A Ria Formosa e a Ilha de Faro
A Ria Formosa tem sido alvo de intervenções desastradas que em nada contribuem para a sua preservação. Todos sabemos que este sistema lagunar se não for intervencionado pelo homem tenderá a colapsar, pois a entrada de água praticamente é só a do mar que entra pelas barras já que os caudais de ribeiras que ali desaguam são de pouca monta.
Ainda se está para perceber a vantagem de ter aberto a última barra, a pouco mais de um quilómetro de distância da que existia e estava a ser colmatada, em vez de se ter procedido a umas duas dragagens por ano da barra antiga, já de si aberta contra o parecer não só de técnicos como de pescadores locais. Essas dragagens ficariam certamente por menos custos que as obras vultuosas da abertura da nova barra - para além do estrago que provocou no sistema lagunar.
Eu sou um frequentador da Ria Formosa e da Ilha de Faro desde há uns trinta anos, praticamente todas as semanas do ano e, quer sozinho quer acompanhado por amigos entre eles o dr. Mário Lázaro, companheiro de caminhadas e banhos de mar e de navegações de caiaque, tenho acompanhado a evolução do sistema lagunar e das ilhas-barreira.
Desde que a última barra foi aberta que não só a costa como o interior da Ria se transformaram no pior sentido : a extensão de areais é cada vez maior, a areia que entra pela barra tem-se depositado na Ria e na maré baixa praticamente não corre água nenhuma. A transformação é por demais visível e rápida. Antes era habitual verem-se cardumes de pequenos peixes ( cavalas, taínhas, etc) na babujem da margem da Ria, pequenos invertebrados e até polvos que apareciam próximo do areal. Hoje não há nada. A profunda alteração que as dragagens provocaram nos fundos da laguna levaram à sua morte como sistema vivo.
A "duna", construída sem critério compreensível e sem qualquer medida de fixação , com os dragados do fundo da ria já quase desapareceu, levada pelo vento mas sobretudo pelo mar.
Estes últimos meses assistimos a grandes temporais que afectaram a praia da Ilha de Faro de forma muito grave. A topografia da praia foi alterada, desapareceu uma boa parte da faixa que podemos dizer semi-dunar que ladeava a estrada e o mar agora galga-a e espalha-se pela via, arrastando toneladas de areia.
Mas na zona a nascente em que as dunas foram fixadas - trabalhos realizados há uns 20 anos pelo Parque Natural quando era dirigido por quem sabia o que devia ser a função desta AP, chamava-se Nuno Lecoq - os estragos foram mínimos, as dunas aguentaram a investida do mar e mesmo com os vendavais que ocorreram praticamente não se deram grandes movimentos de areias.
Hoje a praia está com uma topografia imprópria para os utentes, transformada numa sucessão de montes e depressões e numa rampa inclinada que não permite ao mar espraiar-se - nem se dá pela baixa- mar! Se ficarmos à espera que a Natureza reponha o facies normal da praia, bem podemos esperar - e nem é seguro que ela volte a ter uma configuração própria para banhistas, com o Verão aí à porta.
É urgente uma intervenção com máquinas , e embora eu pudesse dar palpites quanto ao que fazer, deixo essa tarefa aos entendidos... O certo é que a areia está a ser levada todos os dias em quantidades colossais pelo mar nas marés altas e essa areia vai para onde ? Adivinha-se.
Não acredito que alguém mexa uma palha para resolver a situação da praia da Ilha de Faro - Câmara Municipal , Turismo, Parque Natural, Autoridades Marítimas, com tantas instâncias responsáveis estamos para ver se alguém faz alguma coisa de positivo, além de andarem a rapar a areia da estrada e a voltar a coloca-la no areal. Mas se actuarem, cá estarei para dar por isso, eu e os habituais utentes da Ilha de Faro e da Ria Formosa.
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