

A guerra que Putin faz contra a Ucrânia não nos deixa deixar de pensar na maldade humana levada ao extremo.  Pode haver uma data de queixas da Rússia para certas  situações que assustassem o seu poderio czarista e o levassem  a endurecer posições, mas nenhum país, lá por ser mais forte e poderoso  tem o direito de invadir outro   nem muito menos  fazer o morticínio que hoje acontece. Não é já a guerra em si mesma. é esta guerra suja que os russos estão a fazer. Não se pode comparar - para já... -  Putin com Hitler, pois não ? Mas podem comparar-se os actos de guerra que um e outro fazem ou fizeram. E as diferenças serão nenhumas

Liberdade, democracia, república

Continuando a pensar nestas coisas, depois de falar em poucas palavras de liberdade e democracia, veja-se agora república.

Em democracia a república é, em princípio, o melhor e mais justo dos sistemas políticos, pois o seu objectivo antes de qualquer outro é servir a Pátria ( não devemos deixar de usar esta palavra) e mesmo comparando com as monarquias democráticas há nestas um princípio de  superioridade de um chefe de uma família, de uma linhagem, que escapa à vontade geral de escolher entre os cidadãos qual o melhor, em cada momento, para ser o Chefe do Estado.

Já no século XVII Montesquieu, no seguimento do que antes já escrevera Maquiavel nos finais do século XV,  reconheceu os tres regimes possíveis - república, monarquia e ditadura - e ensinava que a república seria o sistema político mais justo porque a dinâmica da república, o sentimento que a faz durar e prosperar. é a virtude.  a "virtude", a motivação ética, é de natureza republicana, ninguém pode viver com dignidade numa sociedade corrompida onde a virtude seja menosprezada.

Partindo do ideal democrático grego, é certo que imperfeito mas sem dúvida tendo sido nele que reside a base de noções como igualdade da lei para todos, equidade das leis e o direito a todos os cidadãos exprimirem livremente as suas opiniões e anseios, foi-se caminhando ao longo dos séculos, no Ocidente ou melhor na Europa ( é preciso assumi-lo sem complexos), por um processo de mudança de paradigmas e de roturas ( revoluções), para um objectivo de derrube dos edifícios institucionais criados por grupos sociais mais poderosos que pretenderam sempre - aqui como em todos o mundo -  obter o controle e do domínio dos recursos naturais e dos povos menos evoluídos.  

Constata-se que o sul da Europa - Grécia, Itália e até Portugal - contribuiu de forma explicita para o movimento de avanço civilizacional : o Renascimento ( e Portugal com a descoberta do Mundo) e o Iluminismo mudaram as ideias prevalecentes.

A realeza que  aguentou o poder absoluto enquanto lhe foi possível, cedeu lugar, depois da Revolução Francesa,  ao poder constitucional e daqui acabou por se instalar o ideal republicano - e nesta mundialização do processo foram fundamentais as antigas colónias espanholas da América do Sul e inglesas como os EUA, e também do Brasil que era português ( há duzentos anos...).

A utopia democrática portuguesa

Depois da implantação da monarquia constitucional, que os liberais acabaram por estabelecer contra o último bastião  absolutista representado pelos  miguelistas, a chamada Primeira República foi um despertar violento do ideal republicano, mais apercebido por sectores urbanos e por uma elite estrangeirada do que pela maioria da população que era analfabeta, iletrada, agarrada à terra e submetida ao poder paroquial em todos o País.

Desde 1926 em ditadura assumida, depois de 1933 em ditadura disfarçada de "democracia orgânica", Portugal viveu até 1974 sob o jugo de um regime de tipo fascista mas "à portuguesa" - o regime salazarista com o seu final patético do marcelismo.

Não interessa fazer aqui a história desses 48 anos que, quer se queiram quer não, modelaram a sociedade portuguesa, explorando indecorosamente alguns dos sentimentos mais nobres dum velho povo cuja nacionalidade se aproxima dos 900 anos. Já parece que essa fibra se encontrava nos Lusitanos, pastores e caçadores que habitavam esta faixa mais ocidental da Península Ibérica1, uma longa cadeia genética feita também da miscelânea  de povos que por cá foram passando desde há uns milhares de anos.

As primeiras gerações que foram submetidas ao então designado Estado Novo acabavam de sair duramente marcadas pelo descalabro da república e  que em 1910 substituiu a monarquia, mas sem acabar com os vícios que já vinham desta : instabilidade governativa, atentados, revoluções, ódios, endividamento  público- vícios que dificilmente eram compensados perla conquista das liberdades fundamentais porque estas não trouxeram paz social nem  bem estar económico que o povo sentisse.

Curioso é que forma essas virtudes democráticas, abafadas pelo poder ditatorial durante quase cinco décadas que acabaram por ficar guardadas  no mais íntimo de muitos portugueses à espera de um renascer que acabou por acontecer. Muitos de nós sentíamos isso, ano após ano, eleições fraudulentas umas atras das outras, por vezes já quase sem esperança.

Os meus pais, tios e avós viveram em pleno esses tempos e eu pertenço a uma daquelas poucas gerações que puderam ouvir, de viva voz, as narrativas sobre os dezasseis anos republicanos, sem ser pela palavra mais ou menos comprometida de quem era depois a favor ou contra. Conservadores, monárquicos de várias linhas, republicanos radicais e moderados, mantiveram as suas convicções de geração em geração, ao longo da ditadura.

Por exemplo na minha família, da pequena burguesia, conviviam pacificamente as duas convicções, do lado do meu pai o republicanismo agnóstico ( o meu avô José Pessoa foi o primeiro aluno a inscrever-se na Escola Comercial, mal ela abriu coma República, e já  com  os seus 18 anos, e foi um dos fundadores da delegação na Figueira do Partido Evolucionista de António José de Almeida; do lado da minha mãe o catolicismo praticante, um certo conservadorismo e saudosismo monárquico ( o meu tio avô que foi, na prática, o meu avô materno, tinha sido militar nos Lanceiros da Rainha e recordava esses tempos com saudade.

Quase cinquenta anos  de ditadura tinham que, forçosamente, modelar viciadamente,  durante muitos anos, todo um povo nas gerações seguintes a Abril de 74. E isso notou-se sempre, e quando começava a desvanecer-se eis que surgem ideais nacionalistas organizados a romper, como em toda a Europa, e a contrariar os ideais  democráticos.


Vamos falando...





sexta-feira, 6 de maio de 2022

 Liberdade, democracia, republica (cont)

Voltemos então ao que estávamos reflectindo. A lei da sharia é incompatível com a democracia ocidental pois a cultura instilada naquelas sociedades pobres, onde o poder das elites da Religião foi sempre  absoluto,  é a da aceitação de chefias duras e implacáveis e a certeza também implacável de que o Corão é a palavra de Deus (como de resto aconteceu na Europa durante séculos com o catolicismo). Entre nós foram precisas guerras quase intermináveis, massacres, mas também inteligências sublimes e corajosas como Da Vinci, Copérnico,  Galileu, Espinosa e tantos outros para a democracia acabar por triunfar. A religião cristã foi-se actualizando, acompanhando, embora sempre a reboque, a evolução das sociedades e da economia. Enquanto o Islão se não modernizar só os  regimes civilistas de ditadura, como acontece em alguns países, podem ajudar as populações lentamente a adquirirem uma cultura diferente que assente na separação entre a religião e o Estado. Até a laicidade que parecia indiscutível na Turquia de Ataturk já descambou para um regime cada vez mais teocrático como fundamento para a perpetuação no Poder.

Foi sob ditaduras, com arremedos de actos eleitorais, que foi possível que alguns países muçulmanos  da antiga URSS progredissem, embora o marxismo leninista imposto tivesse criado outros tipos de constrangimentos.  Visitei o Uzbequistão e tive ocasião de apreciar como se constituíram elites que hoje aspiram pelas democracia, embora o Poder continue a ser manipulado pelos dirigentes que emergiram da submissão aos russos.

Viajando por esses países é que se apercebe a realidade dessas sociedades; os políticos norte americanos e alguns europeus não conhecem aquilo sobre que decidem actuar ou o mais certo seja que para lá  do pretexto "generoso" da democracia querem é garantir os seus negócios.  Porque, é duro  reconhecer, tentar impingir a democracia ocidental em países de cultura e mentalidade muito diferentes, enquanto uma religião como o islamismo se não reformular em termos de contemporaneidade, teremos sempre como resultado as tragédias do Iraque, da Líbia, do Egipto, da Síria ou do Afeganistão, e a caminhar para lá, a Turquia.

Mas vem a propósito  porque é que os EUA não tentam impingir a democracia em alguns países como a Arábia Saudita ou os Emiratos do Golfo? Será que já são democracias?  E a URSS foi a responsável pela desestabilização do Afeganistão, que eram uma velha monarquia estável nos seus muitos séculos de pequenas lutas internas; quando resolveu impor  a "democracia popular" marxista levou o caos até hoje. Os russos saíram de lá com o rabo entre as pernas e, porque não aprendem nunca, seguiram-se os americanos ...até à desgraça de hoje.

Desde Rousseau que se firmou na Europa como lei universal que só o povo é soberano e só ele pode delegar a sua representação naqueles que o governem. Daí que a justiça seja o principal pilar das democracias, para garantir a equitativa e legal representação das populações e sempre que a justiça falha todo o edifício democrático fica assente em pés de barro.

Baseando-se no conceito ético do bem para todos em igualdade de oportunidades, a democracia é, apesar de  todos os seus defeitos,  a excelência do paradigma politico.

Já Rousseau reconhecia que o governo em democracia deve obedecer à  " vontade geral" que ´é a vontade da maioria do povo, sendo que esta busca o bem comum  e não a vontade e os interesses de cada um ou de cada grupo. Daí que a escolha dos representantes da vontade geral deva recair naqueles que derem mais garantias de servirem essa mesma vontade geral e o bem público e não servirem-se a si próprios e aos seus grupos de interesses.

Como estamos longe desse desiderato...

Vamos continuar pensar nestas coisas...











terça-feira, 3 de maio de 2022

 Semelhanças e incongruências

Os argumentos iniciais de Putin para fazer a invasão dos  países limítrofes e ameaçar com a 3ª guerra mundial são a protecção dos núcleos de russófonos e russófilos e a manutenção da sua zona de influência em segurança.

Quais eram os argumentos de Hitler para iniciar a 2ª Guerra Mundial? A protecção de todos os povos germanófonos e germanófilos e a manutenção do seu "espaço vital", esta a expressão usada e quer dizer o mesmo que zona de influência.

Repare-se na semelhança de argumentos entre um chefe nazi e outro chefe - quê? só  nacionalista, comunista?...-, um em meados do século XX e outro no início já avançado a caminhar para meados do século XXI.

Quem apoiava as intenções dos alemães? Tanta gente, cá em Portugal, em Espanha... até um ex-rei de Inglaterra.

Quem apoia agora as intenções dos russos? Os comunistas do PCPortuguês e certamente outros por esse mundo fora; mas então estes não estiveram contra os nazis, fascistas e pela liberdade e independência de todos os povos contra o domínio estrangeiro? ? E agora, por razões idênticas apoiam os putinistas?

Há tropas ucranianas a invadirem a Rússia? Ou há tropas russas a invadirem a Ucrânia ? O velho Jerónimo nem dobra a língua para dizer invasão, é apenas uma operação militar especial - especialíssima !!

Semelhanças e incongruências.






domingo, 1 de maio de 2022

Antes de continuar com as minhas reflexões mais ou menos filosóficas, abordo rapidamente dois casos, um que é de Justiça

- Ouvi há dias na rádio que dois tribunais, incluindo um da Relação, no caso de uma mulher que desmaiara na casa de banho duma discoteca e foi violada por dois homens, um deles o barman, atribuíram aos agressores uma pena suspensa por considerarem que a ofensa não teria sido grave e o sofrimento físico da vítima de pouca importância. Leram bem ? Que juízes temos nesta democracia ? No anterior regime, que também se dizia de democracia mas "orgânica", os agressores de violação eram também considerados de pouca importância e também sofriam penas suspensas.  Nunca chegou o 25 de Abril à justiça ?!! Não, desde que deixaram fugir os PIDES  da cadeia ( e encontraram emprego onde?), depois da vergonha que foi o julgamento do assassinato de Humberto Delgado, depois de Cavaco Silva ter concedido pensões por bons serviços a dois pides e ter recusado ajuda a Salgueiro Maia... É importante mantermos a memória em dia!

- Outro caso continua a ser o apoio dado pelos PCP e alguns comunistas ao estupor do Putin. Só pela aversão aos EUA, e a Nato ( ainda se houvesse o Pacto de Varsóvia, era bom, não era?)  estes tristes comunistas apoiam as acções criminosas que podiam estar a ser  feitas pelas SS do Hitler. O patético Jerónimo continua com a mesma cassete de sempre, o "apoio aos trabalhadores e ao povo"- quer dizer que  há trabalhadores que não são povo e há povo que não é trabalhador... Parem com isso. 

- E o que sucedeu na Câmara Municipal de Setúbal, é escandaloso, tem de haver mão pesada para estes delinquentes comunistas e emigrados russos pro-Putim ( recambiem-nos para lá, fazem lá falta) que se aproveitam da permissividade da democracia para perpetrarem as suas aleivosias. A permissividade da democracia que eles insultam, se  é a grande qualidade dessa democracia  também é a sua grande fragilidade - tem que se defendida contra estes alarves que dela  se aproveitam.

Liberdade, democracia, república

Pensar e desenvolver reflexões é um bom motivo para ocupar algum tempo das nossas vidas.

Não temos que ser todos doutores,  luminárias intelectuais, pensadores reputados pela profundidade do seu pensamento, devemos apenas ser cidadãos devidamente informados e formados.

Informados por uma instrução que, ao fim  de quase 50 anos de regime democrático, devia ser de um nível muito mais elevado, com uma escola pública que ajudasse a pensar e não fosse apenas uma forma de saber ler e contar - e grande parte da juventude lê pouco e mal, escreve mal, e tem uma cultura geral muito reduzida - eu vejo pelos meus mais próximos ao longo dos anos. Confrange, embora me digam que sabem outras coisas que eu não sei - e é verdade, mexem à vontade na internet e nos tlm, sabem programação e outras tecnologias, mas tudo isso não passa de ferramentas.  Como apanhei muitos alunos  sempre no 1º ano de entrada na Universidade, enquanto dei aulas durante quase 27 anos, pude sempre testemunhar a insuficiência do ensino nos níveis inferiores, no que concerne a dar cultura geral à juventude.

Mas para lá da informados também falham os incentivos para serem formados, para serem  cidadãos plenamente conscientes do seu lugar numa sociedade democrática. Veja-se como a juventude adere em grande número aos populismos e às ideias mais autoritárias precisamente, acho eu, porque os regimes democráticos têm falhas imperdoáveis, não combatem a corrupção, dão exemplos quotidianos de clientelismo e favorecimento de quem tem este ou aquele cartão...  E há um perigo eminente, para lá da atracção da extrema direita, que é o advento do neoliberalismo, que emerge ciclicamente  com críticas acertivas aos regimes de maior tendência social, fazendo por esquecer que são eles liberalistas  ( porque liberais sonos nós todos, eles abusam do termo liberal) que garantem a sociedade democrática e livre - a sociedade onde os ricos serão cada vez menos mas cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais e mais pobres. Foram estes ciclos da sociedade de mercado livre que a trouxeram as grandes tragédias, a para das que os diversos marxismos também originaram.

A população portuguesa, coim uma formação de nacionalidade das mais antigas da Europa, tem características que podem potenciar a construção de uma sociedade equilibrada, dinâmica, desde que seja enquadrada por dirigentes capazes e competentes, o que tem falhado redondamente- é preciso reconhecer.

Opinião pública formada culturalmente  significaria, no meu modo de ver, ter acesso desde os bancos da primeira escola a noções de civismo, de ética, de compreensão da complexidade ambiental, de conhecimentos gerais que vão para lá das revistas cor-de-rosa e das telenovelas  de faca, alguidar e traições .

Pode parecer estar a ser presumido mas a verdade é que uma boa parte dos governantes vão á ópera ( os que vão), lá esportulam uma baixa percentagem para a cultura, mas não escapam á sua capacidade tecnocrática e resumida á retórica que cai sempre bem... Por isso também não dão grande exemplo ao comum dos mortais...

Parafraseando o grande poeta, pode dizer-se que o povo sonhou a democracia, a democracia fez-se - falta cumprir-se Portugal.

A liberdade Todos os autores desde os mais recuados tempos da cultura ocidental referem a liberdade como sendo um sentimento que faz parte da própria natureza humana.

No século XVII Espinosa proclamou que a liberdade é inalienável, a liberdade inata, natural e que antecede a liberdade que nos é outorgada pelas leis que nos governam.

Como qualquer outro ser vivo superior, o homem procurou no início satisfazer as suas necessidades primárias, sem outra preocupação que não fosse sobreviver para si a e para o seu primeiro agregado social,  a fêmea e os filhotes. Progressivamente, pelas compreensão de que a sua seguranças estaria melhor salvaguardada se reunisse os seus próximos em estruturas gregárias e fez nascer as relações sociais- começou a impor-se o domínio da Razão. Nesse começo ( e ainda hoje  em muitas sociedades primevas) não existiria a noção do meu, do teu, do que é justiça. O ser humano era inocente, sereno e livre como qualquer animal superior, como primata superior na cadeia evolutiva.

Foi a Razão que deu ao homem, a capacidade  de perceber porque devia viver em sociedade e adoptar medidas e leis sociais, até chegar à noção  de Estado, depois de ter passado pelo clã e  pela tribo . A  liberdade  foi sempre . daí em diante, a principal luta dos homens.

" A liberdade é um bem supremo cujo preço não se  discute" - (Pierre Mendès-France, 1968)

A democracia O que é a democracia ? Escreveu António Sérgio, nos anos 30 do século XX " é, sob o ponto de vista político, o regime em que são fiscalizados os governos pelos representantes da opinião pública e em que os representantes dessa opinião pública votam as bases da legislação..., buscando a progressiva igualização de todos os membros da sociedade".

O ideal democrático baseia-se  no primado da soberania da lei; a superioridade  moral   de uma sociedade assenta antes de tudo o mais na relação essencial entre Ética e Política. Só não é assim em regimes de ditadura, como o mundo nos tem  largamente documentado  e ensinado - e os portugueses bem sabem o que foram os 48 anos  da tal "democracia orgânica  e corporativa".  na ditadura prevalece a vontade absoluta da clique que assumiu o Poder e rodeia o ditador endeusado como o pai e o salvador da Pátria
Para quê relembrar estas coisas evidentes ? Porque todos os dias, neste nosso estranho tempo,  essas "coisas" voltam a ameaçar a nossa democracia até em países onde se julgava que isso não aconteceria  (EUA, França...).

Penso que devemos insistir na  denominação de democracia ocidental, porque foi daqui, da Europa e depois da América do Norte, que saiu o Estado de Direito, aquele que assegura o primado das leis sobre os indivíduos sem os amordaçar e o interesse colectivo sobre o individual sem  este sufocar.

Um dos grandes equívocos que, no meu pensamento, se tem cometido a nível mundial, tem sido a exportação forçada do modelo  democrático para povos que não estão culturalmente preparados para o receber. Pode parecer uma promoção da superioridade de uns povos sobre outros, mas o certo é que nós, europeus ou ocidentais de raiz judaico-cristã, também não aceitamos as  regras de outras formas de vida em sociedade. Isto é particularmente  evidente  nos países muçulmanos e por se tentar ignorar este facto está a gerar conflitos catastróficos e sofrimentos em várias partes do mundo.  No Oriente há um povo que apesar de ser uma sociedade budista  absorveu na integridade a democracia ocidental -  é o Japão.

Gosto de repetir até à "saturação " que a democracia como a conhecemos no  Ocidente foi uma conquista dos povos europeus depois de séculos de lutas e de uma evolução lenta que custou o sacrifício de milhares de seres humanos enforcados, guilhotinados, queimados em fogueiras ou fuzilados; foi uma conquista contra a religião e o poder feudal e imperial só possível porque se formaram sociedades prósperas onde ocorreram o Renascimento, as Luzes e o Iluminismo, a Revolução Francesa - os povos passaram a dispor de melhor distribuição das riquezas., embora sempre mal distribuídas, é certo,   ( e ainda hoje !), a Igreja acabou por aceitar e a religião foi-se também reformando com o correr dos tempos, para isso tendo contribuído o cisma dos protestantes.

Ora com o Islão nada disto se passa.

A lei da sharia é absolutamente contrária a uma democracia contestatária, baseia-se em documentos e ideias do século VII que nunca foram revistos porque são considerados sagrados; não permitem qualquer abertura dos usos e costumes e tudo tem a sua justificação histórica .

Vai continuar