Assim vai a vida...
Anti semitismo e anti sionismo
Eu não sou nem mais nem menos anti judeu do que anti cristão ou anti muçulmano, as tres religiões fazem-me sempre pensar na irracionalidade que acompanha a evolução do Homem, apesar de toda a espantosa evolução da Consciência e do Conhecimento.
Mas sou frontalmente anti sionista porque o comportamento dos judeus enquanto Estado de Israel ( desde a sua fundação...) é uma vergonha para a Humanidade de hoje. A dispersão histórica dos judeus não é caso único, houve outros povos e religiões que se dispersaram e acabaram por se integrar - assunto para outra divagação. Mas essa dispersão deve-se muito também ao próprio comportamento colectivo dos judeus que congregaram más relações com os outros povos, por mais que agora tentem desmentir. O povo judeu foi vítima da maior tragédia dos tempos modernos, que foi o Holocausto nazi, mas em vez de humildemente terem aprendido que vale a pena a misericórdia e a humildade, adoptaram sempre, desde que são um país, o comportamento mais desumano que se possa imaginar, como foi agora noticiado com o que fizeram com as vacinas que deviam chegar aos palestinianos. É UMA VERGONHA! ! E depois queixem-se que aumenta o anti semitismo, pudera!!
Mas também tem que ser denunciada a hipocrisia dos países islâmicos, as poderosas monarquias do petróleo e as ditaduras civis e religiosas, que não utilizam o seu poderio económico e bélico para mexer um dedo a favor dos palestinianos. Muitas proclamações, muita conversa, mas lá enfrentarem as companhias petrolíferas ocidentais ou chinesas, e os seus Governos, é o enfrentam! Vendem-se como quase todo o mundo hoje faz, os palestinianos são poucos e fracos em poder, não esperam ajuda de ninguém. Viva a hipocrisia mundial !!
Resquícios da guerra colonial - O falecimento de Marcelino da Mata veio acordar recordações da guerra colonial e da qual ainda persistem resquícios nas cabeças e nos sentimentos de muitos portugueses: não foi em vão que o Estado Novo e as suas arreigadas idiossincrasias martelaram o espírito dos portugueses explorando os sentimentos nobres de amor à Pátria e escondendo com isso o atraso ideológico e civilizacional que significava, em todo o mundo, a manutenção de um Império colonial.
Contrariando a própria tradição ecuménica que Portugal já tinha revelado ao dar a Independência ao Brasil - e se ainda há hoje gente da extrema direita e monárquicos absolutistas que acham que foi uma traição de D.Pedro IV muito mais natural é que persista em muitas cabeças, (sobretudo dos colonizadores brancos que foram espoliados dos seus bens e forçados a deixar as colónias, em regra nas piores condições, é certo) a celebrada heroicidade e benignidade das presença dos portugueses nas colónias.
Quando todos os países europeus colonialistas já tinham dado a independência aos territórios que colonizavam, Portugal persistia naquela cegueira, pensando que se iludia o mundo inteiro com balelas sobre a igualdade de direitos entre "todos os portugueses" -quando cá na Metrópole havia presos políticos por delito de opinião... e passar a designar Províncias Ultramarinas ás colónias.
E a guerra foi como todas as guerras, com injustiças e falhas, e também crimes de guerra, de que se conhecem casos indiscutíveis. Eu também andei nessa guerra, contrariado e "pelos cabelos" : já casado com dois filhos e a profissão suspensa, chamado 10 anos depois de ter feito o serviço militar obrigatório, tendo perfeita consciência de quanto errada era a luta contra os independentistas africanos, só tinha duas opções : ou ir ou desertar. Confesso que, se tivesse algum vislumbre de que um 25 de Abril estava tão perto, eu teria acatado o "sopro de ouvido" que me deram em Mafra para desertar e ir até à Argélia. Mas não havia sinais de quantos anos estaria fora da família, mantendo-a com quê ? E fui, contrariado como aconteceu a milhares de portugueses. Não me coube tarefa fácil - capitão comandando uma Companhia de Intervenção, independente, sem Batalhão (ainda assim foi melhor, teria tido muita dificuldade em aturar majores e tenentes-coronéis de batalhões, absolutamente intragáveis e iria ter problemas, como ainda tive uns arremedos...). Andei na guerra, em zona de grande actividade como era a região de Nambuangongo, com os combates que ela proporciona, mas nunca se cometeram -nem alguma vez pactuaria - crimes de guerra de qualquer natureza. Mas chegavam-nos noticias de alguns casos criminosos que ocorriam em Angola e noutras terras, como Moçambique e Guiné - alguns vieram a confirmar-se mais tarde. Um dos meus objectivos, primeiro foi nunca deixar transparecer ao pessoal a minha posição sobre a guerra, pois a moral era a primeira condição para evitar baixas e falhas e porque o outro objectivo era regressar com todos os homens com que tinha partido, infelizmente não foi possível,
Em termos de colonialismo ofensivo, eu presenciei alguns casos mas por parte dos civis brancos. Um caso foi na Roça Beira Baixa, onde havia um grande número de bailundos nas tarefas do café, e quando certo dia lá parei com uns grupos de combate da minha Companhia, assisti e fotografei o capataz a chicotear os trabalhadores na movimentação dos sacos de café que transportavam às costas. Ingenuamente mandei o rolo fotográfico, como fazia regularmente, para revelar e esse "por acaso" veio queimado... Foi o único rolo, das centenas que mandei revelar durante a guerra, que veio queimado, o que me impossibilitou de denunciar o acto. Mas mesmo denunciando não devia dar nada- porquê ? Eu conto ; estive uns dias de férias no sul de Angola, com o Alferes médico dr. Jorge Serra, visitando as cidades do sul e o deserto de Moçâmedes onde não havia já qualquer actividade de guerra. Uma tarde estávamos os dois numa esplanada em Moçâmedes e entraram um casal de negros e o filhito, bem vestidos, asseados, o miúdo com fatinho de marinheiro, quando veio o empregado também negro a dizer que tinham de sair, não se podiam sentar. Demos quase um salto (!), chamámos o casal, dissemos que se sentassem na nossa mesa e pedimos ao empregado que os servisse, eram nossos convidados - perante o esbracejar lá no balcão do dono do café. Andava tudo em guerra lá no norte, tínhamos os nossos homens a morrerem e a ficarem feridos e mutilados, e aqueles estúpidos do sul a praticarem racismo descarado em 1970. Fomos ao quartel da terra, não estava lá quase ninguém a não ser um sargento - de- dia, participámos por escrito -pois um mês depois recebi uma mensagem a perguntar se queríamos manter a queixa- era assim que uma parte do nosso próprio exército funcionava...
Marcelino da Mata foi um guineense que se colocou ao lado do exército ocupante, o exército português, e lutou contra o seu povo. O que devem os guineenses pensar dum sujeito que toma esta opção, simplesmente desculpar ? Que se diz dos franceses que se colocaram ao lado do exército alemão, ocupante da França, contra os seus próprios compatriotas? E se um exército castelhano ocupasse o território português o que se diria de portugueses que pactuassem com esse exército contra os seus concidadãos ? E houve desses ao longo da História, em regra nobres não gente do povo...
Além disso o "oficial português mais medalhado" não se limitou a actos de guerra que ocorrem sempre, cometeu crimes de guerra e o testemunho de Vasco Lourenço para mim basta; foi condecorado pelo regime de Salazar ? Pois, os pides também foram e até Cavaco Silva condecorou alguns por "serviços prestados à Pátria"... e em plena democracia portuguesa - há estômagos e almas piedosas para tudo e em qualquer lugar... Que estômago tem um cidadão guineense que a dada altura preferiu ser português, para cometer atrocidades contra os seus concidadãos da véspera?
Por muito que a "honra militar" seja difícil de entender, podiam os oficiais portugueses que combateram, é certo, em nome da sua pátria, apoiar um "camarada" que cometeu crimes de guerra e devia ter sido julgado por isso? Mas foi por isso que recebeu as maiores condecorações do velho e iníquo Regime proto fascista salazarista do Estado Novo ( para não escrever mesmo fascista e evitar a discussão se foi fascismo ou um simulacro...).
Escritas estas reflexões, vamos lá pensar no outro assunto da ordem do dia que é a do colonialismo e da escravatura serem em Portugal um ícone do pior que se fez no mundo.
Qualquer historiador, de esquerda ou de direita, sabe que a escravatura existe desde que o homem se constituiu em nações, fez guerras e prisioneiros, e adoptou o escravo como instrumento de trabalho. Desde que o homem é homem! Todos os povos praticaram a escravatura, todas as religiões ocidentais a consentiram. Excepção que eu conheço, o budismo, mas não é ocidental e não adora deuses...
Não podemos julgar a História com o olhos de hoje, é já um lugar comum dizer isto, mas há quem teime em olhar dessa maneira e muitas vezes com olhar enviesado. Vou contar mais uma história.
Aqui há uns anos estive, com minha mulher, em visita à ilha de Goreia, em frente a Dakar, onde existe um Museu da Escravatura, a "casa da Sinhá" ( cheira a português brasileiro,,,). Eramos os únicos portugueses entre franceses. O cicerone, um senegalês antigo sargento da marinha francesa, explicava o local onde eram armazenados os escravos e a porta por onde entravam para os barcos e que os portugueses, mais isto e mais aquilo, e só falava de portugueses. Em dada altura identifiquei-me e pedi para falar, com o meu francês macarrónico; disse-lhe porque só falava de portugueses quando no salão de entrada havia um painel com os nomes dos principais negreiros da ilha, havia nomes franceses, ingleses, holandeses mas nenhum português, e noutro painel estavam as personalidades importantes que passaram na ilha - todos portugueses, navegadores entre eles Pedro Alvares Cabral e a D. Maria II quando vinha do Brasil.
O homem embatocou, mas pior ficou a seguir, quando disse aquilo que já tenho dito noutras ocasiões : ninguém hoje teria a desfaçatez de defender a escravatura, Karl Marx analisou-a com seriedade como uma etapa na evolução económica da Humanidade. Já houve que pedir desculpa pelos erros dos tempos passados mas não foram todos que pediram desculpa...
Os negreiros portugueses ( como todos os outros) chegavam com as caravelas às praias e não desembarcavam tropas para irem por terra dentro açambarcar os escravos - eram os sobas que vinha do interior vender - VENDER - os seus homens; chefes de aldeia animistas ou muçulmanos, que muitas vezes guerreavam com etnias vizinhas para arrebanharem escravos que depois vendiam,
E perguntei ao cicerone : alguns europeus já pediram desculpa pela escravatura de épocas passadas, mas já viu algum chefe africano pedir desculpa por os seus antepassados terem vendido os seus próprios cidadãos? O homem não respondeu e houve um sussurro no museu...
Já escrevi isto noutras ocasiões, os muçulmanos praticaram a escravatura até há bem pouco tempo, não me recordo de algum ter pedido desculpa (pode ser falta minha...). Só se fala de escravos negros, ninguém quer recordar os escravos brancos, por exemplo os milhares de irlandeses que os ingleses escravizaram durante mais de um século e enviaram para a América a preço mais baixo que os escravos negros porque eram menos resistentes e trabalhavam menos. Alguém já pediu desculpa? Pode ser falta minha nunca ter ouvido ou lido...
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