sábado, 28 de outubro de 2023


 

OBRAS FARAÓNICAS

…e outras obras


Todos os regimes e órgãos de Poder, seja nacional, regional ou local, querem fazer obras de relevo nos seus mandatos e que fiquem para a posteridade como” a obra “do Senhor Presidente ou do Senhor primeiro-ministro!!

Certas obras podem ser úteis e perfeitamente adequadas aos objectivos; recordamos que o Centro Cultural de Belém, que chegou a ser contestado, sendo uma obra de grandes proporções e impacto, provou ser afinal um bom investimento e uma criação de valor para Lisboa e para o País.

Mas há obras como as pirâmides do Egipto que são “faraónicas”, quer dizer que se apresentam com grandes investimentos, mas os propósitos são absolutamente discutíveis – obras faraónicas porque dispendiosas demais para objectivos no mínimo discutíveis.

Foi agora noticiado o “desastre” do Estádio de Braga, trabalho de autor consagrado, que ficou mais caro do que o Hospital de Braga e afinal vai ser vendido (quem será que compra?...) porque não serve- é uma obra faraónica.

No Algarve, também está a ser feita uma obra faraónica (à nossa escala) pela Câmara Municipal, que anda por alguns milhões de euros - a ponte para a ilha de Faro.

Obra faraónica porque se constrói ao arrepio da prudência que devia presidir á abordagem da forma como ocupar a praia de Faro. Vários investigadores de prestígio - e recorro aqui de memória ao Prof. Alveirinho Dias -   há anos avisam que se devia ir baixando a carga humana e construtiva sobre a ilha   porque é um sistema costeiro instável e sujeito a graves e potenciais catástrofes.

Para a capacidade daquela nesga de areia o acesso de visitantes não deve ser facilitado   e uma nova ponte com duas faixas de rodagem vai fazer exactamente o contrário.  Se agora com a velha ponte estreita, durante os meses de Verão e aos fins de semana, já se registam grandes problemas de circulação na ilha, para quê aumentar o acesso de mais viaturas? Ocupam que espaço?

Não quero ser acusado de Cassandra ou de Velho do Restelo, mas convém recordar que a falha sísmica do Algarve continua activa, serviu até de principal argumento contra a abertura de furos para prospecção de petróleo.  O terramoto e maremoto de 1755 não terão sido os últimos, a sua repetição não é ainda previsível - mas sabe-se que se repetirão.

Não quero dar receitas, mas pelo menos um transporte colectivo eficiente e permanente talvez resolvesse o problema do acesso, sendo autorizadas apenas as viaturas dos residentes e as de emergência. Este é outro aspecto: numa emergência grave com a estrada da ilha atulhada de viaturas, como se faz o socorro? Cá esta a Cassandra a falar…

Que esta ponte será a “obra do mandato” é inegável.

Mas há pequenas obras que facilitavam a vida aos munícipes e que esperam por melhores dias. A foto mostra a beira do caminho municipal entre Azinhal e Amendoeira e Machados; há uns anos uma enxurrada levou a margem da ribeira e deixou o asfalto á beirinha.  Foi feita uma obra que daria certo no talude de uma estrada: umas carradas de pedra solta, cilindradas, sem fundação, com uma camada de tout-venant por cima.  Só que é uma ribeira e na primeira pequena enxurrada lá se foi de novo a berma da estrada que continua um perigo; quando uma viatura, sobretudo de noite, se encostar à beira com a terra amolecida pode cair para dentro da ribeira e lá virão as lágrimas de crocodilo. E é tão fácil resolver aquele imbróglio com uns gabiões, como de resto já existe a uns metros deste local … mas é obra pequena demais.

 Até que ocorra uma fatalidade - esperemos que não, mas é previsível que nos próximos meses venham a ocorrer  alguns aguaceiros rijos…


 

 

 

 

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