A sociedade e a tecnologia
Hoje ouvi na Antena 1 um pedaço da crónica do veterano Sena Santos em que referia um livro dum autor, creio que americano ( não guardei na memória...) tratando de um assunto em que penso muitas vezes. Penso eu e todos nós, estou certo, desde que tenhamos alguns conhecimentos culturais e científicos - isto é, tenhamos um mínimo de cultura : o efeito que as imensas e novas tecnologias virão a ter, ou estarão mesmo já a ter, sobre as sociedades, as suas estruturas e o seu futuro humanista ( e humano...).
É já impensável admitir a nossa sociedade sem tecnologias de comunicação e sem internet, e esquecer as enormes vantagens que elas trouxeram à Humanidade.
Não se trata de questionar o uso das tecnologias, mas sim o abuso que delas se faz. Em qualquer lugar e em todas as situações o que vemos ? Seja nas paragens dos autocarros, seja dentro dos transportes, seja nas salas de espera dum consultório médico ou do hospital, nos pátios das escolas , nos intervalos das aulas ( e às vezes mesmo dentro da sala de aula...), nos cafés, nas reuniões de amigos - e em família, nas nossas casas - toda a gente está agarrada a um zingarelho com "phones" ou sem eles, a comunicar, a jogar, a consultar a net, a fazer quase tudo menos conversar uns com os outros, repete-se, mesmo na família.
É quase impensável impedir os filhos e os netos de estarem agarrados a um qualquer aparelho dessa panóplia que a sociedade de consumo nos impinge constantemente, às vezes com pequenas alterações de funcionalidades e de aspecto, mas o suficiente para atrair a cobiça do pessoal!
Falta um estudo sério e exaustivo, pelo menos é o que penso, que analise como as sociedades estão a evoluir e a reagir a esta situação e o que pode resultar de negativo ( ou de positivo, quem sabe?) deste abuso das novas tecnologias.
Um dos aspectos que se foca normalmente é a perda da vontade ou do hábito de ler livros impressos. Poderíamos pensar que não é assim atendendo, num pequeno mercado como o português, ao número impressionante de títulos de livros que saem todos os anos e ao número de pequenas e grandes editoras que tem sobrevivido. Mas nos nossos contactos, até em nossas casas, certamente que reparamos que os nossos adolescentes na sua maioria pouco ou nada lêem impresso - ou será um juízo precipitado?
Um outro aspecto que já vi referido embora escassamente, é a perda da capacidade de manipular que foi a arma da evolução do ser humano desde os seus primórdios. Desde a mais tenra idade, mesmo antes de saberem falar e articular frases, as nossas crianças aprendem a bater nas teclas dos aparelhos. Será que as actividades escolares de artes criativas ( os antigos trabalhos manuais...) compensam a pouca utilização da mão humana para realizar actos de criação e de manipulação de materiais e equipamentos manuais ?
Que efeitos a médio e longo prazo esta perda da manipulação pode acarretar para o desenvolvimento do cérebro humano e das suas capacidades criativas ? Hoje a maior parte do tempo dos jovens e dos adultos é a bater com os dedos no mesmo movimento em teclas ou a "clicar" em indicadores de monitores. Acho que nos devíamos todos preocupar um pouco mais sobre estes assuntos, por mais que pareçam caturrices de "velhos do Restelo"...
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