sexta-feira, 30 de julho de 2021

 Uma nota que é pedido de desculpa

Escrevo estas notas para mim, e escrevo à rédea solta, como até já indiquei ... ao correr não da pena mas do rato do computador. Mas pelos vistos há amigos que lêem o blogue e as críticas, mais como conselhos, não faltam: tens de ter cuidado com a pontuação e com certas falhas. Pronto, vou tentar ser mais cuidadoso mas serve de desculpa para mim porque leio certos textos de intervenção de outros amigos e activistas que, esses sim, vem cheios de erros, "saltos" de vogais, etc - que até eu procuro corrigir. Uso com frequência o hifen -  para esticar a frase, isso eu faço conscientemente, faz parte da minha maneira de escrever porque reproduzo o falar.

Aqui fica o pedido de desculpa a quem me lê.

quinta-feira, 29 de julho de 2021

De mal a pior

Todos se preocupam com os milhões de euros que vão chegar da Europa e todos querem o seu quinhão. A esquerda quer mais apoios sociais, a direita quer mais dinheiro para os empresários e as empresas - mas ninguém fala em reorganizar o Estado  e  o Governo para uma política de futuro. Todos os políticos falam das alterações climáticas, mas mesmo vendo o que elas estão a causar, já não lá longe mas aqui ao pé de nós, na Europa, não se assiste a um passo na direcção de medidas de médio e longo prazo que preparem o país para essa realidade que nos vai cair em cima.

E as políticas que garantem a sustentabilidade do território são as do Ambiente, Ordenamento do Território, Agricultura e Florestas - o sector primário -  tendo que se reorganizar o Estado e o Governo para ser eficaz, caso contrário estaremos  sempre a correr atrás dos acontecimentos e a inventar  promessas que não se cumprem e desculpas por não se terem cumprido. São políticas que dão poucos votos e a maioria da população fica indiferente a elas.

No Ambiente é urgente assumir que se tem de acabar com as actividades poluentes e apostar nas campanhas de educação ambiental, pois a maioria dos portugueses nem sabe o que isso é. Educação ambiental e cívica é a primeira condição para termos uma opinião publica crítica - precisamente o  que os políticos não querem; e neste domínio deve ter um  especial realce o eficaz apoio ao consumidor, sem medo das represálias das multinacionais sejam da alimentação, das redes sociais, das telecomunicações etc.

Na Agricultura a reorganização tem de ser total.  Temos centenas de milhar de terras por cultivar e que são um motivo para os cantos de sereia dos plantadores de eucalipto, leia-se a industria da celulose - já que as terras estão vagas vamos lá alugar ou comprar ( dinheiro não lhes falta) para criar as "florestas de produção" como tem o despudor de anunciar perante o silêncio e a indiferença gerais.

Precisamos de ter um Ministério da Agricultura e Florestas ( porque os dois sectores são partes íntimas do mesmo domínio que é o binómio solo - água) que ponha em prática uma política de incentivo ao cultivo mas também para refazer a política de investigação e experimentação agrícola que foi abandonada.  As Direcções Regionais de Agricultura tinham uma boa parte dessa função adaptada às características de cada região - e eu vejo pelo Algarve, onde uma bom núcleo de investigadores fazia mesmo experimentação séria -agora a mesma DRA incentiva a expansão doa abacateiros, consumidores de água, mesmo em terrenos da REN que depois vem a CCDR multar para português ver... Tal é a coordenação entre a Agricultura e o Ambiente!!

Devíamos estar a estudar culturas de ciclo curto e pouco exigentes em água, porque esse vai ser o nosso futuro - e isso não se faz de uma ano para o outro. Países do Mediterrânio estão a trabalhar nessa direcção e sei pelo menos na Argélia que se trabalha com base  na experimentação cientificamente apoiada.

Apresentado pelo tonitroante Ministro do Ambiente ( que não reparou, como o colega da AI,  que viajava a 200 km/hora,  ia a pensar...) um espantoso Plano de Reconversão da Paisagem, começando pela região de Monchique, e ao mesmo tempo que se fazia o plano para reconversão da floresta e da agricultura, aliás por uma boa equipa, estavam a ser autorizados centenas de hectares de novo eucaliptal na mesma área... É sério, não é?

Porque é   que, depois de terem sido entregues a técnicos e funcionários das celuloses, como isso não seria bastante, foram desmantelados os Serviços Florestais com toda a sua quadrícula de ordenamento e gestão florestais? Porque o regabofe da plantação livre de eucaliptal não podia suportar regras correctas e cientificamente apoiadas de ordenamento florestal. Começou com António Costa em Ministro da A. Interna e com o seu colega, o pior Ministro da Agricultura que Portugal já teve, continuou com a excelsa especialista Assunção Cristas e continua agora com esta aberração do ICN F que nem faz CN nem faz F.

Estamos a fazer História todos os dias, tenho estado para aqui  a discorrer ao correr da pena, melhor, ao correr do rato do computador.

Não há dúvida que o PS com este Governo, está a fazer mal à democracia e em especial como exemplo, que diz ser,  de um governo da esquerda democrática. As sondagens, que continuam a dar-lhe maioria e a António Costa, justificam-se porque, embora muitos não gostem, a verdade é que a maioria do povo português vota á esquerda; só excepcionalmente a direita ganha as grandes eleições e quando o fez deixou marcas que o povo não esquece. Primeiro foi com o Cavaco Silva, numa época duma certa insatisfação geral com os resultados da economia e do emprego - e até  Mário Soares, Presidente,  veio dizer que tinha esperança naquele académico que lhe parecia genuíno social democrata. Viu-se.

Depois foi com a troika, a seguir ao desastre do Pinto  de Sousa (vulgo Sócrates), em que perante uma aliança espúria que juntou a votação da esquerda e da direita, o PS foi derrotado. E o desempenho de Passos Coelho, sem experiência e sem programa, apanhado de surpresa e empurrado para Primeiro Ministro com aquela plêiade de grandes Ministros como o Relvas, o Gaspar (aquele  que falava em 33 rotações e se demitiu por ter falhado, no mínimo foi sério ou não quis assistir ao resto do desaire), a excelsa Ministra Cristas que sabia tanto de agricultura como eu sei de chinês, o espertalhão do Portas que estava a preparar a sua vidinha ( como quase todos, diga.se em abono da verdade), enfim, foi uma vacina que deram aos portugueses.

Aparecer a formar governo apoiado  na extrema esquerda, foi um golpe de asa que A. Costa demonstrou e levou como emblema à Europa - afinal podia governar-se dentro da União Europeia, apesar das politicas liberais e financistas que se praticam, com um governo apoiado por marxistas e um programa bastante voltado para o social.

E o certo é que, quer com o BE quer com o PCP,  a coligação funcionou, recuperou em parte a economia e a divida publica, foram alargados  maiores benefícios aos trabalhadores - mas não fez reformas e não foi capaz de apresentar mesmo uma política de esquerda como deveria ter sido aplicada:  as instituições do Estado a funcionarem no limite da derrocada, com medo de patrões e de represálias da UE. Ora temos uns 13 a 14 % de emprego na Função Pública, quando a média da UE é de 17% . - os 3 ou 4% a mais dariam para completar os quadros do SNSaúde, para completar os quadros da Justiça, para completar os quadros das escolas e  das Universidades. Isso seria um dos pontos que marcaria a diferença para uma governação da direita liberal que espreita o momento para o salto de tigre...

Pior que tudo isto, a incompetência que A Costa e o PS revelam neste segundo Governo onde, apesar de críticas políticas  exageradas da direita, afinal não foi no combate à pandemia que  as coisas correram mal - foi na incompetência de grande parte dos Ministros, na falta de visão das políticas que deviam apostar no médio e longo prazo e nem se vislumbram.

Com um  Governo espalhafatoso  de umas 50 pessoas - quando se pedia um Governo pequeno, activo, interveniente -  e  a cometer erros crassos de  bradar aos céus, perante a mudez do Primeiro Ministro, a manutenção  de autênticas abencerragens no Ambiente, na Agricultura, na Administração Interna. etc, etc- que imagem passa de um governo de esquerda democrática ?










terça-feira, 27 de julho de 2021

 Desculpas esfarrapadas - a hipocrisia é a mesma

Depois do que escrevi antes, a hipocrisia descarada obriga-me  a voltar ao assunto : acabo de ouvir Marcelo R Sousa informar que o governo não quis declarar luto nacional pela morte de Otelo porque já antes haviam falecido Melo Antunes e Salgueiro Maia e não havia sido declarado esse luto.

Quer dizer, por ter havido duas injustiças anteriores pratica-se mais uma, hen? 

Melo Antunes faleceu em Abril de 1992, quem havia de dizer, era Primeiro Ministro Guterres- não achou decente o luto nacional pela morte do grande pensador do 25 de Abril ?

Salgueiro Maia faleceu em Agosto de 1999, era Primeiro Ministro Cavaco Silva, a mesma coisa. 

Tal é o apego dos nossos políticos a quem lhes permitiu que o fossem!






 A hipocrisia da política - e a falta de vergonha

O falecimento de Otelo Saraiva de Carvalho está a mostrar mais uma vez a hipocrisia dos políticos, que trocam a verdade e os sentimentos pelo negócio das audiências e dos arranjos de ocasião.  E se é verdade o que vem hoje no editorial do Publico, que por vontade expressa de António Costa  o Presidente da Republica não declara  luto nacional, é uma vergonha .  É uma cedência à direita e ao PCP, porque o Otelo enfrentou Vasco Gonçalves e não  pactuou  com os planos  comunistas para manter a revolução contra a maioria do povo português, como se veio desassombradamente a revelar nas primeiras eleições livres em que o PCP ficou de vez arredado da supremacia do Poder. E isso ele não perdoa - e A. Costa precisa do PCP para este Orçamento. Da direita não é de esperar outra coisa, nem falo - porque me recuso a ler- as páginas das redes sociais com os energúmenos habituais.

Otelo errou mais tarde ao consentir que o seu nome fosse associado ao terrorismo da extrema esquerda, que não falta quem venha recordar, os mesmos que escondem o terrorismo da extrema direita ligado directamente ao Cónego Melo e ao Spínola. Uma coisa Otelo não era, não era mentiroso - e desmentiu sempre que tivesse estado directamente ligado às FP 25 - pode ser que Isabel do Carmo venha  explicar isso um dia destes.

Essa inconsistência ideológica, a falta de preparação política e uma maneira de ser irrequieta formam o lado negativo de Otelo. mas sem a capacidade organizativa dele o 25 de Abril não tinha funcionado como um relógio sem falhas. E isso a direita revanchista não lhe perdoa. Lembremos que Cabaco Silva condecorou dois pides e recusou beneficiar Salgueiro Maia - querem melhor exemplo?

Valha-nos a grandeza de espírito de Ramalho Eanes!!

E esperem pela pancada neste segundo mandato de Marcelo Rebelo de Sousa, nada vai ter a ver com o comportamento melífluo do primeiro mandato, Quanto a A Costa é mais do mesmo - a hipocrisia assumida como política,





domingo, 25 de julho de 2021

 11h 15

Morreu Otelo

Só soube agora, acabo de ler a notícia de que faleceu  Otelo, nem é preciso acrescentar mais nada ao nome.

Portugal democrático deve-lhe a liberdade. deve-lhe o sucesso da operação militar que derrubou a mais velha e caquética ditadura da Europa, deve-lhe um planeamento operacional que apanhou os generais do regime de "calças na mão", os governantes a borrarem-se de medo .

Outros tres militares foram cruciais, o Ernesto Melo Antunes. de quem fui amigo muitos anos antes e que continua esquecido, o cérebro e a motivação política dos militares que, por natureza, não eram muito versados em ideologias; Salgueiro Maia que arriscou  tudo naquela madrugada nova e límpida, que até já foi criticado por outros militares por, sensatamente, não ter querido abrir fogo no Largo do Carmo e dar ali lugar a um banho de sangue naquela tarde de glória; e Ramalho Eanes, que simbolizou o bom senso e a coragem física do democrata intransigente, quando os extremistas ameaçavam dar cabo da jovem liberdade instituída para impor outro tipo de liberdade "deles" -  quem é desse tempo não esquece.

Mas foi o Otelo quem planeou  e improvisou, quando o plano às vezes falhava, o golpe misericordioso sobre o  decrépito regime. Fez disparates, disse tolices, foi utópico e mal informado, foi sim senhor, mas tudo isso é próprio do seu espírito irrequieto onde apesar de tudo não faltou também o bom senso quando percebeu que o caminho dele não tinha saída.

Virão agora algumas avantesmas da direita dizer cobras e lagartos, e alguns anquilosados da esquerda farão o mesmo. Os extremos tocam-se, a todos eles falta a ânsia, o fervor e a lucidez de viverem numa democracia sem mais alcunhas ou cognomes.

O 25 de Abril é de toda a gente, da esquerda e da direita, ninguém é dono dele, mas tenham lá paciência e engulam mesmo  a custo -  foi feito e defendido pela esquerda; eu da direita conheci alguns da ala liberal  do regime anterior, não me dei com Sá Carneiro mas dei-me com Magalhães Mota e outros do grupo, esses sim quiseram mesmo o 25 de Abril. O resto da direita não teve outro remédio senão ajeitar-se ...

Recordaremos o Otelo,  vamos ler as diatribes que vão ser escritas sobre ele por alguns "historiadores" acantonados a gente sabe onde, mas para quem quer a liberdade acima de tudo, a liberdade burguesa que o proletariado também disfruta, para esses é o herói que desaparece.  E a História dos factos, não a das ideologias, já lhe reservou o lugar,



quinta-feira, 22 de julho de 2021

 Florestas e matas

No passado dia 8 saiu um artigo no Publico de um engº silvicultor que, diga-se, assumiu que era do sector das celuloses e que, talvez por simplificação, tinha algumas deturpações da terminologia como sejam as "florestas de produção" referindo-se às nossas matas de produção de pinhal e eucalipto. No dia seguinte, 9 de Julho, enviei ao Publico um texto em que explicava  que era útil um contraditório ao citado artigo,  para esclarecer conceitos.

Até hoje não se deu a publicação, e portanto fica aqui dito que corto  toda a colaboração com este jornal. nunca mais escrevo uma linha que seja para o Publico, que continuo a achar um bom jornal  face ao panorama  da concorrência -  e  estão no pleno direito de publicar só o que entenderem, até podem invocar que o meu texto está em mau português, etc. Mas como se trata de pessoas que conheço  desde há muito, uma palavra a explicar teria ficado bem. 

Assim, porque estou farto deste comportamento,  nunca mais enviarei uma linha para o PUBLICO, nem a pedido. Segue o artigo excluído.

Matas de protecção e florestas e matas de protecção

A floresta e a mata produzem bens, algumas bens e serviços e outras essencialmente serviços.

Chamar correntemente floresta a todos os povoamentos arbóreos é uma simplificação ( digamos assim). Tal como se designavam - quando existiam- os Serviços Florestais (SF).

Isto  e o que se segue são verdades de La Palice, mas creio não fazer mal nenhum, de vez em quando, refrescar os conceitos e afastar as confusões - e há alguma opinião púbica que anda confusa.

Floresta é um sistema natural complexo, onde coexistem diversas espécies arbóreas, com diferentes estados de desenvolvimento, arbustos e herbáceas, criando vários andares de vegetação. Quando o homem intervêm e se dedica a explorar a floresta, retira sobretudo as espécies com maior valor comercial consoante o uso a dar ao material lenhoso.

A necessidade de aumentar as áreas das espécies mais interessantes levou à criação de novos povoamentos, em regra monoespecíficos - as matas. Isto é entendido assim há pelo menos uns dois milénios quando os romanos criaram  no seu Direito as categorias de ordenamento do território ager, saltussilva ; e havia ainda o paúl, áreas de floresta por explorar geralmente nos vales e sujeitos a cheias. Por isso hoje, p.e. em Portugal, quando se plantam matas de pinheiro bravo ou de eucalipto não se estão a criar florestas mas sim matas - a mata é o oposto da floresta.

No pinhal, sobretudo se não for demasiado denso, ainda se conseguem estabelecer andares sub-arbustivos e herbáceos e alguma fauna encontra neles habitat de sobrevivência (saudoso Pinhal de Leiria); mas nos eucaliptais, então com a densidade com que são em regra plantados, nada mais cresce nem a fauna encontra condições para se fixar.

Vamos então assentar : precisamos de matas de produção que visam essencialmente oferecer madeira e os pinhais ainda a resina. E vamos aqui deixar de lado os sobreirais e azinhais e respectivos montados.

Mas precisamos de manter o pouco que resta das florestas naturais de protecção e, indo mais longe, plantar matas equilibradas para protecção das tão faladas cabeceiras das bacias hidrográficas e encostas muito declivosas . e essas fornecem sobretudo serviços ao Ambiente.

Tudo isto pressupõe que exista uma política florestal nacional, pensada e gerida nacionalmente, embora lógica e indubitavelmente aplicada de perto aos níveis regional e local. Política florestal é o que não existe em Portugal desde que se extinguiram os SF e as Administrações Florestais que formavam uma quadrícula que cobria todo o nosso território. As consequências vêem-se todos os Estios...

Já cansa falar destas matérias perante os olhos cegos e os ouvidos surdos de quem  nos governa e teve o desplante de acabar com a estrutura florestal nacional, e neste jornal, depois de, entre outros, o Prof. Jorge Paiva ter publicado aqui excelentes textos didácticos.

Só através de um ordenamento florestal cientificamente apoiado se poderá determinar, com vantagem  para a economia e vantagem para a sustentabilidade, onde se poderá consentir a mata de produção  e - não vale a pena aqui atacar ou defender o pinheiro e o eucalipto pois são por demais conhecidas as suas características e exigências. O que também não vale a pena é mistificar a opinião pública confundindo floresta e mata...

Ensinamos nas escolas e nas Universidades o que é a floresta e o que é o ecossistema  florestal - ora a publicidade  da indústria da celulose, por muito sofisticada que seja, não pode ( poder, pode, mas não deve...) confundir a opinião pública.

Todos sabemos quem acabou com os SF e com a política florestal que poderia corrigir os abusos, e porquê - mas isto as celuloses não dizem... !"

----

Creio que foi nos finais da década de 80  do passado século, havia por aí espalhados uns  cartazes enormes, promovidos pela industria da celulose,  com uma fotografia dum eucaliptal e em letras garrafais o elogio à floresta.

Então dirigi uma carta ao Instituto da Defesa do Consumidor, que nessa altura ainda pontificava, denunciando  precisamente esta falsa ideia que se estava a passar de que os eucaliptais eram florestas, por se tratar de  publicidade enganosa. O certo é que recebi resposta a esta queixa e pouco tempo depois desapareceram os cartazes...





quarta-feira, 21 de julho de 2021

 De repente o mundo parece acordar para as alterações climáticas. Depois das muitas dezenas de vítimas de fenómenos extremos no centro da Europa, aqui mesmo ao pé da nossa porta, em países que se supõem super civilizados e super organizados, eis que as vítimas passam para os milhares na China; todos os anos há incêndios rurais nos EUA. este ano o país está estupefacto com a violência, a frequência  e a extensão dos incêndios.

----

Ecologismo e Partidos Verdes na Europa e em Portugal

Alguns ainda se lembram como o Maio de 68 foi o arranque para preocupações políticas até aí ignoradas, mesmo na Europa mais avançada, pois por cá estávamos em plena noite negra do salazarismo. E entre essas novas preocupações (de resto poucas vezes invocadas quando se fala naquele movimento libertador começado em  Paris ) estavam a causa ecologista,  a denúncia da sociedade de consumo e outros valores da modernidade.

A importância dos Partidos Verdes tem vindo a subir em toda a Europa e vale a pena destacar a Alemanha onde já são a segunda força política,  deixando para trás os social-democratas - o que não deixa de ser curioso pois, tal como em Portugal, os social democratas ou socialistas democráticos não foram capazes de incorporar as preocupações ecológicas, o que é um contra-senso já que  a esquerda democrática contemporânea é internacionalista e ecologista - ou não é esquerda.

Em Portugal continuo a denunciar que a grande machadada na força do movimento ecologista  foi dada pela criação do Partido Os Verdes, apêndice do PCP  e que absorveu  símbolos e a retórica ecologista, tendo contraído os movimentos de cidadãos que na altura estavam a tentar organizar-se como força para entrar na luta política. Em 1982 sucediam-se várias reuniões de activistas, fruto da grande diversidade de opiniões e de posicionamento de pequenos grupos, quando andavam a ser recolhidas assinaturas para o referido Partido. Eu mesmo escrevi na Capital um artigo em que se denunciava os melancias que eram verdes por fora e vermelhos por dentro.

Ser ecologista e activista pelo Ambiente não é compatível com qualquer tipo de ditadura seja a do proletariado e a sua democracia "popular" ou a democracia "orgânica" apregoada pelo Estado Novo.

Transcrevo aqui um  Manifesto com data de 14 de Junho de 1982, assinado por mim e pelo João Reis Gomes:

"Sendo ao que parece facto consumado a formação, muito em breve, de um auto-cognominado "partido dos verdes", entendem algumas pessoas ser o momento de reflectir sobre este dado "novo" na conjuntura da confusão nacional e agir em conformidade.
Por isso sugerimos aos interessados nessa reflexão que compareçam numa reunião  marcada para o dia 18 deste mês. às 18 h, no Centro Nacional de Cultura, Rua António Maria Cardoso 13 - 2º, em Lisboa.
 Parece ser altura de se fazer um esforço por parte dos ecologistas, para criar uma frente comum, pondo de lado, provisoriamente que seja, as diferentes sensibilidades que nos têm dividido, para uma conversa sobre o essencial. Sugerimos por isso alguns pontos para o diálogo:

- Viabilidade de se concretizar muito rapidamente uma frente de ecologistas independentes ( não alinhados com nenhum dos "soi disant" partidos ecológicos, um formado e o outro em (de)formação;

- Viabilidade de preparar um projecto ( programa) de ecologistas independentes, onde as várias sensibilidades participem e se façam ouvir; 

- Criação de um Grupo de Arranque que leve à prática as acções necessárias;

- Viabilidade de multicopiar regularmente (*) uma colecção de textos para o diálogo, como forum de propostas que as várias tendências do ecologismo  independente entendam urgente impôr ao Poder, para fazer avançar em Portugal uma democracia ecológica. Uma das acções do Grupo de Arranque será estimular a produção de textos com eco-propostas, multicopiá-los e enviá-los a quantos se inscreverem como interessados em recebê-los regularmente;

- Viabilidade de um Encontro alargado, até ao fim do ano, para dialogar sobre os textos trocados e dos quais será obtido um texto - síntese final para apresentação a todos quantos detém um parcela do Poder e da responsabilidade política deste País."

Enquanto os utópicos militantes ecologistas sem partido andavam a reunir, - e recordo, entre outros, o saudoso Afonso Cautela -  sabíamos que andavam a ser recolhidas assinaturas para o tal Partido  VERDE e sabíamos quem é que andava a fazer essa recolha. No inicio até houve uma dirigente com simpatia, credibilidade e competência, a Engª Maria Santos, não sei se alguns se lembram - nunca mais ouvimos falar dela.

O certo é que, para mim e creio não estar sozinho,  a formação deste Partido bloqueou  qualquer partido ecologista.  fez passar a ideia de aproximação ideológica entre ecologistas e comunistas, e nunca mais se conseguiu desfazer essa confusão - ao contrário da Europa onde os Partidos Verdes têm cada vez maior audiência e independência.

 O Partido Verde português nunca se apresentou sozinho em publico, nunca concorreu a eleições sozinho, ninguém sabe o que ele vale em termos de opinião pública e ninguém o vê entrar em posições  claras,  publicas  e francas para além de palavras de retórica. Têm direito a existir ? Claro tem esse direito, o que se lamenta é que não exista em Portugal uma formação Política verdadeiramente ecologista e desempoeirada . mas  è o que temos...

Agora com a demonstração das alterações climáticas a caírem em cima das nossas cabeças vamos ver o que os Partidos do Poder serão capazes de fazer - porque até à data ter este Ministério do Ambiente ou não ter nada é o mesmo,  Continuar a assistir ao rebentar de fogos rurais  sem termos  ( cá vou bater a tecla pela enésima vez...) uns Serviços Florestais a sério e uma  política florestal a sério, é  apenas uma grande tristeza,,, Dentro em pouco será uma grande desgraça, diria a cassandra...

(*) Não havia net, nem telemóveis...










sábado, 17 de julho de 2021

 Monchique está a arder, quem diria !! Plantem mais eucaliptos dentro do Plano do Ministério do (Des)Ambiente para "Transformação da  Paisagem", quanto mais lenha houver melhor arde !

Alterações climáticas e a inconsciência geral dos (H)homens

São homens com letra minúscula, porque face a estes problemas com  que o planeta nos avisa  (não agora, há já umas décadas. pausadamente, só que agora mais depressa....) muitos, incluindo governantes, continuam a proceder como se as guerrinhas entre cada centro de Poder fosse o mais importante das nossas vidas.

Fenómenos extremos na Indonésia, na Antártida, em Madagáscar, tudo longe; depois nos EUA e no Canadá - olá, mais perto ! E de repente vemos dois países "civilizados", aqui à nossa porta,  tecnologicamente equipados, cultural e politicamente evoluídos, com catástrofes inimagináveis - mais de 100 mortes e 1000 desaparecidos na Alemanha, mais de 20 mortes na Bélgica e prejuízos de infraestruturas, casas, agricultura, etc,  de somas monstruosas. Afinal aqui perto - agora já se acredita nas alterações climáticas? - O coro será unânime, claro que acreditamos, claro que faz parte do planos ( quais planos?!...), da nossa retórica.

Não sei se todos repararam mas algumas das imagens das catástrofes do centro da Europa mostraram que havia casas que desapareceram  em leitos  de cheia e havia encostas desprotegidas. afinal as mesmas  causas que estiveram na base de muitas tragédias portuguesas em 1967 e 1983 e nos Açores. A Alemanha foi onde mais cedo se propuseram medidas de ordenamento do território e de correcção de problemas nas bacias hidrográficas e nas linhas de água. Já em 1974 num estágio longo que fiz no gabinete que o Prof. Hans Werkmeister tinha em Bochum, na região do Rhur, esses assuntos estavam na ordem do dia e a ser aplicados. Pelos vistos não foram aplicados em todo o lado.

Transformações climáticas sempre houve, por causas naturais relacionadas com a rotação do planeta, a sua inclinação sobre o eixo vertical e outras causas naturais; mas as alterações climáticas provocadas pela acção do Homem também ocorriam, mas agravaram-se drasticamente com a Revolução Industrial do século XIX, e  daí em diante só aumentaram.  Sempre houve ondas de calor, chuvas torrenciais, períodos de seca, ciclones e tempestades tropicais, mas agora são cada vez mais frequentes e acontecem um pouco por todo o planeta.

Desde há bastante tempo que cientistas em todo o mundo  alertam para a urgência de se travar o processo da deriva climática e convém recordar que em 1988 foi criado pela ONU o Grupo de Trabalho Intergovernamental para a Evolução Climática reunindo especialistas de várias ciências . E não pararam mais os esforços internacionais, a que todos os países aderem sempre "em princípio".

Em 1992 foi criada a Convenção-Quadro das n«Nações Unidas sobre as alterações climáticas; em 1997 foi estabelecido o célebre Protocolo de Kyoto ; em 2016 foi subscrito por praticamente todos os países do mundo o Acordo de Paris  ( que o Trump abandonou...)

Até deram o Prémio Nobel a Al Gore pelas campanhas que ele fez a favor das medidas de prevenção  das políticas que afectam o Ambiente. Para pouco mais que nada.

Especialistas notáveis em todos os países tomaram posição sistematicamente a favor do planeta, o sueco Bert Bolin, o canadiano Maurice Strong, o britânico John Houghton, o indiano Rajendra Pachaun, o sudanês Ismail El Gizouli, o sul coreano Hoesung Lee, o francês Jean Jousei,  o português ( entre outros ) Filipe Duarte Santos - ano após ano a pedirem  que se invertam as políticas dos governos, nem que seja uma de cada vez, começando pelo mais pequeno gesto - e nada acontece .
Em Portugal já foi denunciado, até por mim, a pouca vergonha do uso da água em regadios espúrios no Algarve, em verdadeira economia de casino, as extensões que chegam  a ser criminosas de olival e depois amendoal nas terras alentejanas, a expansão descarada dos eucaliptos quando por outro lado se finge que se tem planos para "reconversão das paisagens" ( veja-se  Monchique...) e as medidas -fantoche de hipotética politica florestal  etc, etc.  Imagine-se por esse mundo fora -  já não será para mim mas os filhos, mesmo os mais velhos e os nossos netos vão apanhar com as consequências das asneiras que hoje se praticam. E se vier uma catástrofe de súbito e de grandes proporções... aqui d'El Rei !!












quinta-feira, 15 de julho de 2021

 A água  é um recurso público

Empresas privadas voltam à carga  para tentarem conseguir a privatização da água. Logo no início deste Ministro do Ambiente, no anterior Governo. foi enviado ao Algarve um Secretário de Estado para tentar a privatização das Águas do Algarve, o que foi recusado por todas as Autarquias algarvias.

Mas o negócio deve ser tão aliciante que as Empresas privadas do sector do Ambiente  não desistem e é preciso que haja um sobressalto de consciência nacional para assegurar que a água, que  é um recurso escasso e de interesse eminentemente publico, é nas mãos da gestão publica que deve continuar.

Teremos que exigir à gestão pública competência e integridade, temos que vigiar as negociatas e o eventual aproveitamento político da gestão do sector -  mas todos quantos se preocupam  com a defesa intransigente dos recursos naturais devem sair a terreiro por esta causa.

Importa fazer valer junto da UE que a concorrência nos negócios a que se refere a Associação das Empresas Privadas,  certamente válida para muitos aspectos da economia, não pode aplicar-se a um bem raro, escasso e insubstituível como é a água, sobretudo num País da latitude mediterrânica que sofre - e vai ver aumentado esse sofrimento - com a falta de água, as secas prolongadas e os fenómenos extremos de chuvadas torrenciais em que muita da água não é armazenada e secas prolongadas.

Continuamos sem saber se existe no Ministério da Agricultura qualquer estratégia de investigação para encontrar culturas de ciclo curto e resistentes à aridez, como se pratica em países da nossa condição climática. Mas o mesmo Ministério da Agricultura continua a apostar na clássica agricultura intensiva de regadio, diminuindo as preocupações com a água necessária, porque "ela vai dando". Aqui no Algarve D R Agricultura promove publicamente a extensão dos pomares de abacateiros,  e afirma que água vai dando, enquanto a CCDR multa empresários por fazerem plantações de abacateiros em cima da REN - mas tres anos depois da plantação,  com a fruta quase a ser colhida, como é que é ? Vai mandar arrancar as árvores? Isto tem alguma credibilidade?

Este Inverno choveu mais um pouco, mas só por inconsciência se pode dizer que problema fica resolvido; as alterações climáticas continuam a ser uma retórica governamental sem correspondência nas  políticas seguidas.

Parece que ninguém ficou alarmado por se  terem registado temperaturas de 18º na Antártida - fica  lá tão longe...

Continuamos por cá a ver a publicidade sofisticada às "florestas de produção" e continuamos sem uma politica florestal global, com  o devido ordenamento florestal, que coordene a implantação das matas ( não é das florestas) seja de produção ou de protecção.

São tudo aspectos que tem directa e inevitavelmente a ver com a falta de água em várias regiões do planeta - e nas latitudes mediterrânicas isso afecta-nos já. Continuamos numa economia de casino, dura...enquanto dá, depois quando escassear muda-se para outro lugar, para outro "casino".

Volto como comecei, é urgente travar esta campanha para a privatização da água, é preciso que todos quantos se preocupam se ergam e façam alguma coisa !!













segunda-feira, 12 de julho de 2021

Passados 15 dias de enviado, este artigo não foi aceite pelo "Publico" 

A História mal tratada

Há demasiado tempo que se assiste aos tratos de polé a que a História de Portugal tem vindo a ser sujeita, nomeadamente  com autores que assinam como historiadores.

Eu não sou historiador, mas estudei sempre muito essa disciplina, tenho uma razoável pequena biblioteca de História e sou, acima de tudo, um cidadão português activo e interveniente que quer contribuir para uma massa crítica na opinião pública, e que continua a faltar no nosso cantinho lusitano - e por isso se sofrem as lógicas consequências.

A História faz-se no dia a dia e sempre se fez com os actos praticados pelos povos e seus dirigentes, de acordo com as leis e costumes de cada época. Interpretar a História hoje, de acordo com as convicções ideológicas de cada "historiador", é tudo menos dar a conhecer a História e não faltaram ao longo dos tempos os "senhores da verdade" que sempre tentaram reescrever a História de acordo com os seus limitados e deturpados interesses.

Está na altura de dizer basta, deixem-se de discussões parvas como algumas a que temos assistido e revelam o enviesamento das mentalidades, para a esquerda e para a direita. Quando se lêem textos e afirmações de um Loft ou de uma Bonifácio, para citar apenas dois nomes, ficamos esclarecidos.

Está na moda, que não é só portuguesa, de se pedir desculpa  pelos factos cometidos há séculos pelos nossos antepassados, seja colonialismo seja escravatura; é outro redondo disparate nos moldes em que é praticado. Defender hoje qualquer justificação para a escravatura - que continua a praticar-se, com outra designação, como temos visto cá pela terra...- é um crime e sem desculpa. Mas historicamente todos os povos e culturas praticaram a escravatura, K. Marx fixa-a como um período da evolução da economia.

Aqui há uns anos estive na ilha de Goreia, no Museu da Escravatura, eramos dois portugueses num grupo de franceses e o cicerone explicava o negócio negreiro apenas dos portugueses. No fim pedi a palavra e no meu arrazoado francês disse ao sujeito que na sala havia um painel com os nomes dois principais negreiros, eram franceses, holandeses,  ingleses, mas nenhum era português. Ele embatucou. E acrescentei que os navios chegavam às praias e não desembarcavam tropas para irem arrebanhar homens - eram os sobas e chefes das aldeias que os traziam à praia e os vendiam, todos sabem isso,

Já algum chefe africano de hoje pediu desculpas por os seus antepassados terem vendido os seus próprios cidadãos? O sujeito voltou a embatucar e ficou  mudo...

Animistas e muçulmanos praticaram a escravatura; os árabes eram mestres nesse negócio - já algum dirigente ou chefe religioso muçulmano pediu desculpa por isso? Se calhar fui eu que não ouvi ou li ...

Quando lemos certas tiradas demagógicas de ideólogos ditos historiadores, mais apreciamos a independência intelectual de personalidades que nos ensinaram a História e cito apenas dois, Vitorino Magalhães Godinho e José Matoso. 

Que se desvirtuam as interpretações históricas para servir regimes autoritários, sempre aconteceu, e  a mente humana conserva atavismos pelos séculos fora - se Zoroastro viveu quinhentos anos aC e ainda hoje há milhares de zoroastrianos, não espanta que depois dos crimes de Hitler ainda haja nazis, depois de Estaline ainda haja estalinistas e, à nossa escala, que depois da noite negra do Estado Novo ainda haja quem enalteça o salazarismo e a "grandeza" de estadista de Salazar.

Realmente crime é andar ao arrepio da História com fez Salazar ao manter as colónias em pleno século XX, com a  hipocrisia de lhes chamar Províncias Ultramarinas, quando todos os países civilizados já estavam a descolonizar - e até Portugal tinha dado o exemplo em pleno século XIX com a independência do Brasil. Agora, em vez de fazerem grandes manifestações contra os "descobrimentos" ou "achamentos", recordem mas é a ciência das navegações e o Tratado de Tordesilhas, como exemplos de tecnologia avançada  e de conhecimento científico que nem os vizinhos espanhóis percebiam porquê...

A História faz-se com factos realizados em cada época e estes só são criminosos quando são feitos ao arrepio da evolução da vida  e da História.









domingo, 11 de julho de 2021

 Carta de leitor enviada ao Publico em 29 de Junho passado


Começa já a falar-se  de que haverá uma remodelação do Governo, tantos são os sinais e fadiga, de disparates, de nítido cansaço institucional - chegado o fim da Presidência portuguesa da UE. Mas não acredito que António Costa faça uma remodelação governamental como o País precisaria, porque os vícios acumulados e as complicadas dependências entre os amigos dos diferentes lobbies dentro do PS, não o permitirão. Na lógica duma cidadania activa em que me coloco, são cruciais para o País políticas totalmente diferentes das até agora seguidas em áreas que tem a ver com a sustentabilidade do território e a vida equilibrada a médio e longo prazo, como são os domínios da agricultura e florestas e a do Ambiente que inclua o ordenamento da paisagem e a Conservação. E entregues a personalidades com conhecimentos e empenho convicto nas áreas para que forem nomeados - mas depois destes exemplos de mediocridade, de tiros nos pés, de clientelismo e de empurrar os problemas com a barriga, quem é que, entre as personalidades verdadeiramente capazes, quer entrar para uma governação onde apenas impera o interesse eleitoralista e se descuram as áreas de longo prazo, que dão menos votos? 

----

Quando um organismo funciona mal...

As incongruências das governações portuguesas espelham-se nas soluções de organização do aparelho do Estado. Quando um organismo funciona mal, em vez de se remodelar e corrigir extingue-se. Foi assim - por ser exemplar  lá terá de vir à baila outra vez - com os Serviços Florestais, onde, ao serem extintos, levaram a que os guardas florestais fossem integrados na GNR, com a qual nada tinham a ver: e agora com o SEF, com carreiras de investigação específicas e adaptadas aos serviços que presta, mas em vez de se corrigir o que nele corria mal, pronto, acaba-se com o serviço.

Agora é anunciado mais um Serviço para coordenar a caça, caça que sempre esteve umbilicalmente ligada aos serviços florestais. E lá vai mais um encargo para o mesmo Ministro do Ambiente que, como não percebe nada disto nem do resto que lhe tem caído em cina ( excepto negócios de barragens,  de minas, etc...), tanto se dá que tenha mais um ou menos um encargo.

António Costa quer é ministros que sejam seus yess men, que aceitem o que ele pensa  e fiquem calados sem levantar ondas,,,





sábado, 10 de julho de 2021

REFLEXÔES  para matar o tempo 

Será que a democracia se aguenta?

A situação que  vemos a emergir no mundo ocidental está ainda no início e vai agravar-se. O grande problema mundial será o da qualidade do trabalho ou a falta dele e, dependente deste, acredite-se ou não, está o da democracia.

A democracia ocidental, a que  marxismo chama de burguesa, foi-se constituindo nos países ocidentais (que o são por termos como  centro a Europa) partindo de uma evolução  de mentalidades dos homens europeus, para a qual contribuíram  movimentos culturais e civilizacionais originados sobretudo na Europa meridional -desde  o Renascimento que rompeu com a idade Média e levou Portugal a viajar pelo mundo e a revelar povos e nações que se desconheciam; depois com o Iluminismo do Século das Luzes, mais tarde com a Revolução Francesa e a criação do Estado Moderno: por fim as ideologias democráticas  que se opunham quer ao comunismo quer ao liberalismo, como a social democracia e a democracia cristã e que, convenhamos,  tiveram muito a ver com a Encíclica Rerum Novarum do Papa Leão XIII.

Significou também uma laicização progressiva das sociedades.

Penso que as democracias do "Estado Social" foram aquelas formas de vida colectiva mais avançadas e que até hoje melhor serviram os propósitos das sociedades evoluídas, pese muito embora a negação disto que é feita quer pelos liberais mercantilistas quer   pelos marxistas mais ortodoxos : o controle público da vida económica sem desvirtuar a liberdade criativa e as liberdades individuais fundadoras da democracia; a garantia de protecção social para todos; a escola pública; a saúde pública ao alcance de todas as classes por igual;  a justiça ( se bem que  imperfeita) aberta como suporte das liberdades democráticas.

Tudo isto foi conseguido à custa de uma economia que, para lá de pequenas oscilações, se ia mantendo progressiva, com possibilidades de emprego para as várias capacidades das pessoas, e com a base indispensável do sector primário. Havia trabalho para quase toda a população dos diversos países.

Ora os avanços tecnológicos e o crescente predomínio do sector financeiro foram alterando o quadro do trabalho. libertando mão de obra do sector  primário, menos qualificada e que nem sempre conseguia adaptar-se às exigências técnicas do sector industrial; veio depois um período de transição com o crescimento do sector dos serviços nas suas diversas facetas, e que absorveu, até dada altura, alguma da mão de obra liberta por outros sectores da actividade económica.

Mas chegados a este tempo do século XXI, as derrapagens começaram a sentir- se até em todos os países europeus, com grande incidência naqueles, como Portugal, de economia mais frágil e onde não se soube, a tempo, travar o caminho errado do desenvolvimento económico pressionado pela abertura desregulada dos mercados, que favoreceu logicamente as economias mais poderosas. Quem na altura própria  falou contra o Uruguai Round ( eu modestamente fui um desses) nem sequer foi ouvido ou então apelidado de comunista.

Hoje parece evidente que não voltará a haver trabalho digno para todos os milhares de desempregados - aqui como na restante Europa e, o que é mais preocupante, no resto do Mundo.

Ora não pode haver democracia em sociedades onde cada vez maiores percentagens da população não tem de que viver - não haja ilusões. Pode acontecer uma pequena melhoria de alguns sectores da actividade económica, poderá  haver alguma estabilidade no sector terciário, mais nuns países que noutros, mas isso não resolverá o fundo da questão básica : não haverá estabilidade de trabalho qualificado que chegue à população trabalhadora.

Os acontecimentos em curso no Norte de África e em todos o mundo islâmico não são essencialmente de cariz religioso, embora se possa verificar o aproveitamento nesse sentido - são alguns milhares de pessoas  que tiveram acesso a uma formação académica mais elevada e muitíssimos outros mais sem qualquer formação profissional, que não tem trabalho.

A maioria dos países muçulmanos situa-se em regiões de forte aridez e onde, para além do petróleo e do gás, não abundam outros recursos; tradicionalmente uma agricultura de subsistência, a pastorícia e o comércio sustentaram as populações ao longo dos séculos, sempre num nível de vida precário. Não existe uma tradição cultural democrática como no Ocidente, porque nem a religião  evoluiu  como as religiões cristãs, nem as economias possibilitaram uma emancipação das pessoas como indivíduos - tirando os magnates que sempre viveram a vida segregada nos palácios e haréns.

As religiões são datadas, têm um  tempo em que surgiram, adaptadas a esse tempo e às condições sociais e culturais dos povos em que se implantaram. As igrejas cristãs, em especial e primeiro a Igreja Católica,  acompanharam, embora a custo como sabemos, a evolução da mentalidade social, século após século - mas o Islão ficou preso às suas origens e até se foi fechando sobre si mesmo, cada vez mais. Houve um vislumbre de abertura nos tempos do Al Andaluz, Córdova e Silves, que se desvaneceu. Mas não é aqui a altura para reflectir sobre isso.

Portanto não devemos ter grandes esperanças na chegada da "democracia  ocidental" a estes países que não têm possibilidade de alimentar e dar condições de dignidade individual aos seus milhões de habitantes, e por outro lado o egoísmo e falta de solidariedade de certos Estados ricos como as monarquias do Golfo que, por exemplo, não mexem um dedo para ajudar a Palestina.  

Explorados, durante séculos de crescimento económico europeu, pelos países que os ocuparam até estes serem forçados a conceder-lhes a independência, agora, e perante a lei corâmica, só através de regimes autoritários assentes na paideia islâmica que interliga de forma inequívoca a vida civil e a vida religiosa, mesmo quando são ditaduras laicas, é possível manter alguma "estabilidade instável". Quando é que os mais de 80 milhões de egípcios  encontram trabalho digno?  E os milhões de argelinos ( mesmo assim com mais recursos)? E os milhões de iemenitas? Etc, etc...

Com acesso à mundialização dos conhecimentos, dos avanços tecnológicos e do consumismo que os países ocidentais ostentam e com o impulso gigantesco que lhe é dado pela política chinesa, milhões de seres humanos,  muçulmanos mas também  cada vez mais asiáticos e africanos vão querer muito mais do que aquilo  que hoje tem. Por outro lado os recursos do planeta estão achegar a limites inultrapassáveis   Então  como governar essa crescente insatisfação sem qualquer perspectiva de que as respectivas economias cresçam significativamente? E a fome e a revolta, como se enfrentam?  O consumismo é a causa das desgraças do mundo actual - por isso os regimes autoritários serão a via mais evidente, talvez mesmo a única via. 

A instabilidade social permanente e a violência nos países muçulmanos e do chamado terceiro mundo não é compatível com uma democracia tal como a temos conhecido.  Mas cá também...

Na verdade em muitos países europeus a falta de trabalho vai continuar enquanto não houver uma mudança radical do tipo de economia que se pratica em todo o mundo, enquanto não se retomar, em cada país e em cada cidadão, a consciência de cultivar cada palmo de terra e de saber viver dela  com perenidade ( e hoje as tecnologias permitem e facilitam esse trabalho); enquanto não se voltar ao mar e se libertar este da poluição que o asfixia; voltar á pesca e à aquacultura ecológica - e existem milhões e milhões de pessoas em regiões que não têm acesso ao mar e querem comer peixe, a qualquer preço; enquanto não se voltarem a reorganizar as sociedades humanas não se conseguem empregos para a grande maioria e, sem emprego, não se consegue paz  social.

Só ainda não há um regime autoritário em muitos países como o nosso porque a UE tem travado essa eventualidade. Mas até quando ?

....

Transcrevi estas reflexões  dum texto que escrevi em Fevereiro de 2011, e constato que poderiam ter sido escritas hoje, tal a actualidade daquilo que eu penso sobre a vida e o mundo nos nossos tempos. Mas agora temos um novo e grave acontecimento, dos maiores que a Humanidade já viveu nos tempos modernos : a pandemia.

A pandemia veio revelar  com maior nitidez o emaranhado de interdependências que foram criadas nas últimas décadas, e como as políticas neoliberais praticadas em todo o mundo e o capitalismo selvagem praticado pela China, tem contribuído para levar o planeta aos limites da rotura - não é fantasia, não é pessimismo. O paracetamol,  que todos consumimos no mundo inteiro, é apenas fabricado na Índia !

O famoso Stephen Hawking escreveu "somos todos navegantes do Tempo "  e o tempo acelera-se para todos nós.

Já há uns dois ou tres anos o Prof. Joseph Stiglitz, Prémio Nobel da Economia em 2001, sobre o que passava no ocidente e no mundo em geral,  escreveu: "O neoliberalismo prejudica a democracia há 40 anos. Os efeitos da liberalização do mercado foram particularmente odiosos...". E ainda ; "Após 40 anos os números estão aí : o crescimento diminuiu e os frutos desse crescimento foram na sua esmagadora maioria para um punhado que está no topo. À medida que os salários estagnavam e o mercado de acções subia, o rendimento e a riqueza espalharam-se para os mais ricos, em vez de se espalharem para os mais pobres",

E em Março de 2020, em plena pandemia, Nuno Monteiro, Professor em Yale, deixou este alerta: " A curto prazo a actual crise poderá evoluir para situações de calamidade humanitária quando a pandemia  atingir países mais pobres e, particularmente, populações de refugiados, designadamente as que decorrem das guerras na Síria e no Afeganistão".

Hoje fala-se no século XXI como o século das pandemias, as condições do planeta, a Natureza sobrecarregada e com os seus esquemas inatos de sacudir o que está a mais, as megalópolis chinesas, indianas, africanas, mexicanas, latino americanas, são tudo factos  que se congregam contra a Humanidade . E voltando como comecei em 2011, as democracias começam a ruir até na Europa, vejam-se a Hungria, a Polónia, o que já diz o Presidente da Eslovénia, repare-se no czarismo espúrio da Rússia - os países do leste europeu, que nunca conheceram duradouramente a  modernidade da Revolução Francesa, e viveram décadas sob a escravatura das "democracias populares"  comunistas ( eu visitei algumas...) serão os primeiros a cair. Depois veremos os outros...

Stiglitz fala também  isto : " O único caminho  a seguir, o único caminho para salvar o nosso planeta e a nossa civilização é um renascimento da História. Temos de revisitar o século das luzes..."

Fica a esperança












quinta-feira, 8 de julho de 2021

 Hoje Edgar Morin

Edgar Morin comemora hoje. 8 de Julho,  100 anos de uma vida da maior relevância no mundo :   o seu olhar sobre a precaridade dos equilíbrios do Planeta, a suas reflexões sobre os laços entre os vários  grupos da Humanidade e a sua consciência tão claramente explícita sobre dimensão do ser humano, fazem dela uma daquelas vozes que clamam no deserto e que um dia chegará aos ouvidos da multidão, Só esperamos que não leve muito tempo a chegar esse dia.

Sobre o problema israelo-palestiniano, Edgar Morin escreveu :"è a consciência de ter sido vítima que permite a  Israel tornar-se o opressor do povo palestiniano." E, cito de memória , a shoan que significa o destino de vítima do povo judeu, banalizou  todos os outros massacres de outras minorias, deixando aberto o caminho para o apartheid e os gettos de palestinianos.


Disse em tempos o Arqº Nuno Portas que o início da década de 20 - 21, 22, 23 - forneceu uma fornadas de gente memorável, pois para Portugal são dessa  época José Augusto França, Gonçalo Ribeiro Telles, Teotónio Pereira, Fernando Távora, João de Freitas Branco, etc.







sábado, 3 de julho de 2021

 Governo e remodelação

Andam todos os comentadores a falar da remodelação do Governo, que "é inevitável", e apontam-se os ministros a derrubar como se um político  batido e autoritário como é António Costa fosse nas cantigas dos "mal dizentes"... Mas  salvo erro da minha parte não vi ainda apontar a necessidade de remodelar o Governo naquilo que deveria ser essencial, que é o futuro a médio e longo prazo do País como território sustentável e perene.  Agora é mais uma vez o Eduardo Cabrita, que se houvesse da parte do  Primeiro Ministro um pouco de respeito pela ética pública e pelo povo que ele diz servir ( e ainda o povo da esquerda!..) já teria saído há muito tempo - se não saiu nessa altura não vai ser agora. E apontam outros ministros do que dá mais para falar, daquilo do dia a dia  - ninguém se preocupa com as políticas de médio e longo prazo, aquelas que não  dão votos imediatos nem resultados *a vista desarmada" e são as políticas agrícola e florestal e a  ambiental, nesta incorporando como essenciais o ordenamento do território ( sem favores aos clientes...) e a Conservação. A orgânica do Governo e a sua dimensão deveriam ser drasticamente pensados para o longo prazo - mas é pedir muito, Costa nunca dá o braço a torcer e todos os anos, ano após anos, vemos os fogos florestais prosseguirem, vemos os eucaliptos a aumentar, vemos a inércia em relação a uma política de Conservação eficaz e realista, não vemos preparar a agricultura para as alterações climáticas que aí estão todos os meses a  mostrar o que valem - nada acontece no Governo português.

Só Miguel Sousa Tavares, no Expresso, tem apontado o dedo de forma veemente e acertiva a esses Ministérios e aos respectivos medíocres que os representam hoje. De resto vemos painéis de comentadores, lemos crónicas de outros comentadores encartados e todos se focam na espuma dos casos pequenos do dia a dia e a que A. Costa corresponde com um enfático encolher de ombros.





quinta-feira, 1 de julho de 2021

 De novo pronto para umas notas

Mas hoje fico-me apenas por  um episódio.


Há um mês que deixei de  escrever no blogue, vou retomar com a assiduidade possível, e embora goste e pretenda que alguns amigos as leiam, a verdade é que escrevo estas notas para mim, para guardar as memórias que ainda vou tendo, para memória futura...
E começo mostrando a  capa do livro que escrevi e foi apresentado no dia 26, último sábado de Junho, dedicado ao Gonçalo Ribeiro Telles. 
Tinha escrito apenas um ensaio  curto sobre o Homem e a Obra do meu mais devotado e velho Mestre, Amigo e Companheiro de uma vida - pois  desde 1962  que o conhecia e com ele lidava de perto. Mas o Arqº Filipe Jorge da Argumentum empenhou-se logo em fazer um livro de memorias que em princípio devia sair no dia 25 de Maio, quando o Gonçalo fizesse 98 anos.  Ao meu Amigo monárquico popular, que dizia frequentemente que, se tomasse uma bica com cada português ( ele que tomava várias bicas por dia) convencia-o a ser monárquico como ele, e eu respondia invariavelmente que não dissesse aquilo quando eu estivesse presente porque passavam as décadas e eu nunca deixei de ser republicano. " Tu és um republicano mas não és jacobino e tens boas ideias com quem gosto de discutir" - e discutíamos muito, no bom sentido.
Era um ensaio com o qual queria fechar o ciclo GRT, pois não penso voltar a escrever e a falar dele porque tudo quanto eu tinha para dizer já está dito e escrito e vão continuar a surgir opiniões, aproveitamentos, textos e mais discursos, até políticos a dizerem maravilhas dele, tudo numa amálgama de intenções, umas hipócritas outras sérias e demonstrações de afecto verdadeiros e elevados com outros de quem apenas apanha o comboio e se serve dele para justificar até  aquilo que ele, GRT, nunca faria nem diria. 
É natural,  a sua grande projecção de figura nacional de primeira água não escapa a esses movimentos  de opinião.  Ninguém se pode ou deve arrogar a postura de herdeiro ou especial intérprete de quem foi GRT - mas o Tempo, o grande  escultor que Marguerite Youcenar denunciou,  é que ditará o seu lugar na escala dos valores portugueses na História. Ele que brincava com as agressividades que por vezes lhe dirigiam, ao longo da longa vida , por exemplo com os ataques da esquerda durante aquele inigualável PREC de 1975. O PCP atacava-o no "Avante" mas respeitou-o sempre; e a quando da discussão sobre a central nuclear para Ferrel, apenas o PPM e o PC se manifestaram contra e quando um jornalista lhe perguntou se não se sentia incomodado por ter só os comunistas a seu lado, ele respondeu que "antes vermelho que morto".
Já o mesmo se não dirá da chamada esquerda revolucionária para quem as suas utopias eram frouxas e seriam contrárias â renovação das "mentalidades revolucionárias" -  e nesse sentido uma das  coisas com mais piada saiu de alguns colaboradores próximos do Gonçalo, que até aí o endeusavam, mas  que, envolvidos naquele élan super marxista  e super tudo, em Novembro de 75 elaboraram uma lista de saneamentos, que eu  tive na minha mão, com o Gonçalo â cabeça  e a seguir eu, que era Chefe de Gabinete, o Luís Coimbra que era adjunto e até a Elvira, a simpática e  dedicada secretária.  Eu, nos últimos temos da sua vida, recordava às vezes, esse episódio com o Gonçalo e ele ria mas achava apenas uma brincadeira; e o Luis Coimbra disse-me há tempos que, como  não temos documentos que o provem -  a tal lista que tivemos na mão desapareceu -  fica apenas a nossa memória e a piada que tem perceber como certos  espíritos se "adaptam" tão facilmente aos excessos de revolucionarite anti- burguesa... Mas foram os tempos mais entusiasmantes que mereceram ser vividos!! Felizmente em 25 de Novembro a coragem de Ramalho Eanes e a capacidade organizativa e influência política esclarecida de Melo Antunes deitaram por terra esses "arrotos" de revolucionarite  aprendidos à pressa em  manual de instruções oportunistas, a que meninos e meninas, burgueses até dizer chega (!!), se viam envolvidos ...
Nesse livro outras memórias ficarão gravadas, como o pormenor do resto de calçada de vidraço que esteve implantada na Avenida da Liberdade no troço que se estendeu do Marquês até à Rua Alexandre Herculano e foi mandado destruir pelo General França Borges Presidente da C M de Lisboa, que levou à demissão do GRT da Câmara Municipal. Ninguém já se lembra disso...
Por hoje chega