segunda-feira, 7 de maio de 2018

Agricultura e Ambiente

Em Maio de  1991 participei no Forum Ecologista e Alternativo, que reuniu um grande número de pessoas ligadas aos temas do título e em debate, incluindo políticos como  Galvão Telles, Augusto Mateus, Helena Cidade Moura, Gonçalo Ribeiro Telles, Mário Murteira, Isabel do Carmo, etc. O que me leva a falar nisso é que aquilo que eu escrevi na comunicação que apresentei tem muito a ver com o que se passou daí em diante e é actual. Vou transcrever algumas passagens desse texto.
  "A importância da política agrícola nos problemas do Ambiente
Ainda não vi os ecologistas em Portugal tomarem posição inequívoca  sobre a evolução das questões agrícolas, que se erguem no horizonte a médio e longo prazo como grave ameaça para o equilíbrio ambiental e para as condições de vida dos portugueses.
Qualquer que seja a política agrícola que for incentivada ela tem reflexos directos nas condições ambientais e nas características culturais do nosso país.
Começa por ser necessário, a meu ver, desmistificar a noção propagandeada por quem nisso tem interesse, de que somos um país florestal ou de vocação florestal.
Desde há milénios que nesta velha terra habitada os homens derrubaram a floresta para implantar a agricultura e o pastoreio; só nos vales encaixados, nas galerias das linhas de água e nos sítios encharcados - os paúis - se manteve a floresta como sítio inóspito, refúgio de feras e de inimigos, mas com a evolução das comunidades locais até essas zonas acabaram também por ser arroteadas em grande parte.
Quer dizer que fomos sempre um povo de agricultores e pastores, depois também de marinheiros, mas mesmo neste caso nunca os homens do mar perderam a ligação às suas courelas.
Não tínhamos a tradição  de gestão de florestas tal como hoje se concebem, porque os bosques abertos da nossa flora mediterrânica eram diferentes na concepção e na gestão.
Se assim é, é porque tivemos sempre condições de solo e de clima para a agricultura e para o pastoreio; não teremos talvez, hoje em dia, condições para a grande mecanização que se utiliza nas planícies da Europa Central ou da América - mas temos condições para a pequena e média exploração, para a produção de qualidade por oposição à produção em quantidade da agricultura industrial. ...
Ora se as propostas para a agricultura feitas nas conversações do GATT (General Agreement  on Tarifs and Trade) em 1990, conhecidas por Uruguai Round, forem levadas às últimas consequências, teremos o descalabro da nossa agricultura e, de forma geral, da maior parte da agricultura europeia que cair nas mãos dos grandes impérios mundiais da produção e comercialização dos produtos agrícolas.
O que os interesses internacionais pretendem obter no GATT é a completa liberalização da agricultura, pressionando os diversos Governos europeus para abolirem as políticas proteccionistas aos agricultores.               ....    .....      ......................
A raiz agrícola das sociedades europeias não se extirpa como quem arranca uma erva daninha, e os agricultores  europeus exigem nas mesas de voto a sua protecção. Daí que muitos Governos europeus tenham oposto as maiores reservas às propostas da Política Agrícola Comum (PAC) que só na aparência se diferencia das propostas do GATT.  ............                ..........
Sem a atribuição das políticas de subsídios agrícolas, as pequenas e médias explorações que não possam incorporar-se em grandes explorações de carácter industrial, não têm possibilidades de sobreviver.   ........                ........
...a gravidade da situação que se cria para a grande parte da agricultura europeia com a aplicação das medidas de completa liberalização do sector é tão séria, que dificilmente os diversos Governos deixarão de agir em conformidade; no entanto impõe-se a pressão contínua dos agricultores  e dos ecologistas e ambientalistas para que os tecnocratas dos Governos não cedam às exigências dos de Bruxelas.           .....      ......
...para além dos aspectos importantes da produção de qualidade e da manutenção em funcionamento das pequenas explorações e da agricultura não industrializada, esta agricultura ( tradicional ) é responsável pela manutenção das paisagens e dos habitats rurais que representam vários séculos de harmonização entre o homem e a natureza.     .............                 .....
Sendo os terrenos abandonados por falta de apoio aos pequenos agricultores, ficarão expectantes e o seu destino é a arborização;  e aqui se projecta a outra ameaça ambiental, já que esses terrenos serão presa fácil das empresas de celulose  para arborização com espécies de rápido crescimento  como o eucalipto e a pseudotsuga.
..... Há assim um ameaça eminente ao Ambiente em Portugal se a nossa agricultura seguir as imposições externas, ameaça que se agiganta, como vemos, no que se refere ao nosso património natural. Mas sob o ponto de vista cultural a ameaça não é menor. "

E aconteceu mesmo, com a gravidade que sabemos  : sobretudo com os Ministros e Secretários de Estado da Agricultura e Florestas dos Governos de Cavaco  Silva assistimos às pressões sobre os agricultores para deixarem de produzir em troca de um subsídio e deu-se a expansão do "petróleo verde" ou seja dos eucaliptais, para uma escala que alterou profundamente a dinâmica dos ecossistemas e a qualidade das paisagens e dos habitats. E depois ardem como tochas em dias de festa!!
Vir dizer hoje em dia que os eucaliptos não são combustíveis como disse há tempos um holandês que nos veio dar lições, e alguns técnicos florestais de que não se viram fotografias de eucaliptos a arder... é brincar com o pagode.




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