sexta-feira, 6 de maio de 2022

 Liberdade, democracia, republica (cont)

Voltemos então ao que estávamos reflectindo. A lei da sharia é incompatível com a democracia ocidental pois a cultura instilada naquelas sociedades pobres, onde o poder das elites da Religião foi sempre  absoluto,  é a da aceitação de chefias duras e implacáveis e a certeza também implacável de que o Corão é a palavra de Deus (como de resto aconteceu na Europa durante séculos com o catolicismo). Entre nós foram precisas guerras quase intermináveis, massacres, mas também inteligências sublimes e corajosas como Da Vinci, Copérnico,  Galileu, Espinosa e tantos outros para a democracia acabar por triunfar. A religião cristã foi-se actualizando, acompanhando, embora sempre a reboque, a evolução das sociedades e da economia. Enquanto o Islão se não modernizar só os  regimes civilistas de ditadura, como acontece em alguns países, podem ajudar as populações lentamente a adquirirem uma cultura diferente que assente na separação entre a religião e o Estado. Até a laicidade que parecia indiscutível na Turquia de Ataturk já descambou para um regime cada vez mais teocrático como fundamento para a perpetuação no Poder.

Foi sob ditaduras, com arremedos de actos eleitorais, que foi possível que alguns países muçulmanos  da antiga URSS progredissem, embora o marxismo leninista imposto tivesse criado outros tipos de constrangimentos.  Visitei o Uzbequistão e tive ocasião de apreciar como se constituíram elites que hoje aspiram pelas democracia, embora o Poder continue a ser manipulado pelos dirigentes que emergiram da submissão aos russos.

Viajando por esses países é que se apercebe a realidade dessas sociedades; os políticos norte americanos e alguns europeus não conhecem aquilo sobre que decidem actuar ou o mais certo seja que para lá  do pretexto "generoso" da democracia querem é garantir os seus negócios.  Porque, é duro  reconhecer, tentar impingir a democracia ocidental em países de cultura e mentalidade muito diferentes, enquanto uma religião como o islamismo se não reformular em termos de contemporaneidade, teremos sempre como resultado as tragédias do Iraque, da Líbia, do Egipto, da Síria ou do Afeganistão, e a caminhar para lá, a Turquia.

Mas vem a propósito  porque é que os EUA não tentam impingir a democracia em alguns países como a Arábia Saudita ou os Emiratos do Golfo? Será que já são democracias?  E a URSS foi a responsável pela desestabilização do Afeganistão, que eram uma velha monarquia estável nos seus muitos séculos de pequenas lutas internas; quando resolveu impor  a "democracia popular" marxista levou o caos até hoje. Os russos saíram de lá com o rabo entre as pernas e, porque não aprendem nunca, seguiram-se os americanos ...até à desgraça de hoje.

Desde Rousseau que se firmou na Europa como lei universal que só o povo é soberano e só ele pode delegar a sua representação naqueles que o governem. Daí que a justiça seja o principal pilar das democracias, para garantir a equitativa e legal representação das populações e sempre que a justiça falha todo o edifício democrático fica assente em pés de barro.

Baseando-se no conceito ético do bem para todos em igualdade de oportunidades, a democracia é, apesar de  todos os seus defeitos,  a excelência do paradigma politico.

Já Rousseau reconhecia que o governo em democracia deve obedecer à  " vontade geral" que ´é a vontade da maioria do povo, sendo que esta busca o bem comum  e não a vontade e os interesses de cada um ou de cada grupo. Daí que a escolha dos representantes da vontade geral deva recair naqueles que derem mais garantias de servirem essa mesma vontade geral e o bem público e não servirem-se a si próprios e aos seus grupos de interesses.

Como estamos longe desse desiderato...

Vamos continuar pensar nestas coisas...











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