segunda-feira, 12 de julho de 2021

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A História mal tratada

Há demasiado tempo que se assiste aos tratos de polé a que a História de Portugal tem vindo a ser sujeita, nomeadamente  com autores que assinam como historiadores.

Eu não sou historiador, mas estudei sempre muito essa disciplina, tenho uma razoável pequena biblioteca de História e sou, acima de tudo, um cidadão português activo e interveniente que quer contribuir para uma massa crítica na opinião pública, e que continua a faltar no nosso cantinho lusitano - e por isso se sofrem as lógicas consequências.

A História faz-se no dia a dia e sempre se fez com os actos praticados pelos povos e seus dirigentes, de acordo com as leis e costumes de cada época. Interpretar a História hoje, de acordo com as convicções ideológicas de cada "historiador", é tudo menos dar a conhecer a História e não faltaram ao longo dos tempos os "senhores da verdade" que sempre tentaram reescrever a História de acordo com os seus limitados e deturpados interesses.

Está na altura de dizer basta, deixem-se de discussões parvas como algumas a que temos assistido e revelam o enviesamento das mentalidades, para a esquerda e para a direita. Quando se lêem textos e afirmações de um Loft ou de uma Bonifácio, para citar apenas dois nomes, ficamos esclarecidos.

Está na moda, que não é só portuguesa, de se pedir desculpa  pelos factos cometidos há séculos pelos nossos antepassados, seja colonialismo seja escravatura; é outro redondo disparate nos moldes em que é praticado. Defender hoje qualquer justificação para a escravatura - que continua a praticar-se, com outra designação, como temos visto cá pela terra...- é um crime e sem desculpa. Mas historicamente todos os povos e culturas praticaram a escravatura, K. Marx fixa-a como um período da evolução da economia.

Aqui há uns anos estive na ilha de Goreia, no Museu da Escravatura, eramos dois portugueses num grupo de franceses e o cicerone explicava o negócio negreiro apenas dos portugueses. No fim pedi a palavra e no meu arrazoado francês disse ao sujeito que na sala havia um painel com os nomes dois principais negreiros, eram franceses, holandeses,  ingleses, mas nenhum era português. Ele embatucou. E acrescentei que os navios chegavam às praias e não desembarcavam tropas para irem arrebanhar homens - eram os sobas e chefes das aldeias que os traziam à praia e os vendiam, todos sabem isso,

Já algum chefe africano de hoje pediu desculpas por os seus antepassados terem vendido os seus próprios cidadãos? O sujeito voltou a embatucar e ficou  mudo...

Animistas e muçulmanos praticaram a escravatura; os árabes eram mestres nesse negócio - já algum dirigente ou chefe religioso muçulmano pediu desculpa por isso? Se calhar fui eu que não ouvi ou li ...

Quando lemos certas tiradas demagógicas de ideólogos ditos historiadores, mais apreciamos a independência intelectual de personalidades que nos ensinaram a História e cito apenas dois, Vitorino Magalhães Godinho e José Matoso. 

Que se desvirtuam as interpretações históricas para servir regimes autoritários, sempre aconteceu, e  a mente humana conserva atavismos pelos séculos fora - se Zoroastro viveu quinhentos anos aC e ainda hoje há milhares de zoroastrianos, não espanta que depois dos crimes de Hitler ainda haja nazis, depois de Estaline ainda haja estalinistas e, à nossa escala, que depois da noite negra do Estado Novo ainda haja quem enalteça o salazarismo e a "grandeza" de estadista de Salazar.

Realmente crime é andar ao arrepio da História com fez Salazar ao manter as colónias em pleno século XX, com a  hipocrisia de lhes chamar Províncias Ultramarinas, quando todos os países civilizados já estavam a descolonizar - e até Portugal tinha dado o exemplo em pleno século XIX com a independência do Brasil. Agora, em vez de fazerem grandes manifestações contra os "descobrimentos" ou "achamentos", recordem mas é a ciência das navegações e o Tratado de Tordesilhas, como exemplos de tecnologia avançada  e de conhecimento científico que nem os vizinhos espanhóis percebiam porquê...

A História faz-se com factos realizados em cada época e estes só são criminosos quando são feitos ao arrepio da evolução da vida  e da História.









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