sábado, 9 de novembro de 2019

A espuma dos dias


1 -  E isto é sem maioria absoluta...    
Sem maioria absoluta qualquer Governo faz o que lhe apetece e não dá cavaco a ninguém. Quando falta essa maioria, a democracia funciona...
Não faltava água no Tejo, dizia o MAAC;  tres dias depois o mesmo Ministério vem dizer que afinal não há memória de um caudal tão baixo.
Um simples despacho daria monopólio ao grupo Mota Engil para recolha e tratamento dos resíduos sólidos; graças ao Orlando Borges, à frente da ERSAR, e com o apoio na Justiça, uns dias depois o mesmo Ministro é obrigado a revogar o despacho...
O processo da concessão para a exploração do lítio cheira a esturro, lá isso cheira; mais uma vez a ganância e o querer impor o poder à força sobre as populações está na base da forma atabalhoada (é o mínimo que se pode dizer) em que se retira a concessão a uma empresa e se dá a outra criada especificamente para isso tres dias antes, sem concurso publico...  E temos todo o direito em questionar, porque se duvida da seriedade de todo o  processo,  em que medida serão minimamente acauteladas as condições de protecção do Ambiente e de Conservação da Natureza em regiões ecologicamente tão sensíveis como são aquelas para onde se aponta a exploração. 
Agora imagine-se que existia maioria absoluta...
2 - Miséria moral
Constantemente nos chegam as notícias de corrupção quer de alto gabarito quer daquela mais  rasteira e miserável, em instituições, na classe política  ou autárquica, no sector da saúde, etc.
O caso daquela criança que nasceu profundamente deformada por erro do médico que observou a mãe, tem agora contornos piores ainda. A clínica que fazia as ecografias sem estar autorizada para isso recebia as credenciais do Centro de Saúde sem ter qualquer contracto com o Estado e enviava os documentos para outra clínica que cobrava  o custo dos exames. Tantas parangonas a favor das instituições de saúde privadas e tanto mal dizer do SNS e afinal de vez em quando sabem-se coisas destas ( fora aquelas que não se descobrem...por enquanto).
O actual Bastonário da Ordem dos Médicos que é um dos maiores críticos do SNS, e está sempre a tentar desculpar os problemas dos médicos com a falta de eficiência do serviço público ( a ideologia partidária vem com frequência ao de cima nestas questões) acabou ( vá lá!...) por pedir desculpa aos portugueses pelos erros terríveis cometidos pelo médico que causou o trágico nascimento do bébé mal formado. Tanta eficiência que exige aos outros e só agora é que descobriu a quantidade de processos contra médicos que estavam pendentes ou arquivados na Ordem.
A miséria moral revela-se também no caso daquela mãe a quem foram tirados os filhos  por um parecer criminoso das técnicas da assistência social, que se veio a revelar  falso, e que fez com que as crianças tenham vivido afastadas da mãe todo este tempo. E vai ficar tudo assim, sem outras consequências ?
Agora uma pobre rapariga de 22 anos, sem abrigo, mãe de um bébé dado à luz na rua, sem que ninguém se tivesse apercebido disso,  deitou o recém nascido num caixote de lixo ainda com o cordão umbilical. Nenhum animal "irracional" seria capaz de um acto destes, o que revela bem o estado de demência da rapariga. Mas afinal  os companheiros de rua, e alguns agentes de serviços camarários ou de assistência, sabiam da gravidez dela e não foram capazes de acompanhar com eficiência este caso; o facto de, ao que parece, a rapariga ter recusado apoio, há um limite de liberdade consentâneo com a capacidade intelectual e moral de cada indivíduo, que a sociedade tem o dever de suprir. Tudo isto é miséria moral.   Não posso nem devo armar em moralista mas a democracia exige comportamentos sociais responsáveis e não esta , desculpem o termo, bandalheira .
3 . Lula da Silva libertado 
Não se pode deixar de mencionar esta libertação de Lula da Silva, o que revela - e é mesmo o mais importante - que no Brasil ainda há alguns membros da Justiça que não encaixam no quadro de comprometimento político a que se tem assistido  de há vários anos para cá.  Não quer isto dizer que o ex-Presidente não possa ter culpas, sobretudo, parece mais evidente, o  compadrio que permitiu entre os seus correlegionários que se sentaram à mesa do banquete do Estado. Mas as culpas dele tem que ser provadas, o que  não se pode aceitar  é que Lula tenha sido preso sem provas e que um Juiz tenha declarado na televisão que mesmo que não houvesse provas  havia a sua convicção das culpas do acusado, Que justiça é esta?




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