A Madeira, o fogo e a água
Estive mais uma vez na Ilha da Madeira, para corresponder a um honroso convite e participar nas Jornadas da Paisagem com que se comemorou o Dia do Ambiente, 5 de Junho. Foi uma organização muito bem conseguida, que envolveu painéis com pessoas muito qualificadas que deram às Jornadas um elevado nível de profissionalismo.
É gratificante ver como as preocupações com o Ambiente têm vindo a ganhar lugar no espírito de cada vez maior número de especialistas e gente do pensamento, enchendo o vasto auditório durante um longo mas profícuo dia de trabalho.
Preciso mesmo, agora, é que essas preocupações entrem cada vez mais na opinião publica em geral, nas pessoas comuns, pois só assim o Ambiente estará mais protegido. Educação Ambiental precisa-se em todo o nosso País...
A visita deu-me pouco tempo para olhar com atenção e pormenores os problemas que me afligem há anos das encostas e das ribeiras que na última década têm causado tantas tragédias na paisagem e nas pessoas madeirenses, mas ainda assim foi tempo suficiente para me aperceber de uma realidade confrangedora : não foi feito nada do que era essencial para corrigir as disfunções paisagísticas e diminuir as possibilidades de novas tragédias.
É um processo kafkiano : há uns anos ocorreram incêndios que destruíram grande parte do coberto vegetal das encostas que formam as cabeceiras das bacias hidrográficas: chuvadas diluvianas posteriores causaram as terríveis enxurradas que tantas vitimas e tantos estragos materiais ocasionaram. No Verão passado novos incêndios infernais consumiram o arvoredo de matas, jardins e de novo nas encostas, até das mais declivosas, das serras sobranceiras ao Funchal. As próximas grandes chuvadas vão causar novas enxurradas mais ou menos caóticas - é o ciclo infernal de fogo e água.
Era urgente - é urgente - intervir com eficiência em tres vertentes :
- preparar as encostas para reduzir os escoamentos violentos que dos altos picos acorrem às linhas de água em tempo de chuvas fortíssimas que aqui acontecem com frequência e sem aviso:
- proceder à sistematização dos leitos e margens das ribeiras, através de obras de correcção torrencial, que minimizem as consequências desastrosas das enxurradas com as toneladas de carrejos que transportam ;
-intervir sem falsos populismos na estrutura urbana das encostas da cidade do Funchal onde um crescimento anárquico reduziu as secções de vazão das ribeiras, ocupou leitos de cheias, criando estrangulamentos que são autênticas armadilhas para a segurança de pessoas e bens.
Pois as Autoridades nada disto têm feito, apesar de avisos sucessivos sobre a gravidade das situações potencialmente perigosas. Continuam a investir colossais somas de dinheiro nas muralhas das zonas da foz das ribeiras, como se fosse aí que estivesse a solução dos problemas. Custa-me a entender - e não só a mim -evidentemente - a incompreensão das Autoridades e a sua inacção perante a eminência de novas tragédias.
Alguns travessões construídos numa ou outra ribeira são apenas arremedos de controle das cheias, não servem para nada.
Mas se infelizmente voltarem a ocorrer novas tragédias com enxurradas infernais, havemos de voltar a ver as Autoridades a chorarem lágrimas de crocodilo e a pedirem à UE mais verbas para combaterem a tragédia.
Mas se infelizmente voltarem a ocorrer novas tragédias com enxurradas infernais, havemos de voltar a ver as Autoridades a chorarem lágrimas de crocodilo e a pedirem à UE mais verbas para combaterem a tragédia.
Não haverá um raio que ilumine aqueles políticos eminentes que não conseguem perceber que as ribeiras se corrigem a montante , nas cabeceiras , e os caudais se corrigem com obras criteriosas de correcção torrencial ? É assim tão difícil de entender ?
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