sábado, 6 de fevereiro de 2021

 Pensando sobre política

Uma carta ao Director do "Público"

Os discursos de ódio são só comparáveis aos desaforos de comportamento de tanta gente, neste País, E nem falo nas redes sociais, pois só de vez em quando alguém me faz chegar algum apontamento do que lá se passa - é um universo paralelo que eu não visito.  Mas na comunicação social escrita e visual, nomeadamente em jornais online de  que também me chegam de vez em quando alguns pedaços, a falta de noção da decência e a capacidade de reflectir sem excessos chegam a causar repulsa.  Enviei uma Carta ao Director  do "Publico" que certamente não será publicada, mas seja ou não seja, fica aqui para memória futura ;

" Vou deixar de escrever na comunicação social depois desta pequena carta dedicada ao Discurso do Ódio.

Seja esta carta publicada ou não ( que é o que acontece mais vezes) este vai ser o meu último contacto directo  com a comunicação social - nem cartas nem artigos. Prefiro ir deixando algumas notas num blogue. Mas hoje e perante o panorama dominante na comunicação social ( e nem pela cabeça me passa referir a pouca vergonha das redes sociais) que é o do discurso do ódio, aumenta em muitos a descrença na viabilidade da nossa democracia que tanto esforço, tanta vítima e tanto fervor exigiu para se erguer -há 47 anos. E se há por vezes  maus exemplos que vêm da esquerda é sobretudo dos quadrantes  da direita que diária e constantemente nos bombardeiam com ódios e suspeitas, tudo afinal resultado de estar há muito tempo fora do Poder. Veja-se no "Publico" de hoje a crónica que chega a ser repelente do J.M. Tavares e compare-se com a dignidade dos últimos editoriais do Director Manuel Carvalho. Há  tanta gente decente na direita, a escrever bem e sensatamente, logo caiu na desdita dos leitores deste Jornal apanharem com as aberrações dum cronista medíocre. A direita tem que começar a seleccionar quem escreve por ela."

Ainda a esquerda - As eleições presidenciais de Janeiro passado trouxeram ao de cima as contradições da política caseira, quer à esquerda quer à direita. À esquerda mais ou menos tudo na mesma com uma certa baixa dos votantes no PCP e no BE, à direita o surgimento dos protofascistas  aconchegados no Chega.

No entanto foi propagandeada - e sabe-se por quem, óbvio - a derrota da esquerda ; o pateta do líder do CDS até proclamou que o CDS tinha tido uma grande vitória e o Rui Rio a dizer que a direita ( leia-se o Chega) até tinha ganho ao PCP no Alentejo e que a derrota da esquerda era evidente.

Deve começar por se dizer que só votaram 40% dos portugueses, 60% ficou em casa, por isso extrapolar os resultados para a posição relativa dos partidos é um processo falso; nas sondagens fora das eleições o PS tem entre 35 e 40% e o CDS 2% e até abaixo... Ora nas presidenciais os Partidos da esquerda somaram 21,84%, se dos 60% do Marcelo estimarmos que pelo menos 35 % eram socialistas, a esquerda fica com 56% - onde está a derrota? Mas se escolhermos apenas 30% dos votos em Marcelo mesmo assim ainda dá 51%.

O problema da esquerda será unicamente o PS e António Costa terem a capacidade de entender que, mais importante que a sua agenda própria, é  garantir que a direita não volte tão cedo ao Poder. E verenos adiante porquê. 

 Mas os Partidos da esquerda, já referi nisso antes, têm que também pesar se as exigências que fazem são aceitáveis em termos da conjuntura europeia em que vivemos  ( e não poderíamos viver fora dela!) ou se preferem esticar a corda para que ela rebente e se repitam situações como a que antecedeu a chegada da Troika.

A ameaça liberal vai recrudescer quando amainar esta crise pandémica que se tornou igualmente crise económica, social, direi mesmo de sobrevivência da Humanidade em termos da Vida tal qual a conhecemos. 

Problemas da direita - A direita está em maus lençóis, e isso em termos de estabilidade democrática é preocupante. Os valores mais conscientes da direita, direi social e mesmo conservadora,  estão remetidos ao silêncio ou na sombra, sem influência já na vida partidária.

O PSD tem em Rui Rio um líder  moderado, certamente  rigoroso em termos de gestão da res publica, mas cada vez mais refém dos galifões que o cercam e rosnam nas periferias... Os social democratas que estiveram na razão do nascimento do PPD, foram mudando para liberais, como aconteceu em toda a Europa  - os que hoje erguem a voz  quanto à  autoridade moral dos fundadores, deviam ter sempre presente que Sá Carneiro  quis inscrever o partido na Internacional Socialista, e que só fundou a AD com o CDS depois de falharem as  tentativas junto de Mário Soares para que se unissem os dois num Governo nacional - mesmo assim com muitas reservas e impondo a entrada do PPM para equilibrar a composição.

O CDS está a desaparecer, os democratas cristãos desapareceram  em toda a Europa ( Merkel é uma sobrevivente notável mas exclusiva,,,) e por cá, claro, também,  e viraram liberais - ou pior entraram para os fascistas do Chega onde se proclama que depois de 46 anos surge  finalmente um partido a defender não o nefasto 25 de Abril mas o auspicioso 24 de Abril. A grande viragem do CDS para a desgraça foi com Assunção Cristas, que tomou medidas de nítido sentido liberal,  abrindo a porta à  falência de serviços fundamentais no Estado e deixando a porta aberta para os liberais lá de dentro se manifestarem. Todos os que agora dão a cara, Adolfo M Nunes á cabeça. Não quer dizer que este não seja um bom político, capaz e inteligente, mas é liberal assumido, nada tem a ver com a democracia cristã fundadora do CDS.

Do PSD também saíram já muitos para a extrema direita, começando pelo cabeça de cartaz, um tipo bem falante, sem convicções mas esperto e ambicioso que fará e dirá tudo o que for preciso para ganhar projecção pessoal ( tendo por trás uns tipos famigerados que a comunicação social tem apontado a dedo).

A direita ainda conta coma Iniciativa Liberal. um grupo de amigos bem  falantes, urbanos, que como se mostrou na campanha eleitoral não conhecem nada do país real. Propagandeiam o liberalismo fazendo por esquecer que  a teoria do mercado desregulado tem sido a causa do caos a que chegou o mundo, e que em Portugal se não fosse um apontamento de Estado ainda forte, como afinal temos, nesta altura já estaríamos de  novo na bancarrota ou numa ditadura.  Liberais que exigem baixa de impostos mas mais dinheiro atirado para as empresas, não é para os trabalhadores, não é para o Serviço Nacional de Saúde nem para a escola publica aberta a toda a gente;  é para  os privados oferecerem os mesmos serviços em concorrência com o sector publico - mas o Estado que pague quem preferir o  privado. É o máximo da pouca vergonha . É este liberalismo libertino ( abuso do termo liberal, porque liberais somos todos nós que não sejamos comunistas). que IL propõe, e onde se  alojaram os falsos democratas cristãos e social democratas que se escondiam do CDS e no PSD.

A direita, e agora houvesse uma reviravolta,, não se pense que era com Rui Rio à frente, este será cilindrado na primeira oportunidade, Já está na box de partida- quem? Passos Coelho, o  desejado, o aglutinador de toda a direita incluindo o  Chega que já o nomeou como a sua esperança de ir para o Governo. É esta alternativa desta direita que a esquerda tem que ter em mente, porque então estaríamos a remar contra a maré de "renovação mental" da Humanidade que eu espero e acredito que esteja em marcha, pelo menos entre os países e povos que sabem o que é DEMOCRACIA SOCIAL.

Há sempre uma luz ao fundo dos túneis, e  agora foi a  vitória dos democratas nos EUA e a presidência de Joe Biden. Veremos se ele é capaz de repor o sentido da democracia social de que o mundo tanto precisa para responder aos desafios planetários. 










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