domingo, 2 de julho de 2023

 

Já me cansa escrever sempre sobre o mesmo, mas faço-o porque fui administrador florestal, tive focos de incêndios e sei alguma coisa do assunto como sabem dezenas de  outros  de técnicos   que poderiam falar, mas como alguns dizem,   " não vale a pena".

Durante décadas os fogos rurais, florestais, eram contidos e combatidos pelos técnicos e  guardas florestais e pelos  bombeiros, tudo gente que conhecia bem os terrenos e a forma de atacar os fogos e estes raramente fugiam ao controle. Porquê? Porque havia uma quadricula de defesa e gestão da área florestal por casas e postos de guarda e havia administradores  dedicados e competentes que conheciam a sua região, palmo a palmo. O trágico fogo da Serra da Estrela, no ano passado, começou pelas 6h da manhã a 500 m de uma casa de guarda ...abandonada. E o  de Monchique é uma vergonha nacional.
Quando é que os grandes incêndios começaram a descontrolar-se? Em 2003/2005, 2016, 2017 e mais ou menos sempre daí em diante.
Depois dos terríveis fogos de Junho de 2017 eu, no início de Outubro, fui ver a região, como fiz  e faço sempre em áreas ardidas,  e disse para quem me quis ouvir que ainda haveria de arder muito mais naquela área, pois de Junho em diante nada se fez de limpezas eficazes  - e dai a uns dias foi o que se viu nas estradas e encostas em que eu passara.
Os Serviços Florestais ( que podiam ser remodelados, mas isso é outra conversa, para outro dia) foram extintos em 2006, era António Costa  ministro da Adm. Interna, em 2006 foi extinto o Regulamento dos Guardas Florestais e em 2007 foi criado o ICNF que nem cumpre as funções do ICN nem as da Floresta.  Daí em diante o descontrole que se seguiu à ausência no terreno de guardas florestais e administradores florestais está bem patente,  tal como a atribuição de culpas aos bombeiros por actos de que não têm culpa nenhuma, como estarem   horas a fio parados nas estradas  à espera que lhes digam o que devem fazer. E há quem se  farte de chorar lágrimas de crocodilo!
Como disse o Prof. Jorge Paiva,  são crimes de que ninguém é considerado culpado nem responsabilizado. 
Continuem a gastar  milhões, cada vez mais milhões. em meios aéreos (um grande negócio) e tretas de legislação em catadupas ( fácil de fazer...) que nada mudará enquanto não for reposta a estrutura de gestão e defesa do território, que só a arrogância de quem governa se recusa a reconhecer.
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Hã muito que deixei de enviar textos para o jornal, mas esta carta ao director do Publico, de 27 de Junho, foi escrita aquando das "cerimónias oficiais" de inauguração do memorial de Pedrógão. Nem assim foi julgada oportuna...








 catadupas ( fácil de fazer...) , que nada mudará enquanto não for reposta a estrutura de gestão e defesa  do território, que só a arrogância de quem governa se recusa a reconhecer.

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