Um ano
"Festeja-se " por alguns lados, o primeiro aniversário da guerra que Putin desencadeou na Ucrânia. Para os que apoiam um ditador e megalómano, como todos os ditadores, pretendente a ser um novo czar e restaurador do saudoso Império soviético, os culpados foram os EUA, a NATO e a EU, por terem dado força ao desrespeito pelos acordos de Minsk. Claro que estes têm culpas no processo, mas quem é que invade e quem foi invadido? Não é que aqueles não tenham culpas no cartório, sabemos bem que houve provocações mas as provocações não se resolvem com uma guerra, a não ser que haja outros propósitos ... O fundo da questão é outro...´
E lá vem a História contada por historiadores "credíveis" como o Manuel Loff, Escreveu ele no Publico, que um ciclo foi aberto com a invasão americana do Afeganistão e do Iraque; esqueceu-se dizer que enquanto muitos de nós, como eu e milhares de europeus democratas, simplesmente democratas, protestaram sempre na rua contra os desmandos dos EUA, no Vietnam, no Iraque, no Afeganistão, etc, nunca fomos mobilizados para protestar contra idênticas façanhas prosseguidas pela URSS de saudosa memória.
Por exemplo que quem desestabilizou o Afeganistão - que era um país de seculares lutas tribais mas não passava daí e que por fim tinham encontrado um rei aceite por todas as tribos - foi a URSS, que invadiu aquele país para apoiar um pequeno partido comunista e instalar lá a sua maravilhosa democracia popular, desencadeando a fúria de todas as tribos - e nasceram os talibã. Acabaram por sair de lá com o rabo entre as pernas e nunca conseguiram incluir o Afeganistão nos países que compunham o seu império e onde hoje lavra uma raiva surda contra os russos ( eu estive no Uzbequistão e falei com as pessoas...). Depois vieram os americanos que são pouco dados à História e pouco clarividentes e foram para lá implantar o seu capitalismo espúrio- e fizeram a asneira que já tinham feito no Vietname.
Mas voltemos ao acordo de Minsk. Em 2013 houve na Ucrânia, em Kiev, a "euromaidan", a revolução contra os pro -russos do Governo e que tinham recusado estabelecer um acordo com a UE. O Parlamento de então, que se julgava fosse fiel ao Presidente, afinal queria a adesão à Europa ( oh! escândalo, trocar a Rússia pela UE !!) e destituiu o dito Presidente.
A Crimeia foi anexada â Ucrânia pelo Krustchev ( imperdoável atitude da sacrossanta URSS) e voltou a ser confirmada no tempo de Ieltsin. Em 2014 uma parte dos russófonos da Crimeia instigados por Putin revoltaram-se, tomaram o Poder e proclamaram um referendo que naquelas condições já se sabia o que iria dar. Porque realizado em tempo de paz mesmo muitos dos russófonos prefeririam continuar ucranianos embora com autonomia o que era razoável. E em meados de Março Putin promulgou por diploma a anexação da Crimeia ou, como ele diz, a libertação da Crimeia face aos nazis ucranianos. Claro que a Ucrânia fez guerra, tentou travar a anexação, mas aqui é que a História começa ser contada às avessas.
Como a Europa e o Ocidente em geral ficaram calados perante a anexação da Crimeia, foi aqui que Putin deu prova da sua mediocridade - pensou que agora voltar á Ucrânia seria um passeio de quinze dias. Claro que todas as democracias têm que ajudar os ucranianos, um país invadido tem o direito absoluto, tem até o dever, de pedir o auxílio seja a quem for,
Na Assembleia Geral da ONU 100 países votaram contra a Rússia, 5 votaram a favor e os restante cerca de 50, abstiveram-se. Claro que para Putin nada disto interessa, ele já deixou bem claro por diversas vezes, que o seu objectivo é recuperar o império da URSS - e é aqui que os comunistas embandeiram em arco e batem palmas. Querem lá saber que o povo ucraniano tenha sido invadido, eles querem é rever a saudosa URSS, mesmo que o comunismo não volte a ser lá implantado, antes um capitalismo desnaturado liderado por oligarcas ( Putin é um dos homens mais ricos do mundo) formados no tempo soviético e que nunca mais deixarão que o comunismo voltasse.
O que Putin faz é servir-se da pouca cultura da maioria do seu povo, servir-se da falta de consciência do que é a liberdade - um povo que foi sempre tratado como servos da gleba, que nunca conheceu a liberdade "burguesa" onde os comunas afinal gostam de viver.
O terror de Putin é ver-se rodeado por países que escaparam ao seu controle, quando a URSS se desmembrou ( uma tragédia, diz ele )e que querem cultivar a liberdade e a democracia, mesmo que esta seja ainda uma "aproximação", estejamos disso conscientes, como na Ucrânia, ou como na Hungria, na Polónia... O que marca esses países ( e os do Cáucaso e das antigas republicas asiáticas) é verem-se livres da pata russa, que sempre os oprimiu. E Putin sabe que sem esses países todos submetidos, a Rússia é grande mas nunca será aquilo que já foi. Se Putin esmagasse agora a Ucrânia que não restem dúvidas que a seguir iria acabar as tragédias que provocou na Chechénia, na Geórgia, vai querer a Moldávia e depois se verá o que mais. Onde não volta com certeza é ao Afeganistão...
Hei-de continuar a pesquisar informações sobre esta tragédia de uma guerra na Europa em pleno seculo XXI, com o gáudio mal disfarçado de alguns portugueses que vivem em democracia ( que gozam e exploram) mas que queriam viver noutra coisa... Eu fui um dos apoiantes da geringonça que incluía o PCP e trazia um sopro de esquerda ao governo do PS - ainda bem que foi antes desta guerra!...
Viver em democracia é exigente demais para fanáticos do poder como Putin que diz combater o nazismo, não faz afinal coisa muito diferente. As atrocidades que os seus militares têm cometido na Ucrânia nem as SS do Hitler as fizeram tão descaradamente e sem sequer um pouco de piedade.
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