11h 15
Morreu Otelo
Só soube agora, acabo de ler a notícia de que faleceu Otelo, nem é preciso acrescentar mais nada ao nome.
Portugal democrático deve-lhe a liberdade. deve-lhe o sucesso da operação militar que derrubou a mais velha e caquética ditadura da Europa, deve-lhe um planeamento operacional que apanhou os generais do regime de "calças na mão", os governantes a borrarem-se de medo .
Outros tres militares foram cruciais, o Ernesto Melo Antunes. de quem fui amigo muitos anos antes e que continua esquecido, o cérebro e a motivação política dos militares que, por natureza, não eram muito versados em ideologias; Salgueiro Maia que arriscou tudo naquela madrugada nova e límpida, que até já foi criticado por outros militares por, sensatamente, não ter querido abrir fogo no Largo do Carmo e dar ali lugar a um banho de sangue naquela tarde de glória; e Ramalho Eanes, que simbolizou o bom senso e a coragem física do democrata intransigente, quando os extremistas ameaçavam dar cabo da jovem liberdade instituída para impor outro tipo de liberdade "deles" - quem é desse tempo não esquece.
Mas foi o Otelo quem planeou e improvisou, quando o plano às vezes falhava, o golpe misericordioso sobre o decrépito regime. Fez disparates, disse tolices, foi utópico e mal informado, foi sim senhor, mas tudo isso é próprio do seu espírito irrequieto onde apesar de tudo não faltou também o bom senso quando percebeu que o caminho dele não tinha saída.
Virão agora algumas avantesmas da direita dizer cobras e lagartos, e alguns anquilosados da esquerda farão o mesmo. Os extremos tocam-se, a todos eles falta a ânsia, o fervor e a lucidez de viverem numa democracia sem mais alcunhas ou cognomes.
O 25 de Abril é de toda a gente, da esquerda e da direita, ninguém é dono dele, mas tenham lá paciência e engulam mesmo a custo - foi feito e defendido pela esquerda; eu da direita conheci alguns da ala liberal do regime anterior, não me dei com Sá Carneiro mas dei-me com Magalhães Mota e outros do grupo, esses sim quiseram mesmo o 25 de Abril. O resto da direita não teve outro remédio senão ajeitar-se ...
Recordaremos o Otelo, vamos ler as diatribes que vão ser escritas sobre ele por alguns "historiadores" acantonados a gente sabe onde, mas para quem quer a liberdade acima de tudo, a liberdade burguesa que o proletariado também disfruta, para esses é o herói que desaparece. E a História dos factos, não a das ideologias, já lhe reservou o lugar,
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