terça-feira, 12 de julho de 2022

O reverso 

O primeiro comentário sobre esta guerra suja foi para interpelar  quem tem um visionamento  enviesado e não é capaz de ver a raiz imediata do mal. Ninguém duvida que do lado de cá também  há a distorção dos acontecimentos e, sobretudo, dos antecedentes que  condicionam o julgamento.

Os EUA deixaram a Europa por sua conta, a seguir a Trump, mas também com Biden, que nesse aspecto continuou a praticar a ideia do America first - mas esta afinal justa ambição de cada país,  pôr o seu país em primeiro lugar, não devia ter feito esquecer que, por muito importante para os EUA que seja colocar- se  frente a frente com a China ( e agora com a Rússia, dada como moribunda até Fevereiro deste ano) a sua própria defesa e aliança têm que ser com a Europa.

E não há dúvida que a Nato e os EUA têm armado muitos países que,  se não afectam directamente Rússia, afligem a sua sensação de insegurança. Recorde-se o que os EUA fizeram quando a União Soviética ( de saudosa memória...) pretendeu colocar mísseis em  Cuba...

Ninguém acredita que algum país da antiga URSS que seja hoje independente tenha a mínima  intenção de provocar a Rússia e muito menos de a atacar; a Ucrânia, por questão da sua própria segurança, deveria ter-se abstido sequer de pensar fazer parte da Nato - embora qualquer país livre  e independente tenha o direito de seguir o seu caminho como entender. Mas por uma questão de sensatez inter-regional a Nato não deveria implantar-se na Ucrânia, como não o  deve  fazer na Geórgia e outras nações circum-marginais da Rússia.

Agora o que se vai tirando da estratégia de Putin e das palavras que saem dele e de alguns responsáveis  a quem  ele dá ordem para falar, é que qualquer pretexto serviria para ele  invadir e tentar anexar toda a Ucrânia como fez com a Bieolorússia que não passa, na prática, de uma província russa.

E isto altera as coisas; os países limítrofes com a Rússia têm que sentir  que têm apoio do Ocidente, ocidente que é muito mais vasto do que só Europa e EUA. 

Portanto há um imperialismo russo-soviético frente a frente com o imperialismo americano. E este, com  o apoio de países ocidentais e abusivamente da Nato, tem feito guerras e atentados por todo o mundo que não poderemos esquecer. No Médio Oriente, no Vietnam, na Líbia, no Afeganistão... E todos os liberais se recordam como estiveram nas ruas em manifes contra esses abusos. Na Líbia, onde passei uns dias nas "vésperas" da morte de Kadafi,  foi um erro tremendo em nome de uma democracia que nunca chegará. Já no Afeganistão a primeira culpa foi da URSS que chegou a um pais onde só havia pequenos e históricos conflitos inter-étnicos sem expressão no  exterior - era uma monarquia mais ou menos estável - e implantou um regime comunista apoiando-se num pequeno partido marxista local e  no exército que invadiu  e ocupou país. Os russos acabaram por sair de lá com o rabo entre as pernas e deixaram o caos  - a palermice do americanos foi a mesma,  julgando que davam apoio a uma elite ocidentalizada, também sem perceberem o que era a historia e a alma daquelas etnias.  Imperialismo russo versus imperialismo americano...

Há por isso no mundo quem não goste do que a Rússia está a fazer à Ucrânia mas também desconfie, e com razão. dos EUA. Porém alguns vão mais longe e tentam desacreditar a imagem do Zelensky pela a sua capacidade de captar a atenções que lhe advém  certamente da sua profissão de actor - mas ainda bem, prova a sua qualidade.  Agora fazer desta sua profissão e da capacidade que lhe dá para enfrentar a comunicação como um aspecto negativo, é pouco digno de quem o faz. E um dos que o faz cá, por exemplo,  é o Miguel Sousa Tavares nas suas crónicas semanais, embirra com Zelensky, pronto; agora o Lula, que até desempenha um papel fundamental no Brasil apesar da malta que o rodeou (e ainda rodeia?..), que não tem preparação intelectual e que, pelas suas  qualidades próprias, fala e escreve com desenvoltura, vir denegrir o Zelensky por se estar a servir da sua qualidade de actor para fazer figura internacional, como se ser actor seja pejorativo - bem, é mais um sinal em  como as personalidades das pessoas  são tão variáveis .

Mas para ficar agora por aqui, eu apesar de sempre me ter manifestado contra a "estupidez natural" dos americanos ( um país que elege um Trump - mas... e um país que elege um Cavaco?...), entre o imperialismo russo que acaba com todas as liberdades individuais salvo as que ele deixa exercer, fecha a liberdade de expressão numa censura  completa, que impõe regras arbitrárias de poder pessoal e da camarilha que o protege e com  ele enriquece, e o imperialismo americano que me deixa ser livre no meu país, ( já sei que não há verdadeira liberdade!!) que me permite que o critique tal como aos meus governantes, com liberdade mas com responsabilidade, e daí não me venha qualquer enxovalho - entre estes dois imperialismos  qual é que eu devo preferir?

Percebo ( custa-me a perceber, mas enfim...) aqueles que gostam de receber ordens sem discussão, como eu vi que acontecia nos países da Europa de Leste ou de Cuba,  que visitei, onde só os do Partido único têm regalias, onde se endeusa o chefe e os anjos que o rodeiam, esses gostem do Putin com esperança que volte a saudosa política do grande sol da humanidade...   São os que se servem das facilidades de livre expressão dos regimes democráticos (regimes em que  uma das suas fragilidades  é  uma das  suas grandes virtudes!) para imporem o outro regime em que só eles podem falar. 

Que esquisitos que são os seres humanos !!









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