segunda-feira, 24 de abril de 2023

 25 de Abril sempre

Amanhã não escrevo ( salvo acontecer  algo de imprevisível) e hoje deixo a minha história do meu 25 de Abril que não foi brilhante...

A seguir ao golpe das Caldas da rainha,  em Março de 74, quando os spinolistas quiseram antecipar-se ao MFA, eu vivia na Madeira e no final do mês vim a Lisboa. Como sempre fui ao fim da tarde ao Montecarlo, o café que existia sob o cinema Monumental - e foi um hábito que me ficou depois das cargas policiais em 1958 a quando das eleições a seguir a um comício do Humberto Delgado no Liceu Camões. 

Encontrava-me ali regularmente com  velhos conhecidos, entre eles o Ernesto Melo Antunes de que vou falar por uns momentos. 

Eu fui aspirante miliciano quando ele era alferes, na Bateria de Belém, em Ponta Delgada. Era comandada pelo ten. coronel Marçal Moreira, um oficial distinto e culto, mas porque era da oposição nunca passou daquele posto e a comandar uma bateria - resultado, vivia cancibado e o gabinete de despacho dele era o bar do quartel,  onde havia boas bebidas... De quinze em quinze dias um oficial tinha que fazer uma palestra e quando chegou a vez do Melo Antunes ele falou sobre os exércitos dos países de leste realçando,  dizia ele, que ali  o exército servia causas de serviço publico civil. No fim o Comandante disse que tinha gostado muito da palestra mas o alferes teria de escrever outra porque aquela ele não podia enviar para o Quartel General...

Dei-me sempre muito bem com ele e eu  era o único dos demais oficiais que me encontrava com ele na praia do Pópulo em casa da Dª Rosa Flores, tia da namorada com quem veio a casar, e com o dr. Borges Coutinho mais tarde Marquês da Praia ( por morte do irmão) e  chamado "marquês vermelho". Ali falávamos de coisas da politica, da situação do país ( ainda não tinha começado a guerra colonial mas estava-se à espera que acontecesse).

Nesse fim de tarde de finais de Março em que fui ao Montecarlo encontrei-me lá com o Melo Antunes, que estava nos Açores e "tinha vindo" a Lisboa e disse lhe mais ou menos " vocês não fazem uma bem feita, outra vez uma intentona falhada". E ele respondeu "vais ver que vai sair uma bem feita, espera para ver". E aconteceu o 25 de Abril.

Mais tarde em Lisboa, encontrávamo-nos  nos  corredores do Conselho de Ministros, em São Bento, onde eu ia acompanhando o GRTelles e a primeira vez que o vi,  interpelei-o -  porque  não me dissera nada naquele encontro de Março;  respondeu que era tão arriscado e ainda incerto naquela altura que não me quis ligar ao assunto para eu não vir a sofrer consequências. Engoli essa...

Em 24 de Abril de 74 estava no Funchal o Prof Hans Werkmeister, com quem eu iria trabalhar em Maio através duma bolsa que consegui, e ele tinha ido à Madeira por causa duma importação de plantas que foi fazer com outro grande amigo meu, o Engº Rui Vieira. 

Nessa noite estávamos no Hotel Savoy na eleição de Miss madeira, que iria ser uma sobrinha de um outro amigo meu, o Carlos Silva; estávamos todos na mesma mesa; a miúda foi eleita e ali pelas 2h da madrugada despedimo-nos porque o Werkmeister ia na manhã seguinte para a Alemanha. Nem imaginávamos o que estava a acontecer em Lisboa...

No dia 25, a meio da manhã, telefona-me o alemão para dizer que ainda lá estava, não havia aviões porque tinha havido uma revolução em Lisboa.  Foi assim que tomei conhecimento do 25 de Abril!!

Depois em Maio segui para a Alemanha e regressei em Novembro, e soube à distância do que acontecera por cá e da subida do Vasco Gonçalves a 1º ministro... Outra história para outra altura...








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