Já me cansa escrever sempre sobre o mesmo, mas faço-o porque fui administrador florestal, tive focos de incêndios e sei alguma coisa do assunto como sabem dezenas de outros de técnicos que poderiam falar, mas como alguns dizem, " não vale a pena".
Durante
décadas os fogos rurais, florestais, eram contidos e combatidos pelos
técnicos e guardas florestais e pelos bombeiros, tudo gente que
conhecia bem os terrenos e a forma de atacar os fogos e estes raramente
fugiam ao controle. Porquê? Porque havia uma quadricula de defesa e
gestão da área florestal por casas e postos de guarda e havia
administradores dedicados e competentes que conheciam a sua região,
palmo a palmo. O trágico fogo da Serra da Estrela, no ano passado,
começou pelas 6h da manhã a 500 m de uma casa de guarda ...abandonada. E
o de Monchique é uma vergonha nacional.
Quando é que os grandes incêndios começaram a descontrolar-se? Em 2003/2005, 2016, 2017 e mais ou menos sempre daí em diante.
Depois
dos terríveis fogos de Junho de 2017 eu, no início de Outubro, fui ver a
região, como fiz e faço sempre em áreas ardidas, e disse para quem me
quis ouvir que ainda haveria de arder muito mais naquela área, pois de
Junho em diante nada se fez de limpezas eficazes - e dai a uns dias foi
o que se viu nas estradas e encostas em que eu passara.
Os
Serviços Florestais ( que podiam ser remodelados, mas isso é outra
conversa, para outro dia) foram extintos em 2006, era António Costa
ministro da Adm. Interna, em 2006 foi extinto o Regulamento dos Guardas
Florestais e em 2007 foi criado o ICNF que nem cumpre as funções do ICN
nem as da Floresta. Daí em diante o descontrole que se seguiu à
ausência no terreno de guardas florestais e administradores florestais
está bem patente, tal como a atribuição de culpas aos bombeiros por
actos de que não têm culpa nenhuma, como estarem horas a fio parados
nas estradas à espera que lhes digam o que devem fazer. E há quem se
farte de chorar lágrimas de crocodilo!
Como
disse o Prof. Jorge Paiva, são crimes de que ninguém é considerado
culpado nem responsabilizado.
Continuem a gastar milhões, cada vez mais
milhões. em meios aéreos (um grande negócio) e tretas de legislação em catadupas ( fácil de fazer...) que nada mudará enquanto não for reposta a estrutura de gestão e defesa do território, que só a arrogância de quem governa se recusa a reconhecer.
......
Hã muito que deixei de enviar textos para o jornal, mas esta carta ao director do Publico, de 27 de Junho, foi escrita aquando das "cerimónias oficiais" de inauguração do memorial de Pedrógão. Nem assim foi julgada oportuna...
catadupas ( fácil
de fazer...) , que nada mudará enquanto não for reposta a estrutura de
gestão e defesa do território, que só a arrogância de quem governa se
recusa a reconhecer.
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