quarta-feira, 21 de julho de 2021

 De repente o mundo parece acordar para as alterações climáticas. Depois das muitas dezenas de vítimas de fenómenos extremos no centro da Europa, aqui mesmo ao pé da nossa porta, em países que se supõem super civilizados e super organizados, eis que as vítimas passam para os milhares na China; todos os anos há incêndios rurais nos EUA. este ano o país está estupefacto com a violência, a frequência  e a extensão dos incêndios.

----

Ecologismo e Partidos Verdes na Europa e em Portugal

Alguns ainda se lembram como o Maio de 68 foi o arranque para preocupações políticas até aí ignoradas, mesmo na Europa mais avançada, pois por cá estávamos em plena noite negra do salazarismo. E entre essas novas preocupações (de resto poucas vezes invocadas quando se fala naquele movimento libertador começado em  Paris ) estavam a causa ecologista,  a denúncia da sociedade de consumo e outros valores da modernidade.

A importância dos Partidos Verdes tem vindo a subir em toda a Europa e vale a pena destacar a Alemanha onde já são a segunda força política,  deixando para trás os social-democratas - o que não deixa de ser curioso pois, tal como em Portugal, os social democratas ou socialistas democráticos não foram capazes de incorporar as preocupações ecológicas, o que é um contra-senso já que  a esquerda democrática contemporânea é internacionalista e ecologista - ou não é esquerda.

Em Portugal continuo a denunciar que a grande machadada na força do movimento ecologista  foi dada pela criação do Partido Os Verdes, apêndice do PCP  e que absorveu  símbolos e a retórica ecologista, tendo contraído os movimentos de cidadãos que na altura estavam a tentar organizar-se como força para entrar na luta política. Em 1982 sucediam-se várias reuniões de activistas, fruto da grande diversidade de opiniões e de posicionamento de pequenos grupos, quando andavam a ser recolhidas assinaturas para o referido Partido. Eu mesmo escrevi na Capital um artigo em que se denunciava os melancias que eram verdes por fora e vermelhos por dentro.

Ser ecologista e activista pelo Ambiente não é compatível com qualquer tipo de ditadura seja a do proletariado e a sua democracia "popular" ou a democracia "orgânica" apregoada pelo Estado Novo.

Transcrevo aqui um  Manifesto com data de 14 de Junho de 1982, assinado por mim e pelo João Reis Gomes:

"Sendo ao que parece facto consumado a formação, muito em breve, de um auto-cognominado "partido dos verdes", entendem algumas pessoas ser o momento de reflectir sobre este dado "novo" na conjuntura da confusão nacional e agir em conformidade.
Por isso sugerimos aos interessados nessa reflexão que compareçam numa reunião  marcada para o dia 18 deste mês. às 18 h, no Centro Nacional de Cultura, Rua António Maria Cardoso 13 - 2º, em Lisboa.
 Parece ser altura de se fazer um esforço por parte dos ecologistas, para criar uma frente comum, pondo de lado, provisoriamente que seja, as diferentes sensibilidades que nos têm dividido, para uma conversa sobre o essencial. Sugerimos por isso alguns pontos para o diálogo:

- Viabilidade de se concretizar muito rapidamente uma frente de ecologistas independentes ( não alinhados com nenhum dos "soi disant" partidos ecológicos, um formado e o outro em (de)formação;

- Viabilidade de preparar um projecto ( programa) de ecologistas independentes, onde as várias sensibilidades participem e se façam ouvir; 

- Criação de um Grupo de Arranque que leve à prática as acções necessárias;

- Viabilidade de multicopiar regularmente (*) uma colecção de textos para o diálogo, como forum de propostas que as várias tendências do ecologismo  independente entendam urgente impôr ao Poder, para fazer avançar em Portugal uma democracia ecológica. Uma das acções do Grupo de Arranque será estimular a produção de textos com eco-propostas, multicopiá-los e enviá-los a quantos se inscreverem como interessados em recebê-los regularmente;

- Viabilidade de um Encontro alargado, até ao fim do ano, para dialogar sobre os textos trocados e dos quais será obtido um texto - síntese final para apresentação a todos quantos detém um parcela do Poder e da responsabilidade política deste País."

Enquanto os utópicos militantes ecologistas sem partido andavam a reunir, - e recordo, entre outros, o saudoso Afonso Cautela -  sabíamos que andavam a ser recolhidas assinaturas para o tal Partido  VERDE e sabíamos quem é que andava a fazer essa recolha. No inicio até houve uma dirigente com simpatia, credibilidade e competência, a Engª Maria Santos, não sei se alguns se lembram - nunca mais ouvimos falar dela.

O certo é que, para mim e creio não estar sozinho,  a formação deste Partido bloqueou  qualquer partido ecologista.  fez passar a ideia de aproximação ideológica entre ecologistas e comunistas, e nunca mais se conseguiu desfazer essa confusão - ao contrário da Europa onde os Partidos Verdes têm cada vez maior audiência e independência.

 O Partido Verde português nunca se apresentou sozinho em publico, nunca concorreu a eleições sozinho, ninguém sabe o que ele vale em termos de opinião pública e ninguém o vê entrar em posições  claras,  publicas  e francas para além de palavras de retórica. Têm direito a existir ? Claro tem esse direito, o que se lamenta é que não exista em Portugal uma formação Política verdadeiramente ecologista e desempoeirada . mas  è o que temos...

Agora com a demonstração das alterações climáticas a caírem em cima das nossas cabeças vamos ver o que os Partidos do Poder serão capazes de fazer - porque até à data ter este Ministério do Ambiente ou não ter nada é o mesmo,  Continuar a assistir ao rebentar de fogos rurais  sem termos  ( cá vou bater a tecla pela enésima vez...) uns Serviços Florestais a sério e uma  política florestal a sério, é  apenas uma grande tristeza,,, Dentro em pouco será uma grande desgraça, diria a cassandra...

(*) Não havia net, nem telemóveis...










Sem comentários:

Enviar um comentário