OBRAS FARAÓNICAS
…e outras obras
Todos
os regimes e órgãos de Poder, seja nacional, regional ou local, querem fazer
obras de relevo nos seus mandatos e que fiquem para a posteridade como” a obra “do
Senhor Presidente ou do Senhor primeiro-ministro!!
Certas
obras podem ser úteis e perfeitamente adequadas aos objectivos; recordamos que
o Centro Cultural de Belém, que chegou a ser contestado, sendo uma obra de
grandes proporções e impacto, provou ser afinal um bom investimento e uma criação
de valor para Lisboa e para o País.
Mas
há obras como as pirâmides do Egipto que são “faraónicas”, quer dizer que se apresentam
com grandes investimentos, mas os propósitos são absolutamente discutíveis –
obras faraónicas porque dispendiosas demais para objectivos no mínimo
discutíveis.
Foi
agora noticiado o “desastre” do Estádio de Braga, trabalho de autor consagrado,
que ficou mais caro do que o Hospital de Braga e afinal vai ser vendido (quem
será que compra?...) porque não serve- é uma obra faraónica.
No
Algarve, também está a ser feita uma obra faraónica (à nossa escala) pela
Câmara Municipal, que anda por alguns milhões de euros - a ponte para a ilha de
Faro.
Obra
faraónica porque se constrói ao arrepio da prudência que devia presidir á abordagem
da forma como ocupar a praia de Faro. Vários investigadores de prestígio - e recorro
aqui de memória ao Prof. Alveirinho Dias -
há anos avisam que se devia ir baixando a carga humana e construtiva
sobre a ilha porque é um sistema costeiro
instável e sujeito a graves e potenciais catástrofes.
Para
a capacidade daquela nesga de areia o acesso de visitantes não deve ser facilitado e uma nova ponte com duas faixas de rodagem
vai fazer exactamente o contrário. Se agora
com a velha ponte estreita, durante os meses de Verão e aos fins de semana, já
se registam grandes problemas de circulação na ilha, para quê aumentar o acesso
de mais viaturas? Ocupam que espaço?
Não
quero ser acusado de Cassandra ou de Velho do Restelo, mas convém recordar que
a falha sísmica do Algarve continua activa, serviu até de principal argumento
contra a abertura de furos para prospecção de petróleo. O terramoto e maremoto de 1755 não terão sido
os últimos, a sua repetição não é ainda previsível - mas sabe-se que se repetirão.
Não
quero dar receitas, mas pelo menos um transporte colectivo eficiente e
permanente talvez resolvesse o problema do acesso, sendo autorizadas apenas as
viaturas dos residentes e as de emergência. Este é outro aspecto: numa
emergência grave com a estrada da ilha atulhada de viaturas, como se faz o
socorro? Cá esta a Cassandra a falar…
Que
esta ponte será a “obra do mandato” é inegável.
Mas
há pequenas obras que facilitavam a vida aos munícipes e que esperam por
melhores dias. A foto mostra a beira do caminho municipal entre Azinhal e
Amendoeira e Machados; há uns anos uma enxurrada levou a margem da ribeira e
deixou o asfalto á beirinha. Foi feita
uma obra que daria certo no talude de uma estrada: umas carradas de pedra
solta, cilindradas, sem fundação, com uma camada de tout-venant por cima. Só que é uma ribeira e na primeira pequena
enxurrada lá se foi de novo a berma da estrada que continua um perigo; quando uma
viatura, sobretudo de noite, se encostar à beira com a terra amolecida pode cair
para dentro da ribeira e lá virão as lágrimas de crocodilo. E é tão fácil resolver
aquele imbróglio com uns gabiões, como de resto já existe a uns metros deste
local … mas é obra pequena demais.
Até que ocorra uma fatalidade - esperemos que não,
mas é previsível que nos próximos meses venham a ocorrer alguns aguaceiros rijos…
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