quinta-feira, 3 de maio de 2018


 normalização = estupidificação
IKEA e similares

Não cito o nome IKEA por qualquer aversão especial à marca, é apenas por ser uma das maiores senão a maior das  grandes superfícies que vendem tudo para as nossas casas. Esta massificação da oferta dos bens que as pessoas mais consomem é a principal característica deste capitalismo desenfreado que nos inunda a vida e a transforma num rame-rame desconsolado. Num país com a nossa pequena dimensão, o número dessas grandes superfícies  significa que estamos a caminhar a passos largos para a completa normalização  da vida das sociedades tão cara aos mercados e  ao liberalismo que acaba por ser (já é) libertino.
Qualquer dia visitamos um amigo no Porto e encontramos as mesmas mobílias, os mesmos bibelots, as mesmas jarras, as mesmas almofadas que... temos na nossa casa e "por acaso" também em casa de uns primos que temos na Beira Alta.
Deixa de haver escolha, ou antes a escolha fica entre os modelos  e a estética que as grandes superfícies nos querem impingir; acabam os pequenos marceneiros, as pequenas fábricas de móveis a quem podíamos pedir uma modificação aqui  ou ali numa cadeira ou numa estante e termos os "nossos móveis", a nosso gosto.  Apenas acabarão por restar alguns fabricantes de produtos de alto gabarito para as classes possidónias que, essas sim, não deixarão de pagar seja o que for para terem coisas exclusivas. Agora para a malta, para o povão, as coisas fabricadas  em série serão baratuchas e  todas iguais  -" a minha  é marrron ,  ah! mas a minha é bordeau.... ". A  progressiva normalização da vida das sociedades é a estupidificação das pessoas. É a perda da diversidade cultural e da variabilidade de gostos que definem uma cultura.
Mas pior ainda do que esta normalização dos bens de casa, é que o mesmo acontece com os bens alimentares. Aqui estamos cada vez mais condenados a comprar as batatas ensacadas que as grandes superfícies nos vendem, sempre as mesmas duas ou tres qualidades, e as cebolas e as maçãs, e por aí fora; as nossas variedades desapareceram. E desaparecem também as nossas variedades de cereais e de leguminosas porque as grandes multinacionais do negócio alimentar  monopolizam a produção e o comércio das sementes e dos fertilizantes e pesticidas aos quais elas são adaptadas. É a perda grave da diversidade genética e biológica  - mas o que é que isso interessa aos executivos que estão à frente dos grandes grupos económicos e financeiros e aos "cientistas" e investigadores arregimentados por eles? Entra dinheiro e aumentam os lucros em cada ano, não é ? Isso é que importa.
È o maravilhoso mundo do Big Brother que Orwel  profetizou.

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