Frustração e ética na vida pública
É inevitável revisitar estes temas,
perante a geral apatia que eles geram na opinião pública. Já vimos a CAP e a
CNA manifestarem-se contra a situação da agricultura, sabemos que algumas ONG
tem tomado posição face à situação do Ambiente. Mas se houvesse um décimo da
garra dos professores ou do pessoal da saúde, os sectores fundamentais que
garantem o futuro estariam na ordem do dia – e não estão.
Pouca gente parece preocupar-se com os
aspectos que têm a ver com políticas de médio e longo prazo que visam a
sustentabilidade e a perenidade do território enquanto espaço biofísico. Sei
que sou uma voz quase isolada…
Tenho perfeita consciência de que os
novos "iluminados" definem aqueles que defendem posições como as
minhas como ultrapassados, porque - embora as noções básicas de que falo sejam
resultado de largo consenso internacional ao longo de muitas décadas - pensam
agora que descobriram o segredo do fabrico da pólvora ( e os interesses que, no
fundo, estão a servir).
Por um lado a fragmentação do sector primário terrestre (veremos o que sucederá com o mar), separando os
sectores agrícola e florestal e esquecendo (propositadamente, como estratégia
bem definida e que sabemos a quem aproveita ) que o sector deve ser - é - agro-florestal
e dessa forma desprezando as críticas e pareceres que ao longo do tempo têm
vindo a lume de técnicos e de
associações de produtores "agro-florestais"; por outro lado o desmantelar da Política de Ambiente que surgiu
em Portugal com o Abril de 74 ( e já com atraso face aos países mais
avançados), voltando a manter a Conservação da Natureza (CN) presa às florestas
como era há 50 anos atrás. Mas pior ainda -e isto também não foi por ignorância, antes com um fim preconcebido - retirando do Ambiente o Ordenamento do Território
(OT) - brada aos céus e, volto a insistir, não tem havido. como se poderia
esperar, uma viva reacção enérgica de ambientalistas e suas organizações e muito menos da população para quem estes assuntos passam ao lado.
A grande inovação das preocupações
ambientais criadas em Portugal com o regime democrático, acompanhando os
movimentos de pensamento mais proeminentes internacionalmente, foi ter lançado
como dois pilares da defesa e gestão do
Ambiente a CN e o OT, que estiveram na base dos instrumentos legais
fundacionais da Política de Ambiente como são a REN, a RAN, os PDM, os PROT e a
Rede Nacional de Áreas Protegidas- e mal de aguentaram até hoje. Já no Governo de Durão Barroso houve uma
tentativa de dois Secretários de Estado para promoverem esta manobra, anulada então pelo Ministro Eng. Amílcar Teias. Demorou, mas tudo começou a ficar de rastos
nas últimas governações e agora culminou neste desastre institucional.
O primeiro ministro António Costa poderá
ser um grande estratega político e capaz de enfrentar situações graves momento
a momento, nomeadamente na Europa, mas tem sido responsável por uma confusão
insuportável de falta de ética com a sua maioria absoluta e. pior, não tem revelado sensibilidade
nem conhecimento, profundo e sustentado, para se libertar de interesses de
mercado incompatíveis com uma esquerda democrática e assumir perspectivas e
medidas de médio e longo prazo para o território - e isso é grave porque se
ignora que estamos sob ameaças climáticas nas nossas condições mediterrânicas.
Fica a frustração!
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