domingo, 14 de fevereiro de 2021

 Continuando...

Se  houve um documento que influenciou decisivamente as minhas convicções ideológicas foi, sem dúvida, a Encíclica Rerum Novarum proclamada em 1891  pelo Papa Leão XIII, Nela se rebatem duas filosofias político-económicas que nos finais do século XIX  dominavam o universo das ideias, uma na esquerda o marxismo, que teria na sua extrema  o comunismo e o sufoco do individuo pelo Estado e a outra na direita, o liberalismo que, levado às suas consequências finais, que eu designo de liberalistas libertinos, acabaria num extrema direita dos poderosos,  

Teve piada nas últimas eleições presidenciais, num frente a frente entre o candidato comunista e o liberal, este ter apontado ao outro que ele estava agarrado a ideais do século XIX_- então e ele? É ignorância ou esquecimento propositado...

Consequências da expansão dessa carta pontifícia : directas foi a doutrina social da Igreja que criou a democracia cristã nos seus vários cambiantes, indirectas foi o impulso dado à social democracia  também com as suas diferentes variantes. De forma simplista, reconheço, quem não era assumidamente praticante da religião orientou-se pela social democracia, quem acatava as práticas religiosas e um certo elo a ideias mais conservadoras, aderiu à democracia cristã. 

Ambas as ideologias tinham o mesmo fim -  criar o Estado Social. 

E teorias económicas de  conceituados  economistas e pensadores, em que destaca Keynes ( que utilizadas pelo Presidente Roosevelt salvaram  os EUA da Grande Depressão)  contribuíram decisivamente para o sentimento geral nas sociedades  europeias, depois ocidentais, de que o capitalismo é um sistema natural inerente ao homem, deve é ser regulado porque às leis naturais que orientam a vida dos seres humanos, como as de todos os seres vivos, contrapõem-se as leis sociais que resultaram do despertar e do evoluir da consciência  ( que Teillard de Chardin chamou de hominização ) e da criação inalienável do espírito colectivo que deve prevalecer sobre o espírito individualista - dentro dos limites também indiscutíveis da liberdade e da criatividade individuais,

Liberdade, igualdade e fraternidade é a trilogia que, despida dos excessos e horrores que acompanharam a sua génese  e quase sempre acompanham as acções dos homens (desiguais em consciência e em  noção de misericórdia e de compaixão) passou a ser, no Estado Moderno, a máxima de construção e gestão das sociedades evoluídas.

Liberdade porque  é um sentimento existente   em  todos os seres vivos, como afirma sem margem para dúvidas, o Prof. António Damásio, e onde apenas, passe o lugar comum.  a liberdade de cada um se limita pelo prejuízo que possa causar ao colectivo.

Igualdade, não como uma imposição do tipo leninista ou maoista, em que são todos iguais nivelando por baixo e apenas uma casta de líderes se movimenta  na alta esfera da vida e a maioria  esmagadora da sociedade se fica por lhe ser atribuída uma " democracia popular"  e uma "ditadura do proletariado" que são apenas esquemas ideológicos  para esconder a verdadeira ditadura - quem as viveu ou quem as visitou, como eu, fica vacinado...

Fraternidade, é um ideal de amor e compaixão entre os seres humanos, sabemos muito pouco partilhado, é certo. E esta vergonha actual da luta da indústria farmacêutica para fornecer vacinas contra a pandemia, depressa e a bom preço (negócio de biliões, a mais poderosa industria mundial, ainda superior à do armamento) vem apenas confirmar que no capitalismo selvagem  em que essas empresas se criaram e desenvolveram, não há lugar para a misericórdia  nem para a compaixão - tanto no capitalismo libertino ocidental como no capitalismo maoista da China...- portanto não existe para eles a fraternidade.

Esta extensa divagação vai conduzir-nos ao nosso País, ao PS e ao futuro próximo pós pandemia. É  um exercício de reflexão que faço para mim mesmo e deixo escrito para memória futura,  sem qualquer intenção de polémica.













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